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Yulimar Rojas, que conquistou a única medalha de ouro venezuelana na Olimpíada de Tóquio, fez campanha pela anexação do Essequibo
Yulimar Rojas, que conquistou a única medalha de ouro venezuelana na Olimpíada de Tóquio, fez campanha pela anexação do Essequibo| Foto: EFE/EPA/ANNA SZILAGYI

Ao contrário da aliada Cuba, a Venezuela nunca foi uma potência olímpica, mesmo antes do chavismo: suas medalhas a cada Olimpíada podem ser contadas nos dedos de uma mão, no máximo.

Porém, mesmo com expectativas baixas, nos atuais Jogos de Paris, os atletas venezuelanos ainda não conseguiram nenhum pódio – em Tóquio, há três anos, foram quatro medalhas ao longo de todo o evento. No Rio-2016, foram três pódios.

Outro parâmetro, o número de esportistas competindo na Olimpíada, traduz a crise econômica, política e social que o chavismo acentuou nos últimos anos. Apenas 33 atletas da Venezuela se classificaram para participar das disputas na França, o menor número desde Seul-1988.

Em recente entrevista à agência EFE, Luis Salas, ex-diretor de alto rendimento do Ministério da Juventude e dos Esportes, afirmou que a crise econômica e as sanções impostas devido à falta de democracia na Venezuela geram efeitos já a partir do esporte de base.

Segundo ele, hoje há uma falta de cerca de 60 mil professores de educação física no país, 20 mil a mais do que duas décadas atrás. Essas deficiências aumentam conforme sobe a escala de rendimento esportivo e hoje o país tem menos de 400 treinadores de alto rendimento, segundo Salas, pouco para uma população de 28 milhões de habitantes.

“É necessário muito mais investimento [do que o atual] para poder competir com as grandes potências”, disse o especialista.

Apesar do mal que Nicolás Maduro faz ao esporte e à sociedade da Venezuela, muitos atletas bajulam o ditador. O caso mais emblemático talvez seja o de Yulimar Rojas, que conquistou a única medalha de ouro venezuelana na Olimpíada de Tóquio, no salto triplo.

Ela visitou o ditador várias vezes e no ano passado fez campanha pelo “sim” num contestado referendo, por meio do qual a ditadura chavista perguntou à população da Venezuela se aprovava que o governo tomasse ações para anexar a região do Essequibo, correspondente a 70% do território da vizinha Guiana.

Rojas apareceu num vídeo passeando com uma bandeira da Venezuela numa área de mata densa, que não se sabe ao certo se era realmente parte do Essequibo. “Defenda, vote e proteja. Pela nação que amamos e nos protege. Participe neste dia 3 de dezembro, porque o Essequibo é nosso”, disse a saltadora no vídeo.

Rojas, que não compete em Paris devido a uma lesão, mas está junto com a delegação venezuelana em Paris, voltou a protagonizar um episódio lamentável durante a eleição presidencial do último dia 28, que o chavista Conselho Nacional Eleitoral (CNE) diz ter sido vencida por Maduro, apesar de indícios robustos de fraude.

O ministro dos Esportes da ditadura chavista, Mervin Maldonado, postou no X fotos de Rojas e de outro medalhista olímpico, o halterofilista Julio Mayora (prata em Tóquio), votando no consulado venezuelano em Paris.

As imagens foram muito criticadas nas redes sociais porque o regime de Maduro impôs dificuldades e vários membros da diáspora venezuelana não conseguiram votar nos países onde estão radicados.

Rojas, que Maduro já disse considerar “parte da família”, e os outros atletas da Venezuela em Paris foram também cobrados por não se manifestarem sobre a fraude na eleição presidencial.

Coube a atletas venezuelanos que não participam dos Jogos Olímpicos que estão sendo realizados na França publicar mensagens condenando a falta de transparência no pleito e a repressão aos protestos que ocorrem desde então.

“Que ninguém esqueça que é o povo que manda, não um governo. Que ninguém se esqueça a quem devem as instituições e as forças de segurança, porque é ao povo e não a um governo. Não há pior cego do que aquele que não quer ver”, disse no X o carateca Antonio Díaz.

O ex-jogador de beisebol Johan Santana, que atuou na MLB, a maior liga dessa modalidade no mundo, também condenou no X a fraude chavista e a repressão aos manifestantes.

“Durante anos representei meu país com orgulho, comprometimento e respeito. Como figura pública, sei que sempre nos idolatrarão ou nos criticarão pelas nossas ações (e entendo isso, porque é a nossa natureza), mas como cidadão venezuelano, peço que a vontade do povo seja respeitada e que os direitos de todos os cidadãos venezuelanos sejam respeitados”, afirmou.

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