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Pressão

Vítimas de pedofilia divulgam lista

Folhapress

Uma associação americana de vítimas de abusos sexuais por padres pedófilos publicou ontem uma lista de "papáveis" e exortou à Igreja Católica a levar a sério a proteção das crianças, a ajuda às vítimas e as denúncias de corrupção.

"Queremos dizer aos prelados católicos que deixem de fingir que o pior já passou" sobre o escândalo de pedofilia dentro da Igreja, declarou David Clohessy, diretor da Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres (Snap, por sua sigla em inglês).

A organização citou uma dúzia de cardeais acusados de proteger os padres pedófilos ou por terem feito declarações defendendo os padres ou minimizando a situação.

Descontentes com a publicação de reportagens com críticas ao Vaticano, os cardeais que participarão do conclave baixaram ontem uma lei do silêncio e se comprometeram a não dar mais entrevistas até a escolha do novo papa.

Nos primeiros dois dias de reuniões pré-conclave, quando os eleitores ainda podem circular fora dos muros do Vaticano, os americanos deram entrevistas coletivas e defenderam políticas mais duras para punir religiosos acusados de irregularidades.

Ontem, eles foram forçados a cancelar um novo encontro com jornalistas e divulgaram uma nota. O texto, de apenas duas frases, diz que "os cardeais dos EUA têm compromisso com a transparência".

A nota acrescenta que os americanos transmitiram apenas "visões gerais" dos encontros, sem desrespeitar as normas de sigilo sobre o processo de sucessão do papa emérito Bento XVI.

O voto de silêncio também valerá para cardeais de outros países, que ontem passaram a evitar os jornalistas.

"Nós entramos num período de reflexão e decidimos não dar mais entrevistas até o conclave", disse o canadense Thomas Collins, arcebispo de Toronto.

O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, negou uma ordem superior para calar os cardeais, mas deixou claro que o comando da igreja estava insatisfeito com a decisão dos americanos de falar sobre os debates.

"O caminho para o conclave é uma situação particular. Aqui não é um congresso ou um sínodo, onde precisamos dar o máximo de informações possível. É um caminho de reflexão e de reserva", afirmou.

O mal-estar no Vaticano se agravou com reportagens de jornais italianos que relatam supostos protestos de cardeais contra a falta de informações sobre a investigação do escândalo dos "VatiLeaks".

De acordo com o La Stampa, parte dos eleitores está insatisfeita com o cardeal Julián Herranz, que chefiou a investigação a pedido do papa emérito Bento XVI e estaria se recusando a compartilhar as conclusões do caso.

Os americanos não trataram deste assunto, mas outros cardeais, especialmente italianos, viam suas entrevistas como autopromoção de possíveis candidatos a papa.

Período que antecede o conclave abre espaço para troca de ideias

Inês Migliaccio, especial para a Gazeta do Povo

Os bispos Kazimierz Nycz, de Varsóvia, e Jean-Baptiste Pham Minh Mân, do Vietnã, ainda não haviam chegado a Roma na tarde de ontem, aumentando a ansiedade daqueles que desejam o início imediato do conclave que irá definir o sucessor de Bento XVI. O processo de escolha só começa com a presença dos 115 cardeais eleitores.

Mas há também os que parecem não ter pressa para eleger o sumo pontífice. Na opinião do teólogo e biógrafo de Bento XVI, o espanhol Pablo Blanco, "as reuniões preparatórias com as respectivas orações demonstram que a eleição deve ser conduzida com serenidade e sentido cristão: 'sem pressa e sem pausa', pois rezar é importante na hora de decidir", disse.

Segundo o teólogo alemão, Joahannes Grohe, a pressão da mídia é perigosa porque ela nem sempre reflete a voz do povo. "Caminhando pelas ruelas da cidade, o povo se aproximava da Praça de São Pedro proclamando o novo papa, como se legitimasse a eleição", disse.

De acordo com Javier Otaduy, professor de Direito Canônico da Universidade de Navarra, do começo da eleição até o anúncio do novo papa, os cardeais eleitores devem evitar contatos epistolares, telefônicos ou por outros meios de comunicação com pessoas de fora do conclave.

Proibido

"Proíbe-se que cardeais eleitores, enquanto dure o processo da eleição, recebam imprensa diária e periódica de qualquer tipo, assim como escutar programas radiofônicos ou ver transmissões televisivas. Proíbe-se igualmente que sejam usados instrumentos técnicos de qualquer tipo que sirvam para gravar, reproduzir ou transmitir vozes, imagens ou escritos", detalhou.

E a eleição vem protegida por uma série de normas que castigam a simonia – a venda de favores divinos, bençãos, cargos eclesiásticos, prosperidade material, bens espirituais, coisas sagradas, objetos ungidos etc. em troca de dinheiro.

"O novo motu proprio instaurado por Bento XVI no 22 de fevereiro de 2013 castiga com uma excomunhão a ruptura do segredo na eleição", destacou Otaduy.

Troca

Com isso em vista, esse tempo preparatório que antecede o conclave ganha muita importância para o intercâmbio de ideias e informações entre os próprios cardeais e o povo, representado pelos seus assessores em Roma ou até mesmo de forma direta, pelas ruas da cidade e pela mídia.

Ontem, nas mesas romanas, seja de uma sala do Vaticano ou de um restaurante da esquina, regado a um bom vinho e pasta, o tema papabilidade gira em torno a alguns cardeais como Angelo Scola, arcebispo de Milão, um italiano de 70 anos; Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, canadense de 67 anos; Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, argentino de 68 anos, Christoph Schönborn, 68 anos, da Áustria; Peter Erdö , 60 anos, da Hungria; Luis Antonio Tagle, 55 anos, das Filipinas; Philippe Barbarin, 62 anos, da França; Timothy Dolan, 63 anos, Donald Wuerl, 73 anos, e Sean O'Malley, 68 anos, os três dos Estados Unidos.

Scherer

Nesta última semana, o nome do cardeal brasileiro Dom Odilo Scherer, 63 anos, arcebispo de São Paulo, uma das maiores arquidioceses do mundo, ganhou força. Culto, ele domina vários idiomas e é bem relacionado com as instituições tradicionais ou os novos movimentos católicos. Entretanto, se questiona se um latino-americano ou um não-europeu conseguirá dirigir a Cúria Romana predominantemente europeia há séculos.

Liderança

Dizem, que uma solução para isso seria uma liderança ítalo-argentina ou ítalo-brasileira, ou "ítalo-outro país" para o próximo papado. Assim, o cardeal "de outro país" seria o papa, mas o secretário de Estado do Vaticano, ou seja, aquele que de fato teria o poder executivo ou administrativo, seria um italiano, mantendo o governo da Igreja nas mãos do tradicional "império".

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