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Arte e Design

Estádio olímpico divide japoneses

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Para algumas pessoas, o estádio olímpico projetado pela arquiteta Zaha Hadid, ganhadora do Prêmio Pritzker, para os Jogos de 2020 lembra uma nave espacial de contornos agradáveis. Mas muitas outras o deploram.

Orçada em R$ 3,60 bilhões, a construção pode se tornar o estádio olímpico mais caro da história recente. "Para que precisamos deste elefante branco?" perguntou Fumihiko Maki, também ganhador do Prêmio Pritzker. "Tóquio não é um zoológico."

Há quase um ano, chovem críticas ao projeto de Hadid. Cerca de 500 pessoas foram às ruas há alguns meses para protestar contra o projeto, descrevendo-o como grande e caro demais.

Hadid sugere que seus críticos estariam indignados com a contratação de uma arquiteta não japonesa.

"Não querem que uma estrangeira construa um estádio nacional em Tóquio", disse a britânico-iraquiana em entrevista à revista "Dezeen".

Além dos méritos do projeto de Hadid, a discussão mostra como os estádios olímpicos suscitam reações mais viscerais que praticamente qualquer outro tipo de construção e como obras públicas maciças e caras são símbolos potentes de maestria arquitetônica e orgulho econômico —estruturas em que os países investem nada menos que suas identidades nacionais.

Às vezes, um país parece encontrar o tom certo, como a China fez em Pequim com o Estádio Nacional que ergueu para as Olimpíadas de 2008, apelidado de Ninho de Pássaro.

O estádio de Tóquio enfrenta um desafio que também perseguiu seus semelhantes: precisa evitar se tornar um peso econômico. Para isso, terá que encontrar uma função depois da cerimônia de encerramento dos Jogos.

O estádio de Montreal, por exemplo, criado pelo arquiteto francês Roger Taillibert para as Olimpíadas de 1976, deixou a cidade com uma dívida de R$ 3,95 bilhões que ela levou 30 anos para saldar, levando a estrutura a mudar de apelido, de "Big O" (O Grande) para "Big Owe" (Dívida Grande). Os eventos ali são esporádicos, como também acontece com o estádio usado nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

Uma história de sucesso é a do Coliseu Memorial de Los Angeles, usado como arena olímpica em duas ocasiões (em 1932 e em 1984) e que ainda hoje é palco de competições esportivas e outros eventos.

No momento em que avaliam as cidades candidatas a sediar os Jogos de 2024, as autoridades olímpicas estão dando ênfase ao uso contínuo. "O problema dos estádios olímpicos é o compromisso avassalador", comentou Jacques Herzog, um dos arquitetos responsáveis pelo Ninho de Pássaro. "É preciso pensar no que vai acontecer depois de os Jogos terminarem. A maioria dos estádios não tem utilidade depois disso."

Em Tóquio, o Conselho de Esportes apresentou um plano pós-olímpico detalhado para o novo estádio de 80 mil lugares. O plano abrange eventos esportivos, culturais e cívicos. Mas o planejamento não suavizou as críticas ao projeto. Alguns temem que o estádio invada o espaço do vizinho e histórico Santuário Meiji.

As autoridades japonesas reagiram reduzindo as dimensões e o orçamento da obra proposta.

A versão inicial de Hadid custaria cerca de R$ 6,6 bilhões, mais de o dobro do R$ 2,90 bilhões orçados inicialmente para o estádio.

Depois do enxugamento do projeto, um arquiteto japonês destacado, Arata Isozaki, escreveu que ficou "chocado ao ver que o dinamismo do projeto original desapareceu" na nova versão. "O que restou é uma forma desinteressante", escreveu, "como uma tartaruga que espera o Japão afundar para que possa nadar para longe."

Thomas Hanrahan, reitor da Escola de Arquitetura do Instituto Pratt, em Nova York, comentou: "Os estádios sempre parecem se enquadrar numa categoria esdrúxula: a das construções que são um símbolo nacional poderoso por pouquíssimo tempo e depois viram potenciais elefantes brancos".

Colaborou Hisako Ueno

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