Seu campo, diziam, estava tão encharcado de sangue que nem grama crescia ali. Durante anos, os únicos espetáculos no Estádio Ghazi, na capital afegã, eram as execuções, os apedrejamentos e as mutilações feitas pelo Taliban, que governou o país de 1996 até 2001. Nesta quinta-feira (15), milhares de jovens atletas afegãos usando uniformes de futebol, trajes de boxe e de corrida e os quimonos brancos das artes marciais foram até o estádio para celebrar sua reinauguração oficial. A grama foi tirada e substituída por relva verde brilhante artificial, parte de uma reforma patrocinada pelos EUA. "De todos os projetos internacionais implementados no Afeganistão, esse é o mais popular, o que desfruta do apoio de todos os afegãos", disse o presidente do Comitê Nacional Olímpico do Afeganistão, general Mohammad Zaher Aghbar, goleiro do time de futebol do exército por cinco anos.

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"O lugar que já foi usado para executar pessoas durante o governo do Taliban, e então o futebol jogado sobre o sangue deles, agora foi transformado em um local pacífico", disse. "O esporte ajuda as sociedades a se unirem, vai reforçar nossa unidade nacional", disse Aghbar, acrescentando que estava tentando atrair equipes de futebol e boxe para eventos no Estádio Ghazi no início de 2012. Ghazi é um título geralmente usado para descrever guerreiros muçulmanos que massacram infiéis na batalha, mas também é conferido por muitos afegãos aos que lutaram contra o Exército britânico pela independência do país no início do século 20. Durante a cerimônia de inauguração, o comandante da Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) e das tropas dos EUA no Afeganistão, o general norte-americano John Allen, e outras autoridades militares foram homenageados com medalhas.

A nova grama artificial será certificada pela Fifa, o que permitirá que os jogos no estádio de Cabul sejam reconhecidos internacionalmente. "É muito importante que o estádio tenha sido reformado e agora esteja pronto para uso pelos atletas. Durante os dias do Taliban era usado para coisas horríveis, e hoje seu renascimento começou. É um dia realmente positivo para o Afeganistão", disse um porta-voz da embaixada dos EUA. Enquanto os atletas começavam a desfilar ao redor do estádio, o jornalista Zabiullah, um afegão de 58 anos que testemunhou as execuções do Taliban, apontou para o que agora é o canto da área de pênalti, marcada por linhas brancas. "Havia um ladrão que roubou algo de seu vilarejo. Eles cortaram a mão dele, bem aqui", disse. "Um homem e uma mulher mantinham relações sexuais ilegais. Foram pegos, trazidos para cá, receberam 100 chicotadas e a ordem de se casarem. Também vi pessoas sendo degoladas ou mortas a tiros. Os afegãos nunca esquecerão essas más lembranças. Agora, homens e mulheres, meninas e meninos, podem assistir a um jogo pacífico juntos".

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