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Confissão

Cardeal escocês que renunciou admite conduta imprópria

O cardeal que até recentemente era a maior autoridade católica na Grã-Bretanha admitiu ontem que teve uma conduta sexual imprópria. O cardeal Keith O’Brien tinha renunciado na segunda-feira a seu posto como arcebispo de St. Andrews e Edimburgo, depois que um jornal publicou relatos de padres sobre seu comportamento inadequado.

A Igreja Católica da Escócia emitiu um comunicado no qual O’Brien admite que sua conduta sexual "ficou abaixo dos padrões esperados".

No comunicado, o cardeal pede desculpas às pessoas afetadas pela sua conduta imprópria, à Igreja Católica e ao povo escocês. "Agora, passarei o resto da minha vida em retiro. Não farei mais parte da vida pública da Igreja Católica", disse.

Em sua admissão de culpa, O’Brien não deu pistas sobre o que seria eu comportamento inapropriado.

Agência Estado

O time dos cardeais brasileiros já está no Vaticano para o conclave que elegerá o novo papa. Nos últimos dias, além de reuniões entre os cinco – Dom Cláudio Hummes, Dom Raymundo Damasceno de Assis, Dom Odilo Pedro Scherer, Dom João Braz de Aviz e Dom Geraldo Majella Agnello –, eles têm se encontrado com assessores, muitos deles brasileiros, que trabalham no Vaticano e moram em Roma, para obter informações úteis para a eleição do Sumo Pontífice.

A reunião de preparação do conclave que escolherá o sucessor do papa emérito Bento XVI começa hoje. Às 9h30 de Roma (5h30 de Brasília), os religiosos se reunirão pela primeira vez na Congregação Geral, convocada para discutir a transição no comando da Igreja. Na prática, este encontro serve como um termômetro da receptividade aos mais cotados para ser o próximo papa.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Dom Damasceno aborda, entre outros temas, os desafios da igreja diante do progresso científico-tecnológico, que "tem levado a mudanças cada dia mais rápidas, com muita influência na vida das pessoas". Dom Cláudio Hummes comenta a possibilidade de eleição de um papa brasileiro e diz que a questão geográfica não é determinante.

Entrevista 1

"Há muitos desafios no âmbito da família, juventude e economia"

Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Quais serão os principais problemas ou desafios que o senhor enfrentará se eleito?

Vivemos em um momento histórico em que os desafios são inúmeros. O progresso científico-tecnológico tem levado a mudanças cada dia mais rápidas, com muita influência na vida das pessoas. Bento XVI assinalava o relativismo. Não há mais verdade permanente. O mundo está cada vez mais globalizado e ao mesmo tempo marcado pelo individualismo. Cada um procura levar a sua vida, realizar-se independentemente dos outros. Muitos procuram a realização erroneamente no consumo de bens materiais, vivem o dia-a-dia com toda intensidade, mas esquecendo da solidariedade. De modo que são muitos os desafios no âmbito da família, da juventude, da economia, da política. Por isso a Igreja necessita da união dos cristãos, dos católicos coerentes com a fé que proclamam. Somos instrumentos para a transformação de uma sociedade justa, humana e solidária.

Está na hora de um papa americano? O senhor acha que a Igreja está preparada para isso? Um papa brasileiro está preparado para enfrentar os problemas internos da Igreja, como os casos de pedofilia do clero, correntes políticas de poder, desvio de verba, funcionários corruptos, como o mordomo de Bento XVI?

A eleição é sobrenatural mas também se apóia no humano. Sem dúvida, a origem do papa não é o mais importante. Nós, os cardeais, procuramos identificar com a luz do Espírito Santo, o que é o melhor para a Igreja e para o mundo. Mas, seria muito oportuno, sim, um papa americano, pois a América reúne 44% dos católicos do mundo. É o continente onde o catolicismo mais cresce. Quem sabe nos desejos de Deus está este designio. Se for essa sua vontade, vamos nos regozijar!

O senhor acha que estes problemas de corrupção e desvios morais sempre existiram na Igreja e que agora estão mais evidentes pela transparência que parece ser a palavra de ordem na era digital, no século 21?

