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o legado de Bento XVI

O papa professor

Se João Paulo II ganhou seu lugar na memória dos fiéis ao transformar seu conhecimento filosófico em imagens cativantes e frases de efeito que retratavam todo o seu carisma, Bento XVI também será lembrado pela facilidade de se comunicar com públicos que vão desde cultos teólogos até crianças da catequese, sempre de modo claro e cordial, uma habilidade adquirida no exercício da profissão à qual dedicou vários anos de sua vida: a de professor.

Em 2011, durante a Jornada Mundial da Juventude de Madri, na Espanha, o papa relembrou seus primeiros passos como docente no encontro que teve com jovens professores universitários. Na ocasião, ele citou as inúmeras carências materiais para ministrar aulas em uma Alemanha recém-saída da guerra, mas afirmou que "o encanto de uma atividade apaixonante" era o que ajudava a superar qualquer obstáculo.

Para o padre José Lino Currás Nieto, historiador e escritor, a experiência de Ratzinger como docente foi decisiva para sua forma de pregar. "Seu vigor intelectual tem a grande qualidade, pouco frequente, de esclarecer verdades difíceis e abstratas de forma serena e simples, sempre adaptada aos ouvintes", diz. Para Currás Nieto, essa é uma habilidade que só se adquire depois de uma grande experiência acadêmica em aulas e debates.

Antes de Ratzinger se tornar arcebispo, no fim dos anos 70, alunos de cinco universidades alemãs tiveram a oportunidade de assistir a aulas de Teologia com o futuro papa. O então professor Ratzinger passou por instituições de ensino em Freising, Bonn, Münster, Tubinga e Ratisbona. A efervescência intelectual dos anos 60 proporcionou a ele o contato com colegas que viam o mundo e o homem de forma muito diferente, como o teólogo Hans Küng e outros influenciados pela tendência marxista que se espalhava pela Europa.

Crianças

Quando assumiu o pontificado, as complexas discussões que nunca deixou de ter com o mundo acadêmico não o impediram de se lançar no diálogo com as crianças. Em outubro de 2005, o papa recebeu no Vaticano cerca de 100 mil crianças que se preparavam para receber a primeira comunhão. O encontro se tornou uma conversa, na qual os catequizandos fizeram perguntas a Bento XVI sobre a importância da missa, da confissão e da eucaristia. O pontífice respondeu de forma espontânea a cada uma das dúvidas, usando palavras simples diante do enorme público de fiéis – um desafio que certamente muitos intelectuais evitariam. Bento XVI ainda repetiu a dose em maio de 2009.

A preocupação com a catequese apareceria novamente nos dois livros infantis que publicou. Os Amigos de Jesus chegou aos italianos em 2010, e conta a história dos 12 apóstolos e de São Paulo. Em 2011, o pontífice lançou Maria, a mãe de Jesus, uma pequena publicação de 48 páginas, na qual ele apresenta alguns episódios da vida da Virgem Maria.

Doutrina

O Catecismo da Igreja Cató­­lica é outra prova da paixão de Ratzinger por ensinar. En­­quanto cardeal, a pedido de João Paulo II, ele foi o líder da comissão que sintetizou em um livro toda a fé da Igreja. A obra levou seis anos para ficar pronta, mas hoje é a referência para a formação doutrinal em todo o mundo. Já como Bento XVI, e ciente de que o denso livro com 700 páginas poderia ser inacessível aos fiéis comuns, lançou no primeiro ano de pontificado o Compêndio do catecismo, uma versão resumida na forma de perguntas e respostas. Em 2011, disposto a adaptar ainda mais a linguagem, dessa vez para os jovens, lançou o YouCat – Catecismo Jovem da Igreja Católica.

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