Quando as urnas de votação forem abertas neste domingo, os venezuelanos decidirão o futuro do país entre dois modelos bem diferentes. De um lado, o projeto de aprofundamento do chamado socialismo bolivariano, com maior presença do Estado em todos os setores da sociedade e incremento das organizações populares. De outro, uma proposta de estímulo à iniciativa privada e à independência dos poderes.
Pontos em comum praticamente não existem nas propostas do candidato à reeleição, Hugo Chávez, e do líder opositor Henrique Capriles, embora o governo Chávez não tenha eliminado o capitalismo.
"O que Chávez está tentando consolidar é um sistema de capitalismo de Estado, nos moldes da China", diz o sociólogo Túlio Hernández, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV) e colunista do jornal El Nacional.
Independentemente de quem vença, os desafios do próximo presidente não são poucos. Contra Chávez há uma grande insatisfação da classe média, de setores empresariais que não gozam dos agrados do governo, de pessoas que clamam por maior liberdade de expressão.
Com Capriles, candidato que pela primeira vez conseguiu reunir a grande maioria da oposição, há a resistência dos segmentos que se aliaram ao governo, apoiam o projeto socialista, tiveram ganhos com os programas sociais de transferência de renda e temem um governo que privilegie os setores corporativos.
"O próximo presidente deve governar para todos os venezuelanos, sem sectarismo nem exclusões. Do contrário não terá um piso de governabilidade e não conseguirá minimizar os protestos e a violência social", diz a cientista politica María Teresa Romero, professora da Escola de Estudos Internacionais da UCV.
Sem previsões
Ao contrário das disputas anteriores, a vantagem de Chávez foi sendo reduzida ao longo da campanha, chegando à reta final em situação imprevisível. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proibiu a divulgação de pesquisas eleitorais desde o dia 1.º. Os últimos levantamentos do Datanálisis, um instituto que faz pesquisas para empresas e diversas instituições, mostrou queda nas intenções de voto para Chávez, mas ele ainda ganharia as eleições com vantagem entre 8,6 e 11,8 pontos porcentuais.
O crescimento do apoio à oposição, que começou a se inserir nas classes mais pobres, reduto do chavismo, acirrou a campanha. Alimentada por uma mídia provocativa, tanto os veículos públicos quanto os meios de comunicação privados, a disputa entrou num clima de guerra, despertando o temor de golpes e violência.
A cisma de que quem perder não aceitará o resultado foi reforçada nos últimos dias pelas declarações dos dois rivais. Chávez acusa Capriles de querer desestabilizar o país e ter planos para não admitir a derrota. Na oposição há quem afirme que os chavistas não aceitarão deixar o poder e tentarão levar o país a uma guerra civil.
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