Contrário às medidas de austeridade na Grécia, o partido de esquerda radical Syriza venceu neste domingo (25) as eleições legislativas realizadas para formar um novo governo no país.
Com 70% dos votos apurados, o Syriza conseguiu 149 das 300 cadeiras do Parlamento. O segundo colocado, o centro-direita Nova Democracia, do atual primeiro-ministro Antonis Samaras, obteve 77.
O próprio Samaras já reconheceu a derrota em Atenas. O Syriza precisa de apenas mais duas cadeiras para governar sozinho --caso contrário, terá de negociar coalizão com legendas menores.
A vitória do partido, uma união feita em 2004 de várias tendências de esquerda, transformará em primeiro-ministro Alexis Tsipras, um jovem político de 40 anos que fez campanha criticando credores e prometendo resgatar a "dignidade" da Grécia.
No discurso em Atenas, após o resultado, ele mandou um recado para a Europa: programa de recuperação dos países em crise baseado em medidas de austeridade fiscal, chamado de "troica", ficou no "passado".
"A população grega fez história e deixou para trás cinco anos de humilhação e sofrimento. Vamos recuperar nossa soberania, com nossas propostas de negociação", disse o líder de esquerda.
Se a esquerda comemora, por outro lado as principais lideranças europeias assistem com apreensão à vitória de quem defende o perdão de 50% da dívida pública, hoje em torno de 320 bilhões de euros (175% do PIB), e uma moratória temporária do restante.
O Syriza assusta as potências da União Europeia, como Alemanha, Reino Unido e França, porque pode romper compromissos financeiros firmados pelo país dentro do bloco e impactar as contas públicas da já frágil economia grega.
O discurso de campanha foi em cima das medidas de austeridade fiscal negociadas e compromissadas pela Grécia para receber em troca, desde 2010, um socorro de 245 bilhões de euros do FMI (Fundo Monetário Internacional) e BCE (Banco Central Europeu).
Para o Syriza, o ajuste fiscal, marcado por aumento de impostos e cortes de gastos em salários e cargos públicos, não melhorou a vida da população e levou a Grécia a uma dívida pública impagável.
O premiê Antonis Samaras disse, ao reconhecer o resultado, que seu governo foi positivo e avisou os que chegam: deixa o posto com a Grécia integrante da União Europeia e da zona do euro.
A Grécia, de fato, deu sinais de que saiu da recessão no fim de 2014, pela primeira vez em seis anos, mas apresenta, por exemplo, a maior taxa de desemprego da Europa, em torno de 25% --sendo de 60% entre os jovens. Sua economia encolheu 25% desde 2008.
Festa e eleição
Logo após os primeiros resultados, a praça Klathmonos, em Atenas, foi tomada por militantes do Syriza e por lideranças de outros países.
"Eu nunca imaginei que ganharíamos uma eleição. É a última chance de a Grécia se recuperar da crise", celebrou a estudante de ciências sociais Mina Kostopoulou, 22. "É o fim da austeridade e o recomeço do crescimento", disse Nikos Alexatos, 36, empunhando uma bandeira grega.
Ao todo, 9,8 milhões de pessoas estavam aptas para votar. A eleição foi convocada em dezembro depois que a coalizão de Samaras, no poder desde 2012, não conseguiu os votos necessários para eleger o novo presidente do país. Embora a Presidência seja um cargo simbólico, a sua não eleição significa, em tese, que o governo perdeu maioria --e a Constituição determina novas eleições legislativas.
O episódio foi um revés político para Samaras porque ocorreu justamente num momento em que a popularidade do Syriza crescia na população grega, sobretudo na atingida pelas medidas de austeridade.