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favoritos a papa

Timothy Dolan, arcebispo de Nova York; Sean O’Malley, arcebispo de Boston; e Donald Wuerl, arcebispo de Washington

Neste texto vou tratar de três candidatos ao pontificado em um texto só. Vamos examinar as possibilidade de três americanos, considerados os mais fortes entre os cardeais dos Estados Unidos. São Timothy Dolan, de Nova York; Sean O'Malley, de Boston; e Donald Wuerl, de Washington. Suponho que meus leitores não precisam de um histórico dessas três figuras (nota do tradutor: o público de Allen e do National Catholic Reporter é majoritariamente norte-americano). O necessário é entender o que pode transformar cada um deles no próximo pontífice, e o que pode mantê-los longe do papado. É o que vamos explorar aqui, mas antes vamos deixar claras três coisas.

Primeiro, existe uma dinâmica de "nenhum profeta é bem recebido em sua terra" quando se trata de pensar em um cardeal de seu próprio país sendo eleito para o pontificado. Nós os conhecemos bem demais, e por isso seus defeitos e falhas, sua humanidade, nos parecem ainda maiores. A maioria dos cardeais que estão se avaliando uns aos outros, no entanto, não têm esse tipo de familiaridade.

Segundo, o velho tabu sobre o "papa de uma superpotência" perdeu força em 2013 – isso se não sumiu por completo. O século 21 é outra história, os Estados Unidos não são mais a única superpotência.

Terceiro, eu deixei o cardeal Francis George, de Chicago, fora da lista por causa da idade (76 anos) e pelo fato de ele recentemente ter tido uma suspeita de câncer. Na eleição do sucessor de um papa que renunciou por causa da idade e do cansaço, preocupações sobre a saúde são um impedimento forte. Em outro cenário, George seria um forte candidato – ele tem o intelecto, o domínio de idiomas e a experiência administrativa para conquistar muitos eleitores.

Os temas

Parece claro que os 115 cardeais que votarão no conclave têm três preocupações centrais em suas listas de requisitos para o próximo papa:

Um homem de visão global, especialmente que possa ter apelo junto aos dois terços do 1,2 bilhão de católicos que vivem fora da Europa, uma proporção que subirá para três quartos até o meio do século.

Um papa para a "nova evangelização", alguém capaz de despertar o fervor missionário nos católicos e ainda buscar o mundo secular, convidando as pessoas a olhar a Igreja com outros olhos.

Um governante forte e disposto a trazer ao Vaticano as melhores práticas gerenciais do século 21, tornando o governo da Igreja mais transparente e eficiente, e cobrando aqueles que tiverem um desempenho ruim.

Agora, vamos ver os três norte-americanos e como eles são avaliados.

Cardeal Timothy Dolan, 63 anos

Dois dos vaticanistas italianos mais respeitados, Andrea Tornielli e Sandro Magister, já informaram que Dolan tem uma grande rede de apoio às vésperas do conclave, então é preciso levar sua candidatura a sério. O cardeal Camillo Ruini, o ex-presidente da Conferência Episcopal Italiana, já deixou claro que ele gosta muito de Dolan. Ruini já passou dos 80 anos e não vota mais, mas ainda tem muita influência sobre vários eleitores italianos.

O que pesa a favor de Dolan?

Primeiro, ele é a evangelização anabolizada. Dolan é de longe o mais carismático, midiático e agradável entre os 115 cardeais que estarão na Capela Sistina. Se ele não fosse padre, provavelmente teria sido senador, dadas as suas habilidades no trato com o público e seu dom para a conversa. Um tema recorrente entre os cardeais é a necessidade de um papa enérgico, e eu posso dizer, da minha experiência pessoal com Dolan, que o homem não tem o botão de "desligar".

Segundo, sua reputação é de alguém que tem sangue frio. Por trás do sorriso fácil e das piadinhas autodepreciativas, ele está tranquilo consigo mesmo e não perde tempo se angustiando com decisões difíceis. Outros cardeais podem olhar para ele e pensar "eis um homem que não seria esmagado pelo fardo do pontificado".

Terceiro, Dolan é visto como um sólido conservador, o que atrai os tradicionalistas; mas com um estilo de trabalho aberto e pragmático, que agrada os moderados. Ele se empenha em cultivar amizades com os outros bispos, o que lhe deixa bem com pessoas de várias correntes.