Vivemos em uma época em que os meios de comunicação permitem mais transparência e a sociedade exige isso. Mas, a Igreja não pode ser vista só como uma instituição ou sociedade humana. A Igreja é divina e humana. Como dizia Bento XVI, é um corpo vivo, animado pelo Espírito Santo, onde a cabeça é Jesus Cristo e os membros somos os cristãos batizados, espalhados pelo mundo. Mas, a Igreja está sujeita a falhas porque seu lado humano é limitado. Umas vezes, caminhamos com luz e brilho, outras, com sombra. Na Igreja há momentos de sombra devido às limitações do ser humano. E, realmente, se exige cada vez mas transparência da Igreja. Não basta proclamar a fé, mas é necessário manifestá-la no dia-a-dia. A Igreja será mais bela se todos os cristãos vivermos coerentes com o Evangelho, se refletirmos a luz de Jesus Cristo. Os momentos de crise nos convidam à conversão na fé em Jesus Cristo.

O senhor é reconhecido como uma pessoa que transmite serenidade e simpatia em seu ministério cardinalício. Então, poderemos ter um papa muito simpático... um papa brasileiro.

(risos) Muitos no Brasil estavam torcendo para eu ser papa. E me diziam – o senhor vai ser papa, o senhor vai ser papa... Mas, depois que viram tanta "complicação" nestes últimos tempos, não querem mais não... Mas, sem dúvida, um de nós [cardeais brasileiros que participarão do conclave] poderá ficar, claro.

Entrevista 2

"A questão geográfica não é determinante na escolha"

Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo

Em sua opinião, quais os principais motivos da renúncia do papa Bento XVI?

Muitos deles são problemas que o próximo papa terá que enfrentar. O próprio Bento XVI colocou as razões, os motivos pelos quais estava renunciando. Sentia-se fraco física e espiritualmente e decidiu renunciar para que outros possam assumir a Igreja com o vigor de que ela necessita. Ele não se referiu a nenhum outro aspecto específico.

Parece que a saída dos tradicionalistas foi um dos grandes desgostos de Bento XVI.

Pode ser, mas assinalar isso como causa principal é pura especulação.

Como todo cardeal que participa do conclave, o senhor poderá ser eleito papa...

Em tese, todo homem cristão pode ser papa, contanto que aceite ser ordenado Bispo de Roma. Mas, vamos começar as reuniões preparatórias do conclave, onde naturalmente conversaremos de forma direta, entre todos os cardeais. E tudo que será conversado e dito permanecerá em segredo. Nesses dias as coisas vão se especificando.

Para quem tem fé, a Igreja é uma instituição divina e humana...

Sim, como Jesus Cristo que é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

Muitos abordam tendências para a eleição do novo líder da Igreja, como a linha daqueles que desejam um papa americano, afinal a América reúne 44% dos católicos do mundo. Mas, a Igreja está preparada para isso? O senhor imagina um papa brasileiro?

A questão geográfica não é determinante. Existem outros critérios muito mais fundamentais, como ser um homem de fé, capaz de dirigir a Igreja no momento histórico atual de turbulências. O Espírito Santo vai nos ajudar a discernir. Se fosse um brasileiro, eu ficaria feliz. Se fosse um latino-americano, eu ficaria feliz. Se fosse um africano, eu ficaria feliz... Esse é um critério secundário. Mas, por outro lado, é verdade que outros critérios menores podem ter certo peso. Vamos ver isso no conclave.

A evolução tecnológica tem provocado mudanças socias cada vez mais rápidas e a Igreja...

[cortando a entrevista] A Igreja faz parte da história, deste mundo com grande desenvolvimento científico-tecnológico, mas cheio de relativismo, de laicismo. Por isso tem que ser ágil para iluminar o mundo. Ela não veio para condenar, mas para salvar.

Estes são os desafios da Igreja: ser uma luz no mundo.

Bem, minha filha, eu prefiro parar por aqui aqui. Boa noite.

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