Em declaração nesta sexta-feira (15), o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, disse que Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, nunca colaborou com a ditadura militar e é alvo de uma campanha "caluniosa e difamatória" na Argentina.
Ele disse que as acusações de que Bergoglio teria sido negligente com a prisão política de dois padres jesuítas "devem ser rechaçadas de forma contundente". "Nunca houve uma acusação concreta e confiável contra ele. A Justiça argentina o interrogou uma vez, mas como pessoa informada dos fatos, e jamais o acusou de nada", disse Lombardi.
"A campanha contra Bergoglio é bem conhecida e se refere a fatos ocorridos há muitos anos. É uma campanha caluniosa e difamatória. Sua origem anticlerical é muito conhecida e evidente", disse.Lombardi disse que muitos depoimentos mostram que Bergoglio protegeu pessoas perseguidas pela ditadura na Argentina. Ele também citou declarações do escritor Adolfo Pérez Esquivel, que disse nos últimos dias que o papa não colaborou com os militares.
Nobel
Na quinta-feira (15), o ativista argentino de direitos humanos Adolfo Pérez Esquivel, de 81 anos , que recebeu em 1980 o Prêmio Nobel da Paz, disse que Bergoglio não teve vínculos, quando bispo, com a ditadura militar que esteve no poder no país entre 1976 e 1983.
"Questionam Bergoglio porque dizem que ele não fez o necessário para tirar dois sacerdotes da prisão, sendo ele o superior da congregação de jesuítas. Mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar a liberação dos presos e sacerdotes e não eram atendidos", disse Esquivel à BBC.
Livros sobre a ditadura argentina acusam o novo papa de ter sido cúmplice dos militares ao denunciar como subversivos sacerdotes que tinham atuação social. Ele sempre negou.
Esquivel disse ainda, em um comunicado publicado no seu site, que talvez tenha faltado ao novo papa "coragem para acompanhar a luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis", mas que isso não significa que ele tenha compactuado com a ditadura.
"Espero que ele tenha agora a coragem para defender os direitos dos povos perante os poderosos, sem repetir os graves pecados e erros que cometeu a sua igreja", completou o Prêmio Nobel.