Quarto, há um certo ânimo antiburocracia entre muitos cardeais, um desejo de chacoalhar as coisas no Vaticano, e Dolan parece o americano mais capaz de realizar o trabalho (esse é o argumento central de Sandro Magister).

Mas também há fatores que prejudicam Dolan.

Primeiro, ele pode ser "americano demais". Seu jeito meio irreverente e falador pode ser um choque muito grande para o sistema, na opinião de alguns cardeais, que podem admirá-lo como um grande emissário da fé em Nova York, mas que seria um pouco exagerado para Roma. Além disso, alguns cardeais podem imaginar que uma personalidade tão dominante no papado ofuscaria outros bispos e autoridades. Para repetir algo que escrevi em outra ocasião, se Dolan fosse eleito os outros 5 mil bispos do mundo poderiam tirar férias de 15 anos, porque ninguém mais os ouviria ou prestaria atenção neles.

Segundo, Dolan talvez não passe pela prova da "visão global". Ele não passou nenhuma parte significativa da carreira fora dos EUA, exceto pelos sete anos como reitor do Colégio Norte-Americano em Roma, de 1994 a 2001 – basicamente uma colônia americana. Além do inglês, ele fala um pouco de italiano e espanhol, mas fica nisso. No entanto, Dolan tem liderado os bispos americanos para que sejam mais enfáticos na denúncia da violência contra cristãos em todo o mundo, incluindo o Oriente Médio, África e partes da Ásia. Cardeais dessas regiões podem prestar atenção em Dolan e ver uma figura capaz de usar o capital político do papado em sua defesa.

Terceiro, Dolan não tem experiência no Vaticano, e alguns cardeais podem temer que, especialmente no começo do papado, ele fique dependente demais dos burocratas atuais. A esse respeito, alguns analistas em Nova York dizem que Dolan é um líder ad extra, que prioriza a relação com a mídia e os temas políticos da atualidade, e que ele não gasta muito tempo com a dimensão administrativa da arquidiocese.

Quando Dolan foi a Roma, em fevereiro de 2012, para buscar seu barrete de cardeal, ele chamou a atenção como futuro candidato ao papado, e a pergunta que todos faziam era "os outros cardeais estão prontos para um papa caubói?" A questão segue viva hoje.

Cardeal Sean O'Malley, 68 anos

Nos velhos tempos, em que o povo romano simplesmente escolhia o papa por aclamação e ameaçava invadir as fortificações papais se necessário, O'Malley já estaria eleito. Ele virou o queridinho da imprensa nas vésperas do conclave, o cardeal que está na boca das pessoas comuns. Seu hábito marrom de capuchinho, sua barba, seu sorriso e sua humildade já lhe renderam o amor dos romanos.

A reputação de O'Malley como um reformador da Igreja no caso dos abusos sexuais também lhe rendeu credibilidade, especialmente em um conclave que não terá um cardeal eleitor, Keith O'Brien, justamente por causa da admissão de uma conduta sexual imprópria.

Estes são os argumentos a favor de O'Malley

Primeiro, ele pode não ser ligado no 220 como Dolan, mas, com seu jeito quieto, ele é um evangelizador igualmente convincente. Sua personalidade destrói os estereótipos anticlericais mais comuns, projetando uma imagem de simplicidade e espiritualidade genuínas. Ele também tem histórico de atrair pessoas para a vida da fé: Boston tinha perto de 15 seminaristas quando O'Malley assumiu, em 2003; hoje são 70.

Segundo, ele passa fácil pelo teste da "visão global". Ele passou boa parte da carreira na América Latina e nas Ilhas Virgens, e tem profunda experiência pastoral trabalhando com a comunidade latina. Ele fala fluentemente português, espanhol, alemão e italiano. Além disso, o fato de O'Malley ser um capuchinho faz dele um cidadão do mundo. Como disse um vaticanista italiano, "quando ele vai a Assis, as pessoas o veem não como americano, mas como frade". A avaliação geral é de que O'Malley é o "menos americano" dos três candidatos do país, o que é visto como algo bom.

