Washington (AE/AP) Os advogados de Lewis Scooter Libby, ex-chefe de gabinete do vice-presidente norte-americano, Dick Cheney, deverão recorrer na defesa dele perante a Justiça a uma tradicional estratégia quando o réu envolvido num escândalo é uma renomada personalidade: o esquecimento. Não se pode esperar que um funcionário categorizado do governo, imerso em seus importantes afazeres, possa lembrar-se de detalhes de conversas mantidas muito tempo atrás, argumentam eles.
"Nos causa angústia o fato de que (o juiz) não tenha levado em consideração que o senhor Libby possa ter se esquecido de muitos aspectos do caso ao acusá-lo de declarações falsas", lamentou o advogado Joseph Tate.
Libby foi acusado pelo promotor Patrick Fitzgerald de ter mentido várias vezes no caso da agente Valerie Plame que teve suas funções na CIA revelada publicamente. O juiz apresentou cinco denúncias contra o homem de confiança de Cheney, que em razão disso renunciou a seu cargo: uma de obstrução à Justiça, duas de perjúrio e duas de falso testemunho.
Acusação
O nome da agente foi publicado num artigo de jornal em 2003, numa flagrante violação das leis federais. O marido de Valerie, o ex-diplomata Joseph Wilson, classificou a revelação da função da mulher dele de "ato de vingança da Casa Branca". Wilson havia acusado o governo de ter forjado os pretextos para invadir o Iraque.
O vazamento da identidade dela teria sido obra de Libby, que, segundo apurou o jornal The New York Times, teria recebido a informação de seu chefe, Cheney.
Segundo o juiz Fitzgerald, Libby disse ao FBI que ficou sabendo do cargo de Valerie pelo jornalista Tim Russert, da NBC. E depois comentou o fato com outros repórteres sem saber, ao certo, se a mulher de Wilson era uma espiã. "Essas afirmações dele eram falsas", assegurou o juiz, ressaltando que Libby já havia conversado com diversos jornalistas sobre o caso antes de ter falado com Russert. "Quanto a Russert, nunca disse nada sobre Plame a Libby", destacou o juiz.
Curiosamente, Fitzgerald não acusou o ex-assessor de Cheney pelo vazamento do nome da agente, o verdadeiro motivo das investigações de dois anos do júri de instrução. O juiz recusou-se a comentar esse fato.
O principal estrategista político do presidente George W. Bush Karl Rove, escapou, por enquanto, de indiciamento. Mas o promotor afirmou que as investigações envolvendo Rove continuam.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura