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Chuva não desanima fiéis e milhares ainda viajarão ao Vaticano

A chuva não impediu que muitos fiéis se aproximassem da Praça de São Pedro para ver a fumaça que anunciaria o resultado da primeira votação dos cardeais para a eleição do novo papa, sucessor de Bento XVI.

Segundo informações da mídia italiana, milhares de pessoas, incluindo 40 delegações estrangeiras, estão chegando pouco a pouco à Cidade Eterna, com um pico previsto entre os dias 17 e 19 deste mês, para testemunhar de perto os primeiros momentos do novo líder da Igreja Católica – sua apresentação na varanda frontal da Basílica de São Pedro e a primeira missa. O governo italiano preparou, para os primeiros atos públicos do futuro papa, esquema semelhante ao que realizou para os últimos momentos do papa emérito, Bento XVI, no final de fevereiro. Reforçaram o Vaticano e arredores com medidas excepcionais de segurança, como carros blindados e esquemas anti-hackers. Os hotéis aumentaram ao redor de 29% os valores das reservas, com a média de 160 euros por noite. Segundo as estatísticas, o maior número de solicitações é da própria Itália, sendo lideradas pelos milaneses. Já em relação aos países estrangeiros, em primeiro lugar vem Alemanha, seguida do Reino Unido, Espanha e França.

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Pergunte a um jornalista e a um cardeal quais são as prioridades para o próximo papa, os temas que ele terá de enfrentar em seu pontificado, e a resposta pode ser totalmente diferente. Em reportagens, artigos de opinião e enquetes com internautas, a imprensa costuma mencionar questões como a aceitação do homossexualismo, da contracepção artificial e do aborto, a comunhão para divorciados recasados, a ordenação de mulheres e a abolição do celibato sacerdotal como "desafios" do próximo pontífice. Mas essas preocupações não poderiam estar mais distantes da cabeça dos 115 cardeais eleitores, segundo o vaticanista Andrea Tornielli. "Insistir que os cardeais mudem a doutrina católica básica é muito ridículo", afirma.

Um dos argumentos para o isolamento dos cardeais não só no conclave propriamente dito, mas também nos dias prévios, é evitar que sejam influenciados por uma pauta vinda do "mundo exterior" não condizente com a pauta que os próprios cardeais julgam ser mais importante para a Igreja. Foi tendo esse isolamento em mente que foram suspensas – a pedido do Vaticano, comenta-se – as entrevistas coletivas que os cardeais norte-americanos davam após cada reunião das Congregações Gerais.

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Alfonso Bailly-Baillieri, que trabalhou por 18 anos no serviço oficial de informações do Vaticano, afirma que isso ocorre tanto por desconhecimento em relação ao catolicismo quanto por má vontade – alguns veículos de comunicação teriam uma agenda própria que desejam impor à Igreja. Ele insiste na necessidade de separar o que é considerado uma doutrina imutável da Igreja (como a condenação ao aborto e aos atos homossexuais, ou a proibição de ordenação das mulheres) daquilo que é opinável ou relativo, ou faz parte da disciplina eclesial, como a idade limite para a aposentadoria do clero ou aspectos da liturgia, como o idioma da celebração da missa.

Tornielli também destaca que a imprensa cumpre seu papel ao examinar em detalhe a vida dos cardeais e a atuação da Cúria Romana. "Isso não significa que o povo deva esperar mudanças nos princípios dogmáticos ou morais, estabelecidos por Jesus Cristo, como o direito à vida e a definição de matrimônio como união entre um homem e uma mulher", acrescenta.

Mas, se os temas de moral sexual, ordenação feminina ou celibato não estão na pauta dos eleitores do conclave, o que está? O ponto mais destacado pelos cardeais dos mais diversos países e demais representantes da Igreja ouvidos pela Gazeta do Povo nos últimos dias é a "nova evangelização", incluindo o domínio da capacidade de comunicação e linguagem, adaptada aos novos tempos, de maneira a sensibilizar a sociedade para o cumprimento do direito entre os povos, a eliminação da pobreza e da injustiça.

Comunicação"Mídia mostra que Igreja é uma instituição global", diz professor de Navarra

Especialistas, representantes do Vaticano, estudiosos e membros do clero reforçam a necessidade de a Igreja comunicar melhor os seus princípios para evitar que os veículos de comunicação acabem informando mal seu público sobre o catolicismo – inclusive sobre os temas "imutáveis". "A mídia tem demonstrado que a Igreja é uma instituição global, com grande peso na opinião pública mundial, e o papa é uma referência. Ainda que alguns não gostem daquilo que ele diz, não é possível ignorá-lo", diz Francisco Pérez-Latre, professor de Comunicação da Universidade de Navarra. Mas Andrea Tornielli identifica um excesso de informações a respeito da Igreja, facilitadas pela rapidez tecnológica, mas pouco fundamentadas, quando não totalmente falsas. "Se nós não procuramos informar bem a respeito da Igreja, quem o fará?", indaga o teólogo italiano Giulio Maspero, professor da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, que foi entrevistado por vários jornalistas desde a renúncia de Bento XVI.

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