Estou impressionado com o número de autodenominados "especialistas em Igreja Católica" revelado pelos meios de comunicação e redes sociais desde a renúncia de Bento XVI. Há exceções, como John Allen Jr., minha leitura diária, e o alemão Englisch, um dos melhores interlocutores do agora papa emérito. Marco Politi está quase aposentado, mas segue importante, assim como Sandro Magister. O resto, na maioria, é composto de diletantes e contestadores que, jamais tendo participado do jogo, querem ditar as regras em domínios sacros que desconhecem. E, assim fazendo, colocam os pés pelas mãos, começando por não saber distinguir acidente de substância; verdades doutrinárias irremovíveis de meras normas disciplinares.

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Nada tenho contra os que queiram olhar a Igreja sob a ótica séria, científica, da Antropologia e da Sociologia, em ângulos em que essas ciências podem contribuir para o amplo entendimento desse grande fenômeno humano que é a "pedra" identificada a partir de Simão Pedro. Nesse âmbito científico, inclusive, sou leitor atento do professor Ricardo Mariano, da PUCRS, e de Regina Novaes.

Mas há uma constante nas pseudoanálises: a de que o grande déficit da Igreja Católica, responsável por sua diminuição numérica e de ressonância no mundo moderno, estaria na linguagem que usa. Para contestar essa assertiva, há, de saída, a palavra de Bento XVI, que considera que o problema não é de linguagem, mas de fé. O embasamento da fé é que precisa ser ampliado. Dispensam-se, pois, concessões que gerem perdas de substância.

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Claro que a expressão comunicativa na Igreja tem de recorrer a modernas tecnologias, aplicando conhecimentos de mass media para chegar ao maior universo possível. Também é importante que padres aprendam a bem dizer as verdades das quais são portadores. Não precisam disputar com Vieira e Santo Antônio, mas falar com alma e alegria. Mas a "linguagem" de que os "especialistas" falam significa, isso sim, que o Magistério de Pedro teria de deixar de lado temas e definições que ferem ouvidos dos homens e mulheres do século 21, especialmente do mundo dito jovem. Pela ordem, o mundo moderno quer é a defesa do aborto, a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas, a sexualidade sem freios, a confusão entre casamento/sacramento indissolúvel e uniões homossexuais.

Mas, se mudar a canção resolvesse alguma coisa do ponto de vista de marketing religioso, só gostaria que me explicassem: por que nesse mundo moderno, a partir do começo do século 20, os movimentos religiosos que mais cresceram – e impressionantemente – foram os de matrizes pentecostais? E continuam a crescer, especialmente no Terceiro Mundo, mesmo na fértil África, hoje com seus 150 milhões de católicos e lideranças notáveis, como o cardeal Peter Turkson.

Aos que traçam o desejável perfil do novo papa recomendo, por exemplo, informar-se sobre o reavivalismo pentecostal de Azuza Street, em Los Angeles, e se indagar sobre a eficácia da linguagem deles, tão "antigos" na ortodoxia do Evangelho quanto a Renovação Carismática Católica (RCC), o braço que mais cresce dentro da Igreja. Aí, sim, será possível emitir uma opinião embasada sobre as necessidades do mundo católico.