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Pedofilia

Aumenta pressão para afastar cardeal acusado de acobertar abusos

Agência Estado e Reuters

Movimentos populares estão aumentando a pressão nos Estados Unidos e na Itália para evitar que o cardeal Roger Mahony, da Califórnia, participe do conclave de cardeais que em breve deve eleger o próximo papa. Segundo ativistas, Mahony está envolvido em um esquema para acobertar padres acusados de abusos sexuais. Em meio à mobilização contra Mahony, um historiador do Vaticano afirmou que não há precedentes para exclusão de um cardeal de um conclave por causa de escândalos pessoais. Mahony, por sua vez, deixou claro que está a caminho de Roma e não há ninguém que possa obrigá-lo a mudar de ideia.

No início deste mês, um tribunal de Los Angeles ordenou a abertura de milhares de páginas de arquivos pessoais confidenciais de mais de 120 sacerdotes acusados de crimes sexuais. Os arquivos mostram que Mahony e outros altos funcionários da arquidiocese agiram nos bastidores para proteger padres acusados e proteger a igreja de um escândalo crescente.

Enquete

A revista católica italiana Famiglia Cristiana perguntou aos seus leitores se Mahony deveria participar do processo de sucessão do papa Bento XVI. O "não" venceu por ampla margem.

O influente semanário fez a consulta depois de a entidade Católicos Unidos, dos EUA, iniciar um abaixo-assinado contra Mahony. Até terça-feira, mais de 5 mil pessoas já haviam aderido – número pequeno dentro de um universo de mais de 70 milhões de católicos no país.

"Por favor, não traga mais escândalos para a nossa Igreja, que já foi abalada pela crise dos abusos sexuais, participando do conclave pontifício", diz o abaixo-assinado, dirigindo-se a Mahony.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, informou ontem que o papa Bento XVI avalia publicar um termo, chamado "Motu Proprio", que poderá antecipar o conclave que escolherá seu sucessor para uma data mais próxima de sua renúncia, prevista para 28 de fevereiro.

"O papa está levando em consideração a publicação nos próximos dias de Motu Propio para precisar alguns pontos da constituição sobre o conclave. Não sabemos se considerará oportuno abordar o assunto do prazo do início do conclave", declarou Lombardi.

Dias após o anúncio da renúncia de Bento XVI, integrantes do Vaticano disseram que a escolha do novo pontífice deveria acontecer na segunda quinzena de março. Porém, estava em estudo a antecipação da data, já que não seria necessário cumprir os ritos que acompanham a escolha quando é motivada pela morte de um papa.

Alguns cardeais acreditam que um conclave deve começar mais cedo, a fim de reduzir o tempo em que a Igreja Católica Romana ficará sem um líder.

Lei fundamental

O "Motu Proprio" que faz parte da nota lida ontem por Lombardi é um termo que consta do preâmbulo da Lei Fundamental da Cidade-Estado do Vaticano – ou seja, a Constituição.

Um trecho inicial do texto afirma que "nós, em 'motu proprio' e com certo conhecimento, com a totalidade de nossa autoridade soberana, estabelecemos [as seguintes leis]".

Afinal, é de "iniciativa própria" que o papa, com sua autoridade independente, legisla a respeito dos interesses da Igreja.

Nesse âmbito, vale a palavra do pontífice, autoridade a quem cabem, de acordo com o primeiro artigo da lei, poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

A atual Constituição do Vaticano foi promulgada por João Paulo II em 2000 e entrou em vigor no ano seguinte, como substituto do texto anterior, de 1929.

Modificar essa Carta é um direito reservado ao papa, cuja "consideração" é exigida para o rascunho de novas leis, conforme estipulado pelo artigo 4.º.

Em caso de o pontífice estar ausente, em ocasiões excepcionais e urgentes, o Colégio de Cardeais assume os poderes do papa.

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