Igreja Católica e Bush aprovam nova técnica
Cidade do Vaticano e Washington O Vaticano comemorou ontem a nova alternativa de pesquisa para a criação de células-tronco, a partir da pele, anunciada por cientistas japoneses e americanos.
"A nova pesquisa que se apresenta não parece levantar problemas éticos", declarou o monsenhor Elio Sgreccia, presidente da Academia Pontifical para a Vida. A Igreja Católica "não se preocupa com processos técnicos, ela destaca apenas se um procedimento lesa ou não a dignidade humana. De resto, a ciência tem a liberdade de pesquisar", acrescentou Sgreccia.
É em nome do princípio do respeito da dignidade humana que a Igreja "sempre sustentou a ilegitimidade da clonagem humana e combateu a destruição de células-tronco embrionárias", lembrou o prelado. "Não podemos salvar a vida de uma pessoa matando outra. Isso é maquiavelismo ético", frisou.
Em washington, a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse "o presidente Bush está muito feliz". Bush se opôs ao financiamento com fundos federais para a pesquisa de células-tronco embrionárias. Ele alegou que a vida de uma pessoa começa com o embrião. Perino acrescentou que Bush "incentiva o avanço científico dentro de limites éticos".
O sucesso da reprogramação de células da pele humana pode beneficiar os republicanos na eleição presidencial americana.
Curitiba Uma caminho para o fim do dilema ético que envolve as células-tronco embrionárias. É assim que alguns especialistas em genética estão avaliando a divulgação da pesquisa de cientistas norte-americanos e japoneses, que conseguiram fazer com que células simples da pele humana (fibroblastos) se comportassem como células-tronco embrionárias.
Ou seja, obtiveram o efeito "máquina do tempo" ao levar células humanas adultas a reagir como embrionárias, diz Roberto Waddington, presidente da CordVida (empresa especializada em células-tronco), com sede em São Paulo. "É um bom sinalizador de que um dia pode ser possível obter células-tronco, com a funcionalidade das embrionárias, a partir de células da pele, mas é uma perspectiva para o longo prazo. É uma promessa e os resultados ainda são incipientes", observa.
Seria o fim dos problemas éticos, avalia o médico Salmo Raskin, membro do Projeto Genoma Humano e presidente da Sociedade Brasileira de Genética Humana. "A pesquisa está em estágio inicial e se os cientistas alcançarem os padrões de segurança necessários seria uma boa alternativa ao uso de células embrionárias. Sem dúvidas, a descoberta é um marco."
Para Luiz César Guarita Souza, responsável pelo Núcleo de Regeneração Tecidual da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a pesquisa revela mais uma forma de se conseguir células-tronco, agora com as características presentes nas células-tronco embrionárias. "Os cientistas ainda vão precisar comprovar se a célula-tronco obtida a partir de células da pele terão a mesma capacidade de se diferenciar em todos os tecidos do organismo, como faz a embrionária (totipotente). O aspecto funcional dessa da nova célula descoberta não foi comprovado. Não se sabe se haveria diferenciação em células nervosas ou cardíacas, por exemplo."
Souza considera que o dilema ético sobre o uso de células embrionárias está sendo quebrado aos poucos, uma vez que há prazo de validade para a utilização. "No Brasil, usa-se esse material quando está próximo do vencimento da validade."
O uso de células-tronco embrionárias é condenado por grupos religiosos. Pela aptidão de se transformar em qualquer outro tecido do corpo humano, os cientistas pesquisam como as células-tronco embrionárias podem ajudar no tratamento de doenças degenerativas, como mal de Parkinson e diabete.