As autoridades americanas que ligaram à Al-Qaeda os atentados ocorridos recentemente na Grã-Bretanha e no Egito estão fazendo uma simplificação para se referir à violência provocada por extremistas islâmicos, o que diz pouco sobre quem está realmente por trás dos ataques, disseram especialistas e autoridades.
Várias autoridades da Grã-Bretanha e de outros países disseram que as bombas detonadas no sistema de transporte público de Londres no começo deste mês e as explosões ocorridas em Sharm el-Sheikh, no Egito, no último fim de semana pareciam ter a marca de ataques realizados pela rede Al-Qaeda.
As ações consistiram em detonações múltiplas e quase simultâneas, contra alvos bastante chamativos, apropriados para radicais muçulmanos que estivessem procurando deixar o maior número possível de vítimas.
O procurador-geral dos EUA, Alberto Gonzáles, afirmou no domingo que os dois conjuntos de ataques tinham "a cara" da Al-Qaeda, mas não ofereceu maiores detalhes.
- É apenas mais fácil dizer que é a Al-Qaeda - disse o general Russell Howard, um especialista em terrorismo que passou para a reserva neste mês. - Se começarmos a falar em Al-Qaeda para todos os grupos ligados à Al-Qaeda, e a todas as operações inspiradas pela rede, ficará muito mais difícil explicar como os derrotaremos e, em segundo lugar, ficará mais difícil admitir que não sabemos quem realmente está por trás dessas ações e por quê - disse Howard, que chefiava o programa de contraterrorismo na academia militar de West Point.
Apesar de uma série de prisões e de pistas colhidas pela perícia técnica em alguns dos locais atingidos, autoridades e especialistas em terrorismo dizem ser cedo demais para saber exatamente quem está por trás dos ataques de Londres, de 7 e 21 de julho, e dos ataques do Egito, de 23 de julho. Mais de cem pessoas foram mortas nas ações.
Segundo a polícia, os quatro homens responsáveis pelos atentados de 7 de julho eram muçulmanos britânicos - três deles eram de origem paquistanesa.
No Egito, a polícia prendeu 25 beduínos e estava procurando outros 50 "conhecidos terroristas internacionais", incluindo cinco paquistaneses, para interrogatório.
Nome em expansão - Originalmente, o nome Al-Qaeda referia-se a uma "base" de extremistas liderados por Osama bin Laden, que atualmente estaria escondido em algum lugar na fronteira entre Paquistão e Afeganistão.
Mas hoje a designação ganhou novas dimensões e passou a incluir organizações regionais, como o grupo indonésio Jemaah Islamiah, e o grupo de Abu Musab Al Zarqawi no Iraque. Há também grupos ligados de forma mais frouxa à rede e mesmo algumas organizações apenas inspiradas por ela.
Especialistas afirmam que é difícil identificar se a Al-Qaeda tem influência direta sobre esses grupos de radicais locais.
Uma autoridade americana que não quis ter ser sua identidade revelada disse que vários membros do governo dos EUA usaram o nome da Al-Qaeda para descrever coisas diferentes, para descrever desde grupos extremistas descentralizados e até o próprio Bin Laden.
Membros do primeiro escalão do governo americano, do presidente George W. Bush ao diretor da CIA (agência de inteligência americana), Porter Goss, disseram que a Al-Qaeda se tornou mais descentralizada desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Segundo esses representantes do governo, isso ocorreu porque boa parte dos líderes mais conhecida da Al-Qaeda naquela época foi morta ou capturada.
Uma outra autoridade, especializada em questões de terrorismo, mas que não tem autorização para falar com a imprensa, disse que vários membros das forças de combate ao terrorismo usaram a designação "Al-Qaeda e grupos afiliados" como uma simplificação para descrever esta rede mais amorfa.
- Gonzáles (procurador-geral dos EUA) pode ter simplificado a nossa simplificação - disse a autoridade.
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