447 mil fiéis

estiveram nas audiências de Bento XVI em todo o ano de 2012 – uma média de 10,3 mil pessoas por audiência, que costuma ocorrer sempre às quartas-feiras, na Praça de São Pedro ou na Sala Paulo VI, ­­dentro do Vaticano. Bento XVI praticamente manteve a média de seu predecessor: as audiências de João Paulo II atraíram 504 mil pessoas em 2004, ou 10,5 mil fiéis por evento. Bento XVI estruturou boa parte de suas audiências em séries temáticas, como vidas de santos, salmos e a história dos apóstolos. Ultimamente, suas catequeses tratavam de temas ligados ao Ano da Fé.

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Debates

Como cardeal, Joseph Ratzinger se envolveu em pelo menos dois debates com grandes intelectuais. Em 2000, 2 mil pessoas tiveram de acompanhar do lado de fora do Teatro Quirino, em Roma, o debate entre Ratzinger e o filósofo italiano ateu Paolo Flores d’Arcais.

O evento preencheu as 930 poltronas disponíveis no teatro; os demais ouviram o encontro por meio de um amplificador improvisado. Outro debate famoso de Ratzinger ocorreu em Munique, em 2004, com o filósofo alemão Jürgen Habermas. Ambos foram posteriormente transformados em livros.

"Embora, como disse, não seja necessário confessar-se antes de cada comunhão, é muito útil confessar-se com uma certa regularidade. É verdade, geralmente os nossos pecados são sempre os mesmos, mas fazemos limpeza das nossas habitações, dos nossos quartos, pelo menos uma vez por semana, embora a sujidade seja sempre a mesma. Para viver na limpeza, para recomeçar; senão, talvez a sujeira não possa ser vista, mas se acumula. O mesmo vale para a alma, por mim mesmo, se não me confesso a alma permanece descuidada e, no fim, fico satisfeito comigo mesmo e não compreendo que devo me esforçar para ser melhor."

No encontro com crianças da catequese, em 15 de outubro de 2005, respondendo a uma menina que perguntava se era preciso confessar-se antes de cada comunhão.

"Como não era talhado para espetáculos midiáticos, Bento XVI foi incompreendido por muitos, que ignoraram o seu profundo conhecimento teológico posto à disposição dos fiéis em suas homilias, encíclicas e livros. Lendo o livro-entrevista Luz do Mundo, conheci-o mais de perto e passei a admirá-lo."

Maria Anita Donadel Zanatta, professora aposentada, leitora da Gazeta do Povo.

"O legado de Bento XVI resume-se na expressão mais significativa de um pastor peregrino preocupado com os rumos e as mudanças da humanidade. Seus textos eclesiásticos, pautados na razão filosófica, no amor e na (ad)oração, traduzem a essência de sua constante intimidade com o Criador."

Marcelo Rebinski, historiador, leitor da Gazeta do Povo.

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Se João Paulo II ganhou seu lugar na memória dos fiéis ao transformar seu conhecimento filosófico em imagens cativantes e frases de efeito que retratavam todo o seu carisma, Bento XVI também será lembrado pela facilidade de se comunicar com públicos que vão desde cultos teólogos até crianças da catequese, sempre de modo claro e cordial, uma habilidade adquirida no exercício da profissão à qual dedicou vários anos de sua vida: a de professor.

Em 2011, durante a Jornada Mundial da Juventude de Madri, na Espanha, o papa relembrou seus primeiros passos como docente no encontro que teve com jovens professores universitários. Na ocasião, ele citou as inúmeras carências materiais para ministrar aulas em uma Alemanha recém-saída da guerra, mas afirmou que "o encanto de uma atividade apaixonante" era o que ajudava a superar qualquer obstáculo.

Para o padre José Lino Currás Nieto, historiador e escritor, a experiência de Ratzinger como docente foi decisiva para sua forma de pregar. "Seu vigor intelectual tem a grande qualidade, pouco frequente, de esclarecer verdades difíceis e abstratas de forma serena e simples, sempre adaptada aos ouvintes", diz. Para Currás Nieto, essa é uma habilidade que só se adquire depois de uma grande experiência acadêmica em aulas e debates.

Antes de Ratzinger se tornar arcebispo, no fim dos anos 70, alunos de cinco universidades alemãs tiveram a oportunidade de assistir a aulas de Teologia com o futuro papa. O então professor Ratzinger passou por instituições de ensino em Freising, Bonn, Münster, Tubinga e Ratisbona. A efervescência intelectual dos anos 60 proporcionou a ele o contato com colegas que viam o mundo e o homem de forma muito diferente, como o teólogo Hans Küng e outros influenciados pela tendência marxista que se espalhava pela Europa.

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Crianças

Quando assumiu o pontificado, as complexas discussões que nunca deixou de ter com o mundo acadêmico não o impediram de se lançar no diálogo com as crianças. Em outubro de 2005, o papa recebeu no Vaticano cerca de 100 mil crianças que se preparavam para receber a primeira comunhão. O encontro se tornou uma conversa, na qual os catequizandos fizeram perguntas a Bento XVI sobre a importância da missa, da confissão e da eucaristia. O pontífice respondeu de forma espontânea a cada uma das dúvidas, usando palavras simples diante do enorme público de fiéis – um desafio que certamente muitos intelectuais evitariam. Bento XVI ainda repetiu a dose em maio de 2009.

A preocupação com a catequese apareceria novamente nos dois livros infantis que publicou. Os Amigos de Jesus chegou aos italianos em 2010, e conta a história dos 12 apóstolos e de São Paulo. Em 2011, o pontífice lançou Maria, a mãe de Jesus, uma pequena publicação de 48 páginas, na qual ele apresenta alguns episódios da vida da Virgem Maria.

Doutrina

O Catecismo da Igreja Cató­­lica é outra prova da paixão de Ratzinger por ensinar. En­­quanto cardeal, a pedido de João Paulo II, ele foi o líder da comissão que sintetizou em um livro toda a fé da Igreja. A obra levou seis anos para ficar pronta, mas hoje é a referência para a formação doutrinal em todo o mundo. Já como Bento XVI, e ciente de que o denso livro com 700 páginas poderia ser inacessível aos fiéis comuns, lançou no primeiro ano de pontificado o Compêndio do catecismo, uma versão resumida na forma de perguntas e respostas. Em 2011, disposto a adaptar ainda mais a linguagem, dessa vez para os jovens, lançou o YouCat – Catecismo Jovem da Igreja Católica.

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