Sinais de humildade

Primeiros gestos do papa Francisco apontam novo estilo no Vaticano

De pé

Em vez de se sentar no trono de papa, Francisco ficou de pé para receber os cumprimentos dos cardeais que o elegeram.

Transporte

Pouco depois de eleito, o papa dispensou o carro oficial e deixou a Capela Sistina no micro-ônibus dos cardeais que o escolheram.

Roupa

Na primeira aparição, Francisco saudou os fiéis com uma veste simples, toda branca, sem a mozeta (capa vermelha curta) sobre os ombros.

Cruz de ferro

O papa apareceu na janela com um crucifixo de ferro, e não de ouro, usado como símbolo da nobreza e da opulência da igreja.

Saudação

Em vez de falar em latim, começou dando "buona sera" (boa noite, em italiano) aos fiéis. Apresentou-se como bispo de Roma, não como romano pontífice.

A conta

Francisco foi à igreja Santa Maria Maior num carro sedã normal, sem a placa oficial do Vaticano. Na saída, buscou as malas na pensão sacerdotal e pagou a própria conta.

CARREGANDO :)

O papa Francisco tem dado exemplo da pobreza como virtude e não como desgraça. Anteontem, saiu ao balcão da Basílica de São Pedro para apresentar-se como papa de batina branca, com a cruz peitoral simples, de seus tempos de arcebispo. Colocou a estola apenas para dar a bênção. Logo, dispensou a limusine e voltou para a Casa de Santa Marta (o alojamento dos eleitores durante o conclave) de ônibus, junto com os demais cardeais, e repetiu a dose ontem, quando foi celebrar a missa de encerramento do conclave na Capela Sistina.

Francisco também fez questão de pagar a conta da casa onde ficou hospedado até o conclave, demonstrando honrar seus compromissos. E, segundo a Agência de Informações Católica da Argentina (Aica), o papa pediu aos argentinos, por meio do núncio apostólico, monsenhor Emil Paul Tscherring, que, em vez de ir a Roma para o início do seu pontificado, na próxima terça-feira, doem o dinheiro que gastariam na viagem para a caridade para com os mais necessitados.

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As primeiras horas do pontificado do papa Francisco parecem indicar coerência com seu nome e o lema episcopal do jesuíta Jorge Mario Bergoglio: miserando atque eligendo, frase latina do Evangelho de São Mateus que descreve a postura de Jesus para com um publicano (considerado um pecador público): Cristo "o olhou com misericórdia e o elegeu", como destaca o teólogo italiano Giulio Maspero. Essa passagem evangélica trata da vocação do próprio São Mateus, o coletor de impostos que deixou poder e riqueza para seguir a Cristo.

Para o vaticanista Marco Tosatti, o papa Francisco, já pelo nome, mostrou a que veio. "Manisfesta grande preocupação pelos pobres. É um jesuíta e, como tal, possui uma profunda formação religiosa, ligada ao Comunhão e Libertação, um grupo de elevado nível doutrinal. Ao mesmo tempo é um democrata, por mais que alguns críticos o estejam identificando com a ditadura argentina", destaca.

Tosatti acredita que Francisco dará continuidade às linhas básicas do papado de Bento XVI. "Acho que ele promoverá o crescimento e a expansão da Igreja, sem desprezar as questões internas, como a reforma da Cúria ou a solução dos escândalos. Mas parece suficientemente forte para não se absorver só nisso", comentou.

Para o argentino Juan José Sanguineti, professor da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, o papa Francisco está centrado na nova evangelização. "A Igreja não existe para si mesma. Nesse sentido, espera-se que possa superar as crises internas, com uma reforma da Cúria Romana que simplifique os processos e faça uma Igreja mais ágil, de acordo com as necessidades do homem contemporâneo", conclui.