Em discurso aos cardeais, o papa Francisco disse ontem que a Igreja não deve se curvar ao pessimismo e ao desânimo e precisa procurar novos métodos para conquistar fiéis em todo o mundo.
A mensagem deixou clara a sua preocupação com a redução do número de fiéis.
"Não cedamos nunca ao pessimismo, àquela amargura que o diabo nos oferece a cada dia, não cedamos ao pessimismo e ao desânimo", conclamou o novo papa.
"Tenhamos a firme certeza de que o Espírito Santo dá a toda a Igreja, com seu sopro poderoso, a coragem de perseverar e de buscar novos métodos de evangelização para levar o Evangelho até os confins extremos da Terra."
Francisco disse que a mensagem da Igreja, que chamou de "verdade cristã", é "atraente e persuasiva" e atende às necessidades do homem.
"Isso continua válido hoje, como era no início do cristianismo, quando se fez a primeira grande expansão missionária do Evangelho."
Diante de uma plateia idosa, ele fez um elogio à velhice, definindo-a como a idade da sabedoria. "É como o bom vinho, que fica melhor com os anos. Demos aos jovens a sabedoria da vida."
O pontífice voltou a homenagear o papa emérito Bento XVI, referindo-se à sua renúncia como um gesto "corajoso e humilde". "Vamos acompanhá-lo sempre com nossa oração, nossa lembrança permanente e nosso reconhecimento afetuoso", prometeu.
Ele também fez um gesto a favor do ecumenismo ao afirmar, em mensagem ao rabino-chefe de Roma, que pretende contribuir para o progresso nas relações entre católicos e judeus.
Em mais um sinal de mudança de estilo na Santa Sé, Francisco chamou seus eleitores de "irmãos cardeais", em vez de "senhores cardeais". Após o discurso, transmitido pela TV, distribuiu risadas e abraços efusivos. E chegou a beijar a mão de um dos cardeais, invertendo o protocolo da Igreja.
Para vaticanistas, Francisco será mais aberto a questões sociais
Agência O Globo
Um papado mais aberto a questões sociais e mais focado na evangelização. Teólogos e estudiosos do catolicismo dizem essas seriam as novas diretrizes da Igreja com a eleição do papa Francisco. Já em relação à discussão de temas polêmicos, como união homossexual, aborto e contraceptivos, a expectativa é de que o pontífice mantenha a linha adotada pelos antecessores por ser representante da ala conservadora do Vaticano.
A escolha de um primeiro papa não-europeu nos últimos 1.200 anos sinalizaria uma maior abertura da Igreja, na opinião do coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, Francisco Borba.
"A Igreja dá sinais claros de abertura para os tempos de globalização quando escolhe um papa da América do Sul. Numa sociedade globalizada, as lideranças podem aparecer em qualquer lugar do mundo", avaliou Borba.
A origem na América Latina do cardeal Jorge Mario Bergoglio reforçaria a atenção da Igreja ao trabalho social, principalmente voltado aos mais pobres.
"Vamos ter um papa que vem do terceiro mundo. Ele mesmo disse que vem do fim do mundo. Pode chamar o mundo para refletir sobre a questão da pobreza, da exclusão e da miséria", disse o doutor em pensamento católico pela PUC-Rio e autor do capítulo sobre o Brasil do "Cambridge Dictionary of Christianity", Marcelo Timotheo da Costa.
Para o historiador da PUC-Rio, o estilo de vida austero do novo pontífice também pode ajudar a trazer ares de simplicidade à Igreja Católica e ao Vaticano.
"Acho que a Igreja está sinalizando uma busca de maior simplicidade."
Jesuíta
O passado jesuíta, muito identificado com o trabalho missionário, poderá levar o catolicismo a um retorno às ruas, à evangelização.
"Certamente será motivo para animar mais o processo de evangelização da Igreja. Em seu primeiro pronunciamento, ele apontou não só o aspecto da missionaridade, mas a necessidade da evangelização", destacou o bispo-auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, dom Tarcísio Scaramussa.
Timotheo da Costa acrescenta que os jesuítas são conhecidos pela "ótima formação intelectual" e alguns membros da ordem adotam práticas pastorais inovadoras.
"Eles estão na fronteira das experiências pastorais mais inovadoras."
O perfil conservador do papa Francisco, no entanto, é o que faz serem pequenas as expectativas em relação à mudança de rumo do Vaticano sobre questões doutrinárias, como a negação do casamento homossexual e do aborto, segundo os vaticanistas.
"Na condução da Igreja, acho que ele será uma continuidade dos papas João Paulo II e Bento XVI. O perfil dele, se pensar em conservador e progressista, é conservador", disse o doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano, e professor de Teologia da Escola Dominicana, Edson Luiz Sampel.
Bom humor católico