Acusações...

...contra o papa Francisco – de que teria sido, na melhor das hipóteses, omisso em relação às barbaridades da ditadura militar argentina – lembram as tentativas de vincular o papa emérito Bento XVI a outro regime totalitário, o nazismo. Logo depois da sua eleição, em 19 de abril de 2005, começaram a circular na imprensa denúncias de que o pontífice teria colaborado com o regime nazista na adolescência. Na realidade, como todos os jovens alemães da sua época, o então Joseph Ratzinger foi obrigado a ingressar na Juventude Hitlerista durante a Segunda Guerra Mundial, em 1943. Desertou um pouco antes de terminado o conflito.

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Em 2005

Advogado tentou incriminar Bergoglio, mas não conseguiu

Em 2005, antes do início do conclave em que o então cardeal Jorge Mario Bergoglio era favorito com o também cardeal Joseph Ratzinger, o advogado Marcelo Parrili entrou com uma ação na justiça contra o jesuíta procurando incriminá-lo pelo sequestro dos jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics, em 1976, mas não conseguiu provar a sua tese.

Na época, os cardeais receberam e-mails pedindo que Bergoglio não fosse escolhido para chefiar a Santa Sé, ação repetida no conclave deste ano.

Em novembro de 2010, Bergoglio testemunhou durante duas horas no maior julgamento da Argentina por violações dos direitos humanos na ditadura, quando explicou quais foram as ações feitas na época para libertar os dois jesuítas sequestrados, além de esclarecer histórias de outros perseguidos, informou o jornal La Nación.

Nada foi provado e Bergoglio nem chegou a ser indiciado. Em 2012, por iniciativa de Bergoglio, bispos argentinos pediram perdão pelos erros cometidos por católicos durante a ditadura. Jalics tem hoje 85 anos e vive na Alemanha. Segundo o porta-voz dos jesuítas, Thomas Busch, ele " está em paz com Bergoglio." Yorio já faleceu.

Especulações...

...davam conta de rápidas mudanças na cúria, a burocracia do Vaticano que tem estado no centro de denúncias de corrupção.

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O papa Francisco enfrenta seu primeiro obstáculo no pontificado: esclarecer a opinião pública sobre o seu passado durante a ditadura argentina. O pontífice jesuíta é acusado na imprensa pelo jornalista Horacio Verbitsky, 71 anos, ex-guerrilheiro e kirchnerista, de ter colaborado com os crimes cometidos pelo ex-ditador Jorge Videla, entre 1976 e 1983, militar condenado à prisão perpétua em 2010 pela violação de direitos humanos.

Do conjunto de insinuações, a que mais pesa sobre Bergoglio é a acusação de ter sido cúmplice – ou pelo menos omisso – no sequestro dos jesuítas Francisco Jalics e Orlando Yorio, em 1976. Os dois foram torturados na Escola de Mecânica da Armada (Esma), em Buenos Aires. Bergoglio teria ainda negado ajuda para que Jalics conseguisse a renovação do passaporte quando este já morava na Alemanha. Seus detratores dizem também que o jesuíta deixou de prestar auxílio a desafetos políticos, inclusive quando filhos de desaparecidos foram roubados de suas famílias pelos militares – fato que deu origem à famosa Associação Mães da Praça de Maio.

Kirchnerismo

Depois dos ataques, várias vozes entre os perseguidos se levantaram em defesa do papa. "Bergoglio não teve nenhum vínculo com a ditadura", declarou Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz argentino e também vítima da ditadura. A Associação Mães da Praça de Maio, em nota, declarou dizer "amém" à eleição de Bergoglio, afirmando que ele representava a igreja do "Terceiro Mundo libertadora", não a "igreja oficial que se calou". Já os jornalistas Francesca Ambrogetti, da Ansa, e Sergio Rubin, do Clarín, autores da biografia oficial de Bergoglio, reiteraram em entrevistas a certeza de que o jesuíta nunca pode ser considerado um "colaboracionista" do regime militar.

Nem mesmo entre as pessoas que ajudaram a criar o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), organização não governamental nascida em 1979 para a promoção dos Direitos Humanos na Argentina, presidido atualmente por Verbitsky, existe consenso de que Bergoglio contribuiu de alguma forma com os militares. "É uma calúnia dizer que Bergoglio teve algum tipo de atitude favorável à repressão, muito pelo contrário. A atuação de Bergoglio foi pontual e firme. Assumindo as dores dos perseguidos como se fossem próprias, ajudou muitos deles às escondidas", declarou Alicia Oliveira, ex-advogada do CELS e de Verbitsky quando este foi indiciado por uma série de artigos escritos contra o ex-presidente argentino Carlos Menem.

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Para Roberto Bosca, especialista em História da Igreja na Argentina e professor de religião e política na Universidade Austral, o fato de Verbitsky ser um kirchnerista explica as declarações contra o papa. "Bergoglio teve uma relação difícil com os governos de Néstor e Cristina Kirchner, expondo publicamente sua opinião, sempre a favor dos pobres. É um homem que não gosta de esconder o que pensa e isso não agradou o casal Kirchner. Na mesma época, recrudesceram as acusações de Verbitsky contra Bergoglio, relacionadas à ditadura militar", recordou.

Bergoglio, segundo Bosca, é um homem distante da política. "Estudando com profundidade a história política da Argentina, o seu nome nunca aparece. Não é um homem ideológico, a favor ou contra um poder político. É um homem de paz, um religioso próximo das pessoas", disse. A respeito da acusação de que Bergoglio poderia ter feito mais durante a ditadura, Bosca acredita que não. "Começar a gritar quando se está diante de um assassino é algo irracional. Foram muitas as atrocidades nessa época. Para mim, Bergoglio escolheu o melhor caminho, garantindo a possibilidade de ajudar ocultamente a muitos", analisou.

Papa mantém cargos por enquanto

Das agências

O papa Francisco confirmou que os donos de altos cargos da Cúria vaticana, colocados em aberto automaticamente com a renúncia de Bento XVI, como estabelece a legislação da Santa Sé, serão mantidos provisoriamente, informou o Vaticano neste sábado.

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Há especulações de que o novo papa poderia fazer rápidas mudanças na cúria, a burocracia do Vaticano que tem estado no centro de acusações de corrupção e intriga.

"O santo papa Francisco expressou sua vontade de que os chefes e os integrantes dos dicastérios da cúria romana, assim como os secretários e também o presidente da Comissão Pontifícia do Estado da Cidade do Vaticano, prossigam provisoriamente em seus respectivos cargos 'donec aliter provideatur' [até que se defina o contrário]", informou o Vaticano em uma nota.

"Francisco deseja se reservar um certo tempo para a reflexão, a prece e o diálogo antes de qualquer nomeação ou confirmação definitiva", afirma o comunicado.

A tradição vaticana prevê que o novo papa confirme em seus cargos todos os responsáveis dos dicastérios, começando pelo secretário de Estado, e os mantenha durante um tempo. O período serve ao pontífice para preparar a equipe com tranquilidade e profundidade.