Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que o principal desafio de Javier Milei, candidato libertário à presidência da Argentina, caso seja eleito, será na estruturação de uma base no Congresso. O primeiro turno ocorre neste domingo (22) e as pesquisas o apontam como favorito.
“A governabilidade de um eventual governo Milei dependerá da composição do Congresso, que será só parcialmente renovado no pleito, para aprovar as mudanças que propõe. Ele poderá ceder ao pragmatismo e buscar alianças com o grupo de Patricia, sendo que já foram iniciadas conversas com o ex-presidente Maurício Macri, de centro-direita”, avalia Leandro Gabiati, diretor da Dominium Consultoria.
O analista vê a corrida presidencial naquele país como ruptura da tradição bipartidária de 40 anos. “A emergência de uma terceira força, distinta da centro-esquerda peronista e da centro-direita tradicional, reflete o colapso do sistema político incapaz de enfrentar as crises. O candidato libertário é um exemplo notável desse cenário, mas o seu futuro ainda é incerto”, avaliou.
Milei conquistou 30% dos votos nas primárias e pode até vencer no primeiro turno, já que há cerca de 20% de eleitores indecisos – embora as pesquisas apontem para um segundo turno.
Caso não conquiste a Presidência no domingo (22), Milei poderá ser beneficiado se o seu adversário nas urnas em 19 de novembro for Sergio Massa, representante do impopular governo Alberto Fernández, quando o desejo reinante é de mudança. Se disputar com Patricia Bullrich, o eleitorado avesso ao peronismo vai se dividir.
Natália Fingermann, professora de relações internacionais do Ibmec-SP, enxerga a chance de Patricia Bullrich apoiar Milei contra Massa, caso ela não seja a desafiante e apesar do perfil antissistema dele. Tal acordo é, segundo a analista, essencial também para preparar o terreno para um governo do libertário.
“A capacidade dele de implementar qualquer uma das suas agendas polêmicas, como a dolarização e as reformas dos modelos públicos de saúde e educação, depende da aprovação de larga maioria parlamentar, por envolver questões de natureza constitucional”, avaliou.
A professora prevê a necessidade de Milei moderar posturas para não sofrer críticas da população caso as suas propostas sejam barradas dentro de um quadro social desafiador, com inflação mensal na casa de três dígitos, rumo à uma terceira hiperinflação, após as das décadas de 1980 e 1990. A decisão de sair do Mercosul, por exemplo, já sofreu alguma inflexão, pois grande parte do empresariado argentino se beneficia desse ambiente comercial.
“Mas o bloco sofrerá grandes dificuldades em um governo dele, com recuo dos esforços liderados pelo governo brasileiro para fortalecer alianças e ampliar número de membros”, observou. As relações bilaterais também deverão sofrer prejuízos na questão ambiental, considerada estratégica por Lula, mas irrelevante por Milei.