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Festa

Em Buenos Aires, fiéis comemoram um "novo ícone" para o país

Dâmaris Thomazini, especial para a Gazeta do Povo

A quarta-feira, 13 de março de 2013, começou sem sinais de comoção ou expectativa para os portenhos – como são conhecidos os moradores da capital da Argentina, Buenos Aires – em relação à escolha do novo papa. Ao fim da tarde, porém, após divulgada a eleição de Jorge Bergoglio como novo chefe da Igreja Católica, a atmosfera começou a mudar lentamente ao redor da Praça de Mayo, onde se encontra a Catedral Metropolitana de Buenos Aires.

Reconhecidamente apaixonados por política, futebol e tango – áreas nas quais possuem seus ícones, "deuses" ou "santos", como Maradona, Evita e Carlos Gardel –, os passionais hermanos comemoraram a eleição de Bergoglio como novo papa com uma atmosfera de alegria sincera e discreta que, aos poucos, ganhou força e tomou conta das escadarias da catedral. Jovens e adultos, fiéis e religiosos estampavam um legítimo contentamento pelo fato de o papa Francisco ser argentino.

A aglomeração silenciosa das primeiras horas após a escolha do primeiro papa latino-americano foi substituída pela entoação de gritos como "Francisco é argentino!", "Francisco, te queremos!" e "Vai mudar!". Em meio às centenas de pessoas que se juntavam para celebrar, jovens respondiam aos microfones das redes de tevê: "É um novo ícone para o país, para a cidade e principalmente para nós [jovens argentinos]".

Uma bancária, que ao sair do trabalho foi ao local comemorar, disse acreditar no poder crítico de Francisco: "Ele é muito sábio e bate de frente com os políticos, pede a eles que escutem a voz da população", disse a fiel, emocionada.

A mudança que a população local espera ver tem grande relação com os adjetivos usados para descrever o novo papa, que foi arcebispo da capital do país: "Ele é um grande intelectual, mas também um homem simples, capaz de deixar de lado os protocolos do cargo para se aproximar dos problemas e das pessoas", ressaltou o padre José San Martin, vigário da catedral portenha. "Agora, quando falarem da Argentina, esperamos que as pessoas não digam somente "Maradona!", mas que digam "Francisco!", acrescentou.

O papa Francisco teve um relacionamento conturbado com os governos de Néstor e Cristina Kirchner. Néstor teve encontros formais com o então cardeal Jorge Mario Bergoglio, que o criticava por seu "exibicionismo e os anúncios estridentes", em uma mensagem indireta ao então presidente.

Com o tempo, a possibilidade de aproximação foi ficando cada vez mais distante, sobretudo porque o presidente via Bergoglio como articulador de um projeto de oposição.

O ápice do atrito se deu quando Néstor disse: "Nosso Deus é de todos, mas cuidado que o diabo também chega a todos, aos que usamos calças e aos que usam batinas".

Ainda assim, quando o ex-presidente morreu, Bergoglio reagiu rapidamente, e em algumas horas decidiu rezar uma missa pelo eterno descanso de Kirchner na catedral metropolitana, dizendo que o povo deveria rezar por ele.

A relação com a presidência foi retomada depois que Cristina Kirchner assumiu o cargo, em 2007. Mas a tensão voltou em 2011, quando o Congresso argentino avançou no projeto de lei que legalizava o projeto de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Bergoglio se colocou na linha de frente da oposição.

"Preocupa-me o tom que adquiriu o discurso, se levanta como uma questão moral e religiosa e um atentado à ordem natural, quando na realidade o que se está fazendo é olhar para uma realidade que já existe", foi a resposta de Cristina Kirchner.

Ontem, depois do anúncio, a presidente deu os parabéns ao cardeal através de sua conta no Twitter.

Argentinos da fronteira com Foz dizem esperar mudanças

Denise Paro, da sucursal de Foz do Iguaçu

Os moradores de Puerto Iguazú, fronteira com Foz do Iguaçu, receberam com alegria e orgulho a notícia de que Jorge Mario Bergoglio é o novo papa. Depois da surpresa, o que mais se falava era da esperança de mudanças na Igreja. O autônomo Alberto Escobar, 40 anos, diz que a escolha foi muito boa para o país, mas o que importa é que a Igreja possa mudar daqui para a frente.

Amigo do novo papa, o bispo de Puerto Iguazú, Marcelo Martorell, descreve Jorge Mario Bergoglio como uma pessoa simpática, de bom humor e fraterna. "Ele é uma pessoa simples, quando está em Buenos Aires viaja de metrô e deixa os guardas loucos", diz.

Martorell conta que sempre teve bastante contato com Bergoglio porque na Argentina o número de bispos não é tão grande se comparado ao Brasil: cerca de 100, fato que facilita a comunicação. No entanto, o novo papa nunca esteve na fronteira, apesar dos convites, pois tinha uma agenda cheia. Na avaliação do bispo, o novo papa vai ajudar a recuperar a cultura cristã na Argentina.

Representante consular do Paraguai em Puerto Iguazú, Suzana Morínigo passou em frente à igreja matriz da cidade falando alto. "Habemus papam." Paraguaia, ela se diz tão feliz quanto os argentinos porque o papa é latino-americano. "Nós merecíamos isso", afirma.

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