Terceiro, O'Malley tem comprovadamente a maior experiência relativa aos escândalos de abuso sexual entre todos os bispos católicos. Considerando que a recuperação desta crise está entre as prioridades do próximo papa, isso ajuda muito. É verdade que alguns críticos americanos descrevem o desempenho de O'Malley como ambíguo, mas as primeiras manchetes sobre sua eleição seriam, provavelmente, "Reformador é eleito papa".

Mesmo assim, há ressalvas.

Primeiro, e mais basicamente, muitos dos cardeais querem um governante forte, e há dúvidas sobre a capacidade de O'Malley a esse respeito. Por mais esquisito que pareça, muitos cardeais pensam que ele é uma pessoa bacana demais para ser papa – inclinado demais a dar o benefício da dúvida às pessoas, sensível demais aos ânimos alheios – e tomar as decisões difíceis. A famosa carta de novembro de 2004, em que O'Malley dizia que "às vezes peço a Deus para me chamar de volta e deixar algum outro terminar o trabalho" pode ainda ecoar nas mentes de alguns eleitores, ainda mais depois da renúncia de Bento XVI. Por outro lado, outros podem considerar que O'Malley, apesar da dificuldade inicial em Boston, acabou se dando bem, o que pode ser exatamente o histórico necessário para alguém que ascende ao papado.

Segundo, se Dolan já tem pouca experiência romana, a de O'Malley é zero. Ele é um completo desconhecido do mundo vaticano, e muitos cardeais não estão preparados para tentar a sorte nos dados e ver o que acontece.

Terceiro, pode haver reservas quanto a eleger um religioso, especialmente alguém da maior família religiosa do mundo, os franciscanos. Membros de outras ordens suspeitariam que o novo papa favoreceria seus confrades, e outros cardeais tradicionalmente acham que o papado ficaria melhor nas mãos de um padre diocesano, o que é visto como uma preparação mais adequada para o cargo.

Quarto, os mais "ratzingerianos" no Colégio de Cardeais provavelmente veriam Dolan como aquele com quem têm mais afinidade. É verdade que O'Malley é um homem de ortodoxia inquestionável, mas ele não é alguém profundamente dirigido pela ideologia, e muitas vezes aparece como moderado graças a seu estilo pastoral.

Tudo posto, se os cardeais estiverem inclinados a considerar um americano e ao mesmo acharem que Dolan é demais para o cargo, O'Malley seria uma opção. Se nada mais servir, pelo menos os últimos dias mostraram aos cardeais que O'Malley está em condições de ser o bispo de Roma, porque os próprios romanos estão chamando por ele.

Cardeal Donald Wuerl, 72 anos

Nem de longe ele vem recebendo atenção similar à de Dolan e O'Malley, mas, pelos critérios elencados no começo desse texto, Wuerl seria o mais forte dos candidatos americanos.

Primeiro, ele estudou tanto na Pontifícia Universidade Gregoriana quanto no Angelicum, com outros dez anos em Roma de 1969 a 1979, como padre-secretário do cardeal John Wright, então prefeito da Congregação para o Clero. Roma é o centro do mundo católico, e essa experiência colocou Wuerl em contato com bispos, teólogos e lideranças leigas do mundo inteiro, o que lhe dá um olhar cosmopolita sobre a Igreja. Nem é preciso dizer que Wuerl é fluente em italiano, o que é quase uma necessidade para o bispo de Roma.

Segundo, Wuerl entrou cedo na onda da "nova evangelização", dando palestras e publicando livros sobre o tema antes que ele virasse moda. Bento XVI o nomeou relator, ou secretário-geral, do último Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização, refletindo seu status como líder global no esforço de reviver o esforço missionário da Igreja. Wuerl tem sido um líder na catequese, e muitos cardeais o veem como uma escolha natural para seguir de onde Bento XVI parou.

Terceiro, e talvez mais importante, Wuerl tem um histórico de administrador eficiente, capaz de promover consensos e fazer com que tudo funcione bem. Ele também é visto como um centrista entre os bispos norte-americanos, alguém que não se inclina nem à direita nem à esquerda, o que lhe garantiu a confiança de bispos de diversas correntes. O desempenho de Wuerl no sínodo foi bem avaliado, com bispos afirmando que ele interveio em momentos críticos para romper impasses e manter o foco no evento. Como um veterano do Vaticano, Wuerl seria o americano mais capaz de controlar a burocracia vaticana, alinhando-a com os padrões modernos de gerenciamento.

