Cotado como o mais forte italiano para suceder Bento XVI, o cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão, pediu que os fiéis rezem para que o próximo papa seja um "pastor santo" para enfrentar "o momento delicado de passagem de milênio".
"Esse é um momento importante na vida da Igreja. Peço que rezem para que o Espirito Santo possa escolher um pastor santo. Que faça transparecer o vulto de Jesus Cristo". Ao rezar sua última missa antes do conclave, ele afirmou que o papel da Igreja é "anunciar sempre a misericórdia de Deus, inclusive ao homem sofisticado e perdido do novo milênio, inclusive durante esse momento delicado de passagem de milênio".
A missa foi realizada às 9 horas da manhã de ontem (5 horas em Brasília) na igreja Santi 12 Apostoli, localizada no centro de Roma, e com a presença de poucos fiéis. "Eu vim para ver o Scola, mas não estou torcendo por ninguém. Para mim é igual se for italiano ou não, o importante é que seja um bom papa", disse a fiel local Eugenia Giuliana Budicin.
Scola é tido por vaticanistas como um candidato preferido de Bento XVI e apoiado por cardeais estrangeiros, distantes da Cúria que por sua vez apoiaria o brasileiro Odilo Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo. Segundo a imprensa italiana, Scherer já iniciaria o conclave com 40 votos, encabeçados por americanos.
Pouco depois do encerramento da missa, Scola saiu da sacristia e abençoou os repórteres presentes. Ao final, quando já estava no carro, se limitou a dizer "bom trabalho e coragem".
Cada cardeal é responsável por uma paróquia em Roma. O domingo foi dedicado para que cada um fosse às suas respectivas igrejas. Na Via 20 Settembre, por exemplo, era possível caminhar e assistir os diversos cardeais que celebravam missas durante a manhã.
Uma das mais cheias era a da Santa Maria della Vitoria, onde o cardeal americano Sean O'Malley, arcebispo de Boston, estava. Difícil até de entrar, dezenas de pessoas tiveram de ficar em pé. Segundo o jornal Il Messaggero, ele, que também está na lista de papáveis, deu sinais em sua homilia de não querer muito o trono de Pedro. "Gostaria de assegurar que voltarei para Boston e levo comigo a estátua da Santa Teresa [famosa escultura do artista Gian Lorenzo Bernini]".
Silêncio
Outros cardeais, como Luis Antonio Tagle, de Manila, optaram pelo silêncio e permaneceram dentro de seminários ou de outras instituições religiosas.
No Vaticano, a Praça de São Pedro estava estranhamente quieta, sem um papa pelo segundo domingo consecutivo. Bento XVI, que é agora papa emérito, está no retiro de verão no sul de Roma, enquanto a sua residência permanente em um convento do Vaticano está sendo preparada.
"Este é um momento de crise global, mas também um momento de crise na fé", disse o bispo italiano Rino Fisichella à televisão italiana, acrescentando esperar que um novo papa apareça na janela no próximo domingo.
Dom Odilo"Muitos de nós estamos vivendo como se Deus não existisse", diz cardealFolhapress
Considerado um dos cardeais mais cotados para virar papa, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, citou "um tempo difícil" e pediu orações pela igreja. Ele rezou sua última missa antes do conclave na igreja Sant' Andrea Al Quirinale, em Roma. Na homilia, dom Odilo fez apenas uma menção breve à eleição que escolherá o novo pontífice.
"Seguramente hoje todas as igrejas de Roma têm muita vibração e muita festa com a presença dos cardeais rezando pelo conclave", afirmou.
Ele se disse "muito contente" em rezar a missa e saudou fiéis e jornalistas, mas não quis dar entrevistas.
No sermão, o cardeal comentou o evangelho do dia, a parábola do filho pródigo, e pediu que as pessoas pensem mais em Deus. "Convido a orar para que a Igreja faça bem a sua missão neste tempo. Seguramente um tempo difícil, mas também alegre", disse o cardeal. "Muitos de nós estamos vivendo como se Deus não existisse ou não tivesse importância na nossa vida privada."
