Figuras de um elenco multifacetado, que vai de freiras e anarquistas, os 100 mil ativistas reunidos em Belém para a nona edição do Fórum Social Mundial só concordam em uma coisa: é difícil odiar Barack Obama.

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A primeira edição do evento, em janeiro de 2001, em Porto Alegre, praticamente coincidiu com o início do mandato presidente George W. Bush, que desde então foi alvo constante para manifestações antiamericanas nos Fóruns Sociais Mundiais.

Mas desta vez, na semana seguinte à posse de Barack Obama como presidente dos EUA, o nível de antiamericanismo entre os participantes é notavelmente menor.

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"As pessoas simplesmente vêm dizer: 'Ah, meu Deus, muito obrigado', ou levantam o polegar, coisas assim", disse o universitário norte-americano Chad Gray.

A guerra de Bush no Iraque e suas políticas domésticas fizeram do ex-presidente uma figura profundamente unificadora para a esquerda mundial. Fotos dele costumavam ser queimadas em manifestações das mais variadas, um tipo de protesto que parece mais improvável agora que Barack Obama se tornou o primeiro presidente negro da história dos EUA.

Muitos, na verdade, sentem a falta de Bush, que de tão impopular no mundo inteiro acabava ajudando os grupos radicais a atraírem militantes e a levarem gente para as ruas.

"Certamente isso vai representar uma dificuldade para o movimento", disse Altenir Santos, do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), que distribuía panfletos e vendia camisetas com a foice-e-martelo nesta quarta-feira, primeiro dia depois da passeata de abertura do Fórum.

"As expectativas são elevadas, porque ele é uma pessoa nova, mas acreditamos que suas políticas serão as mesmas."

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"Nem todo mau, nem todo bom"

A esquerda, especialmente a mais extrema, pode ter dificuldades em justificar seu antiamericanismo se Obama conseguir promover uma agenda progressista, disse o sociólogo brasileiro Zander Navarro, do Instituto de Estudos do Desenvolvimento, na Universidade de Sussex (Grã-Bretanha).

"Se ele encontrar uma forma de estabelecer relações parciais com Cuba, por exemplo, ou de suspender o bloqueio econômico, a esquerda se verá paralisada", disse Navarro, um esquerdista historicamente ligado à militância pela reforma agrária.

O encontro de Belém traz à Amazônia grupos como comunistas, gritando contra o "imperialismo" dos EUA, ambientalistas, socialistas mais moderados e até esotéricos, além de alguns presidentes.

Previsivelmente, há uma divisão sobre o caráter positivo do governo Obama, embora ele já tenha determinado o fechamento da prisão militar de Guantánamo, algo que há anos a esquerda reivindicava.

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"Bush não foi de todo mau, nem Obama é de todo bom. As pessoas terão de ver que é mais complicado do que isso", disse Ze Oumon, pesquisador do Centro Nacional da Bélgica para a Cooperação e o Desenvolvimento.

"Ele é o presidente dos Estados Unidos, então isso talvez signifique ter alguns interesses especiais."

Mas Bertrand Monthubert, do Partido Socialista Francês, disse que, mesmo que o governo Obama não se mostre tão revolucionário quanto alguns esperam, ainda assim será uma melhora em relação ao governo Bush, e um avanço para a esquerda.

"Para sermos unidos temos de ter alguns exemplos de governos de esquerda que dão certo", disse ele. "O mais terrível para os trabalhadores e para as pessoas que lutam por comida e alimento pode ser não ter esperança. Então pelo menos ter uma esperança dessa é um jeito de reforçar a sua luta."

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