Curitiba Uma caminho para o fim do dilema ético que envolve as células-tronco embrionárias. É assim que alguns especialistas em genética estão avaliando a divulgação da pesquisa de cientistas norte-americanos e japoneses, que conseguiram fazer com que células simples da pele humana (fibroblastos) se comportassem como células-tronco embrionárias.
Ou seja, obtiveram o efeito "máquina do tempo" ao levar células humanas adultas a reagir como embrionárias, diz Roberto Waddington, presidente da CordVida (empresa especializada em células-tronco), com sede em São Paulo. "É um bom sinalizador de que um dia pode ser possível obter células-tronco, com a funcionalidade das embrionárias, a partir de células da pele, mas é uma perspectiva para o longo prazo. É uma promessa e os resultados ainda são incipientes", observa.
Seria o fim dos problemas éticos, avalia o médico Salmo Raskin, membro do Projeto Genoma Humano e presidente da Sociedade Brasileira de Genética Humana. "A pesquisa está em estágio inicial e se os cientistas alcançarem os padrões de segurança necessários seria uma boa alternativa ao uso de células embrionárias. Sem dúvidas, a descoberta é um marco."
Para Luiz César Guarita Souza, responsável pelo Núcleo de Regeneração Tecidual da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a pesquisa revela mais uma forma de se conseguir células-tronco, agora com as características presentes nas células-tronco embrionárias. "Os cientistas ainda vão precisar comprovar se a célula-tronco obtida a partir de células da pele terão a mesma capacidade de se diferenciar em todos os tecidos do organismo, como faz a embrionária (totipotente). O aspecto funcional dessa da nova célula descoberta não foi comprovado. Não se sabe se haveria diferenciação em células nervosas ou cardíacas, por exemplo."
Souza considera que o dilema ético sobre o uso de células embrionárias está sendo quebrado aos poucos, uma vez que há prazo de validade para a utilização. "No Brasil, usa-se esse material quando está próximo do vencimento da validade."
O uso de células-tronco embrionárias é condenado por grupos religiosos. Pela aptidão de se transformar em qualquer outro tecido do corpo humano, os cientistas pesquisam como as células-tronco embrionárias podem ajudar no tratamento de doenças degenerativas, como mal de Parkinson e diabete.