Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Novo pontificado

Jesuítas, no Oeste do PR, celebra a memória dos missionários pioneiros

Marino Braga aperta os miúdos olhos azuis para ter certeza de que não está sendo enganado pelo visor da câmera. "Levaram a placa dali", exclama, e golpeia o chão com a bengala, enquanto a ponta do seu nariz fica mais vermelha que o normal. "Era de bronze! O padre Toninho falou que daqui a cem anos ainda estaria lá", prossegue, indignado.

A placa de bronze, posicionada desde o ano passado ao pé de uma Cruz de Caravaca, determinava o local da primeira missa realizada em Jesuítas, no dia 26 de março de 1962. O município de pouco mais de 9 mil habitantes, a 624 quilômetros de Curitiba, na Região Oeste do estado, se desenvolveu em torno da sua igreja, da extração de madeira e das lavouras de café. Um processo apoiado de maneira fundamental da Companhia de Jesus, da qual faz parte o papa Francisco, primeiro jesuíta a comandar a Igreja Católica. E que teve Marino Braga, hoje aos 77 anos, como um de seus protagonistas.

Quando chegou de Cornélio Procópio em 1959, a família Braga encontrou "mato em pé e água no corpo" no distrito de Formosa do Oeste "que nem nome tinha". A missão de desbravar a região foi oferecida por Ênio Pipino, presidente da Sinop Terras S/A, empresa responsável pela colonização de boa parte do Noroeste do Paraná em meados do século passado. Pipino era dono das terras e queria desenvolver ali uma lavoura de café. Os Braga eram proprietários de uma serralheria e tinham interesse na extração de peroba, cedro, ipê, marfim e palmito.

Vila

Os primeiros três anos de desmatamento abriram espaço para a criação de uma vila. E os moradores logo se mobilizaram para a construção de uma igreja, o que evitaria os deslocamentos até Formosa do Oeste. Marino Braga nem se lembrava, mas presidiu a comissão de construção da igreja. Também pôs a mão na massa. "Trabalhávamos durante a semana para nós e aos domingos para Santo Inácio de Loyola", conta. "Tenho até hoje o Ford-61 que era o nosso trator para arrastar pau e mato."

Impulso

A missa de quarta-feira passada, horas depois da eleição no Vaticano, deixou no ar a esperança de um impulso ao catolicismo na cidade. "A igreja recebeu um grande público, muitos leigos começaram a comentar da relação entre a congregação do novo papa e a origem da cidade", diz o padre Laudemir da Rocha, que se espantou com a maior audiência em pouco menos de 40 dias em Jesuítas.

Para quem acompanhou de perto a expansão da cidade no vácuo da igreja, o novo pontificado é visto com ânimo maior ainda. "Para nós foi emocionante. A cidade tem uma história bonita e o papa Francisco tem carisma, desapego material, atenção aos pobres. Missionários são assim. Está na formação deles", define a comerciante Clemilde Decheci Felipin. "Com todos falando do papa, por ser sul-americano e jesuíta, seria ótimo que isso chamasse a atenção das pessoas para a cidade. Até dos argentinos, que estão a 100 quilômetros daqui", torce Rosana Conrado, secretária paroquial.

Devolução

Quem visitar Jesuítas conhecerá a história da cidade que se desenvolveu guiada pela Congregação de Jesus. Circulará por suas ruas com nomes de santos, papas e padres. E, provavelmente, encontrará uma nova placa de bronze no pé da Cruz de Caravaca. Marino Braga prometeu tomar providências para devolver o marco zero da cidade ao seu lugar original: a pracinha entre as ruas Papa Pio XI e Papa São Maurício.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.