Quarto, embora Wuerl receba as mesmas críticas que a maioria dos bispos americanos em relação aos casos de abuso sexual, ele foi um dos primeiros a reagir agressivamente. Em 1988, quando era bispo de Pittsburgh, ele removeu do ministério sacerdotal um acusado de abuso chamado Anthony Cipolla. Cipolla apelou ao Vaticano e conseguiu uma ordem de reintegração, mas Wuerl bateu o pé, levou Roma a rever o caso – e venceu. Isso não apenas dá a Wuerl uma imagem de proatividade, mas também reforça a noção de que ele conhece o caminho das pedras no Vaticano.

No entanto, também há alguns fatores que pesam contra ele.

Primeiro, justamente porque as possibilidade de Wuerl não têm sido muito divulgadas, muitos cardeais podem nem ter pensado sobre ele ao entrar no conclave. Diante de uma escolha tão importante, muitos cardeais podem não se sentir inclinados a dar um voto de confiança a alguém que eles não examinaram cuidadosamente.

Segundo, Wuerl não tem nem o charme de Dolan, nem o apelo capuchinho de O'Malley. Ele é visto com alguém mais eficiente nos bastidores que na linha de frente. De fato, alguns cardeais podem pensar que, se for para abrir de vez as portas do Vaticano aos norte-americanos, Wuerl estaria mais cotado para ser o primeiro secretário de Estado americano, em vez do primeiro papa americano.

Terceiro, a experiência romana de Wuerl é uma espada de dois gumes. Ele recorda com carinho o tempo em que tudo funcionava muito bem sob o então arcebispo Giovanni Benelli, o "substituto" (número dois da Secretaria de Estado) durante o pontificado de Paulo VI. Para cardeais com um viés antiburocracia, Wuerl pode soar preso demais aos velhos tempos, como adepto de uma maneira apenas mais eficiente de fazer negócios do jeito de sempre. Chama a atenção o fato de, enquanto muitos outros cardeais enfatizarem as questões de governança e reforma da Cúria Romana como pontos cruciais no conclave, Wuerl ter minimizado esses temas em detrimento dos imperativos espirituais e missionários que o próximo papa vai enfrentar. Isso pode levar cardeais a questionar se Wuerl estaria tão comprometido com a faxina quanto eles.

Quarto, o próprio Wuerl disse "não sei se seria a coisa mais sábia a fazer", sobre a eleição de um papa americano, porque "um papa de uma superpotência enfrentaria muita oposição ao tentar apresentar uma mensagem espiritual para o resto do mundo". É claro que isso pode ser visto como uma tentativa de desviar a atenção, mas outros cardeais podem ler a declaração como uma confissão das dúvidas do próprio Wuerl sobre a capacidade de aguentar o tranco.

Moral da história

O que tudo isso nos diz sobre um papa americano?

No dia da última audiência geral de Bento XVI, perguntei a um cardeal que tinha estado no conclave de 2005, e que é visto como um grande influenciador desta vez, o que ele pensava sobre a possibilidade de um papa americano. Ele respondeu "só se ficar evidente que nenhum dos candidatos mais fortes conseguirá os dois terços". E provavelmente ele está certo. Mas, em um conclave onde há dúvidas reais sobre a possibilidade de os favoritos chegarem ao número mágico de 77 votos, qualquer coisa pode acontecer.

Tradução: Marcio Antonio Campos

* John Allen Jr. é um dos mais experientes vaticanistas da atualidade. Jornalista do site norte-americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/), ele também colabora com o canal de televisão CNN e com a National Public Radio norte-americana. Allen é autor de vários livros sobre a Igreja Católica, incluindo duas biografias de Bento XVI, uma delas escrita quando Joseph Ratzinger ainda era cardeal. Duas de suas obras foram traduzidas para o português: Opus Dei, mitos e realidade, de 2005, e Conclave, de 2002, em que ele descreve os rituais que envolvem a sucessão do papa e apontava vários favoritos para assumir o posto após a morte de João Paulo II.

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