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Colômbia

Espionagem: novidade na polêmica campanha presidencial colombiana

O candidato presidencial colombiano, Federico "Fico" Gutiérrez, da coalizão Equipo por Colombia, em apresentação a jornalistas, em Bogotá. (Foto: EFE/ Carlos Ortega)

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A campanha eleitoral da Colômbia subiu de tom 12 dias antes dos pleitos presidenciais com a denúncia de espionagem em uma das sedes do candidato de direita, Federico "Fico" Gutiérrez, feita nesta terça-feira (17) por ele mesmo e pela qual culpou diretamente o movimento de esquerda Pacto Histórico.

Os colombianos irão às urnas no último domingo de maio para eleger o sucessor do presidente Iván Duque, um processo que tem sido repleto de denúncias e acusações e que tem Gustavo Petro, do Pacto Histórico, como favorito, segundo as pesquisas, embora muito provavelmente terá que disputar um segundo turno contra Gutiérrez em 19 de junho.

"Quero denunciar publicamente que em uma de nossas sedes de campanha, precisamente na sede administrativa na cidade de Medellín, na tarde da última sexta-feira foi encontrado um dispositivo que aparentemente estaria transmitindo informações em tempo real sobre o que se discutia ali", disse "Fico" Gutiérrez a repórteres durante um ato de campanha em Bogotá.

Cadeia de denúncias

Essa denúncia está ligada a outra em que a campanha de "Fico" Gutiérrez alerta para uma suposta ameaça dos paramilitares Águias Negras e a possível interferência de membros da "Primeira Linha" - o grupo que enfrenta a polícia em protestos sociais - em seus comícios e outros eventos para causar desordem.

Por sua vez, a direção da campanha do Pacto Histórico assegurou que não realizou uma atividade ilegal. "O nervosismo da campanha de Federico Gutiérrez por causa das pesquisas faz com que eles cometam imprecisões. Não há atividade ilegal por parte da campanha de Gustavo Petro", garantiu o chefe da campanha de Petro, Alfonso Prada.

A campanha eleitoral também foi abalada há duas semanas por um suposto plano de ataque contra Petro. Depois de fazer a denúncia, o candidato de esquerda suspendeu a viagem que faria ao Eje Cafetero, no centro do país, uma vez que, segundo relatos, a quadrilha criminosa La Cordillera, atuante na cidade de Pereira, supostamente planejava assassiná-lo.

Petro suspendeu suas aparições públicas por três dias e, após receber reforço de sua segurança, retornou aos palanques com colete à prova de balas e fortemente escoltado por guarda-costas com escudos blindados.

Passado guerrilheiro

Falando hoje sobre a campanha “suja” e o plano de uma senadora eleita pelo Pacto Histórico de "queimar" sua candidatura na próxima semana com uma série de acusações, "Fico" Gutiérrez lembrou Petro de seu passado como guerrilheiro do M-19 , movimento armado ao qual pertenceu em sua juventude.

O M-19 foi um grupo armado fundado em meados da década de 1970 e desmobilizado em 1990 graças a um acordo de paz com o governo para se tornar o partido político Alianza Democrática M-19, que já não existe mais.

"Falar em queimar candidatos, é o que eles sabem, queimar, assim como queimaram o Palácio da Justiça, assim como queimaram magistrados, assim como queimam veículos, assim como queimam CAIs (delegacias). Então aqui, de forma simbólica, eles querem queimar candidatos", criticou Gutiérrez.

A tomada do Palácio da Justiça de Bogotá, à qual o candidato se referiu, começou em 6 de novembro de 1985, quando 35 guerrilheiros do M-19 invadiram o prédio e fizeram cerca de 300 reféns, incluindo magistrados do Supremo Tribunal e do Conselho de Estado, funcionários públicos, empregados do refeitório e visitantes.

A invasão terminou no dia seguinte quando o Exército retomou o palácio a sangue e fogo, com um saldo de 94 mortos, incluindo 11 magistrados, dezenas de feridos e 11 desaparecidos, bem como o edifício reduzido a escombros.

Perguntas a Petro

Gutiérrez, que nos últimos dias também denunciou uma infiltração em sua campanha supostamente por pessoas próximas a Petro, assegurou que o que foi encontrado em sua sede administrativa em Medellín é “um microfone com placa de gravação".

"Quero perguntar ao senhor Petro se foi ele quem instalou esse microfone em nossa sede. Por que eles estão nos espionando? O que eles estão tentando fazer? Por que estão infringindo as leis e regulamentos?", questionou.

Gutiérrez afirmou ainda que "o candidato Petro, seu advogado e vários personagens dessa campanha reconheceram publicamente que se infiltraram em nossa campanha", razão pela qual os apontou como possíveis responsáveis pelo dispositivo de escuta e gravação encontrado.

As duas candidaturas têm desenvolvido suas atividades não apenas em praça pública, em debates e fóruns, mas também os têm levado aos tribunais.

O advogado da campanha de Gutiérrez, Majer Nari Abushihab, juntamente com seu chefe de debate, Luis Felipe Henao, denunciaram o que consideraram "grave assédio e truques sujos” cometidos pela campanha de Gustavo Petro.

Em vista do tom das últimas semanas, nada indica que o confronto entre as duas campanhas se amenizará nos 12 dias que faltam para as eleições.

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