Entrevista com Azafar Nafisi, escritora iraniana
Azar Nafisi é uma mulher sorridente, mas seu rosto muda quando fala sobre o Caso Sakineh. Envolvida na campanha para salvá-la, a escritora iraniana destaca o fato de o assunto ter atraído atenção e de mudar a forma como o mundo vê os iranianos. "O Irã, como a África do Sul, entrou no imaginário coletivo", disse, no Rio. Autora de Lendo Lolita emTeerã e O que eu não contei (Editora Record), ela sabe que seus livros são levados para o Irã, xerocados e lidos em grupo... mais ou menos como fazia o grupo de alunas que descreveu no primeiro livro.
Por que esse caso atraiu tanta atenção, já que não é algo propriamente novo no Irã?
Desde o início (da Revolução Islâmica), quando começaram a implementar leis contra a mulher, houve protestos. Milhares foram às ruas. No Irã isso não é novo: é novo no mundo. Em parte porque até o ano passado as principais imagens que saíam do país eram as que o governo determinava. (Mahmoud) Ahmadinejad estava em todos os lugares. Então houve as eleições e milhões de pessoas foram às ruas. Isso mostrou ao mundo que os iranianos eram diferentes do que diziam. Que são contra a tirania. Havia jovens como a que foi morta, Neda, havia as de chador, e estavam lado a lado. O mundo, pelo Twitter e pela mídia pôde ver uma imagem diferente. E disse para si mesmo: "Estas pessoas são como nós. Não é a cultura deles."
Neda e Sakineh se tornaram símbolos de diferentes tipos de opressão. Que semelhanças a senhora vê?
A determinação de como uma mulher deve se vestir, de acordo com o que o governo estabelece, é a mesma mentalidade que deseja controlar Sakineh. Não tolera outras vozes. Quando as pessoas dizem que isso é cultural ou que é islâmico, quero lembrar a eles que Sakineh é muçulmana; vem de uma família tradicional. Que Islã vamos aceitar: o Islã de Sakineh ou o de Ahmadinejad? Não faz parte do Islã de Sakineh matar. Sakineh e Neda eram diferentes, de gerações diferentes, mas queriam liberdade.
O Brasil se ofereceu para receber Sakineh. Há algo mais que o presidente Lula possa fazer?
Espero que insista, porque o regime iraniano não quer perder sua amizade. Eles chamam Obama de inimigo, mas não chamam Lula assim. E se tanto inimigos quanto amigos dizem "não façam isso", e se o regime iraniano for em frente e matar Sakineh, espero que o presidente Lula mostre o seu descontentamento, de uma forma clara.