Familiares de dom Odilo Pedro Scherer, cardeal brasileiro apontado como um dos favoritos para assumir o posto máximo da Igreja Católica após a renúncia do papa Bento XVI, não escondem a expectativa com a escolha do futuro líder, mas preferem acompanhar o conclave, que começa hoje, com muita oração.
Os irmãos do arcebispo de São Paulo espalhados por vários estados brasileiros tiveram uma reunião em família quando o nome dele começou a despontar como um dos candidatos e optaram por receber as informações com cautela. A família é composta de 13 irmãos, mas duas irmãs do cardeal morreram ainda crianças.
Ordenado em 7 de dezembro de 1976 pelo então bispo dom Armando Círio, o cardeal brasileiro tem uma longa história no oeste do Paraná. Toda sua infância foi vivida na cidade de Toledo, onde a família de dom Odilo fixou residência em setembro de 1951. Ele completou três anos de idade uma semana após a chegada ao distrito de Dois Irmãos, pequeno povoado de Toledo. À época, os Scherer foram a segunda família habitante do distrito.
O professor Flávio Vendelino Scherer, 67 anos, irmão de dom Odilo, conta que na época as brincadeiras de criança eram nadar em rios, pescar e outras atividades ligadas à agricultura, pecuária e saúde. "Interessante que muitas brincadeiras que a gente fazia se vincularam depois com nossas escolhas profissionais", diz.
O próprio dom Odilo brincava de celebrar missas. O irmão conta que durante uma festa religiosa no distrito de Dois Irmãos, o pequeno Odilo, à época com oito anos, reuniu os irmãos para celebrar a missa de brincadeira e em latim. "Ele estava brincando de padre e eu lembro que o Odilo disse dominus vobiscum, que é o Senhor esteja convosco. Foi uma brincadeira inocente, mas que marcou", afirma.
Dom Odilo sempre foi muito ligado à família. Em janeiro deste ano, ele participou do encontro dos Scherer, que aconteceu em Capitão Leônidas Marques, no oeste do Paraná, e reuniu aproximadamente 800 pessoas do Brasil, Paraguai e Bolívia. Flávio, um dos irmãos, até hoje guarda centenas de cartas trocadas pela família desde a década de 60. A comunicação e o diálogo sempre estiveram presentes na família Scherer. A língua alemã é falada por todos desde a infância.
Dom Odilo, segundo o próprio irmão, é uma pessoa bem-humorada e que não dispensa uma máquina fotográfica. Em suas viagens, costuma documentar tudo em imagens. "Ele fotografa tudo, até detalhes de uma flor ou de uma pintura", diz Flávio Scherer. Recentemente ele fez uma viagem ao Haiti e trouxe de lá várias fotos e uma certeza: o país mais pobre das Américas não conseguirá se levantar sozinho se não houver uma força humanitária mundial após o trágico terremoto de 2010.
MemóriasEx-aluno do arcebispo de São Paulo, deputado se lembra da catequese
Assim como dom Odilo Scherer, o deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB) viveu sua infância no distrito de Dois Irmãos, em Toledo. Ele lembra que, na década de 60, o jovem seminarista foi seu professor de catequese na comunidade. As aulas aconteciam sempre aos sábados e, segundo Kaefer, eram bem informais. "Era muito mais informal do que é hoje. Ele chegava, no sábado, e reunia aqueles que estavam se encaminhando para a primeira comunhão. Bons tempos", recorda.
Para Kaefer, caso dom Odilo seja o escolhido entre os cardeais para comandar os destinos do catolicismo mundial, ele promoverá mudanças na igreja com o objetivo de estancar a perda de fiéis para outras religiões, como é o caso dos evangélicos no Brasil.
Kaefer diz que logo após dom Odilo ser nomeado cardeal ele fez uma visita ao religioso em São Paulo. Naquele dia teria encontrado na arquidiocese a também deputada Luiza Erundina (PSB) e relatou à ela que era amigo pessoal de dom Odilo. "Eu disse que ele era meu amigo, meu irmão e que ali estava um possível futuro papa. A Luiza Erundina é testemunha disso", afirma.