Mulheres e crianças que viviam em Baghouz, o último reduto do Estado Islâmico na Síria, que foi evacuado pelas Forças Democráticas da Síria. 6 de março de 2019| Foto: Delil Souleiman / AFP

O Estado Islâmico assumiu em grande parte o controle de um enorme acampamento no nordeste da Síria, e não há planos para o que fazer com as 70 mil pessoas (incluindo mais de 50 mil crianças) que estão lá. Os Estados Unidos e a Europa devem enfrentar imediatamente essa urgente crise de segurança nacional e humanitária, antes que um novo califado seja estabelecido enquanto assistimos.

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Após a queda de Raqqa e a derrota das fortalezas do Estado Islâmico pelas forças da coalizão, o presidente Donald Trump anunciou que "100%" do califado foi destruído. Mas as dezenas de milhares de combatentes do Estado Islâmico e seus familiares que sobraram foram levados a imensos campos cercados para deslocados internos com pouca ajuda, segurança ou supervisão. Separados dos campos de deslocados internos, que abrigam majoritariamente mulheres e crianças, mais de 2.000 combatentes do Estado Islâmico estão em uma rede de prisões improvisadas. Todo o sistema é gerenciado por curdos das Forças Democráticas da Síria (FDS), que não têm recursos suficientes, têm falta de pessoal e são aliadas dos Estados Unidos, que já se preparam para sair de lá.

No maior campo de deslocados, chamado al-Hol, o Estado Islâmico exerce agora mais influência e controle do que as poucas dezenas de guardas da FDS posicionados lá, de acordo com autoridades, legisladores e especialistas dos EUA. As mulheres do Estado Islâmico criaram um corpo policial de moralidade dentro do campo, aplicando a lei sharia e até realizando execuções brutais, disseram autoridades. O Estado Islâmico está recrutando pessoas do campo, contrabandeando combatentes para dentro e para fora e usando-o para planejar ataques em outras partes da Síria. Se já não for efetivamente o Califado 2.0, logo será.

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"O campo de deslocados al-Hol está rapidamente se tornando um mini-califado e um terreno de recrutamento fértil para o EI", disse-me o senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul. "A segurança ao redor do acampamento é incrivelmente fraca, e o campo está sendo dirigido por pessoal do EI debaixo do nosso nariz".

Repatriar ou expulsar?

Cerca de 11 mil dos 70 mil, na sua maioria mulheres e crianças, que estão no al-Hol vêm de outros países que não o Iraque ou a Síria. A maioria desses países se recusou a aceitar de volta seus cidadãos, deixando-os em condições precárias que facilitam o recrutamento pelo Estado Islâmico. Os Estados Unidos receberam de volta 21 deslocados internos do Estado Islâmico e estão processando todos os adultos que viajaram para a Síria. Mas a maioria dos países europeus recusou essas pessoas; alguns até mesmo retiraram a cidadania dos membros do Estado Islâmico.

"A resposta europeia quando se trata de combatentes do Estado Islâmico tem sido patética e perigosa", disse Graham. "Quando se trata de al-Hol, as luzes vermelhas estão piscando. Nós ignoramos isso por nossa própria conta e risco".

Trump, frustrado com a postura da Europa, de fato ameaçou "libertar" milhares de combatentes do Estado Islâmico para a Europa, o que provavelmente foi uma piada. Mas na falta de alguma ação, eles poderiam chegar à Europa de qualquer maneira. Autoridades me disseram que os moradores de al-Hol afiliados ao Estado Islâmico já apareceram em diferentes partes da Síria e da Turquia.

Um novo relatório do inspetor geral do Departamento de Defesa disse que o Estado Islâmico está ativamente recrutando dentro de al-Hol. O inspetor disse que repatriar seus residentes é fundamental para resolver esse problema. "A incapacidade das FDS em fornecer mais do que uma 'segurança mínima' no campo permitiu que as 'condições não contestadas ​​propagassem a ideologia do EI'", disse o relatório.

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Uma atitude dos EUA

A crise humanitária e de segurança em al-Hol é agravada pela retirada das forças dos EUA do nordeste da Síria e pela incerteza do compromisso dos EUA na região. A administração Trump tem sido vaga sobre seus planos na Síria, em parte porque as autoridades do governo sabem que o presidente poderia interromper a operação toda a qualquer momento. Mas essa ambiguidade prejudica a liderança americana necessária para enfrentar essa crise.

"Se o presidente quiser ser bem sucedido no combate ao EI, ele terá que engolir a dura realidade do que é necessário e se comprometer muito mais. E seus funcionários têm que encontrar coragem para tratar disso com ele e com o público", disse Charles Lister, diretor de contraterrorismo do Middle East Institute em Washington. "O que está em jogo agora é tão importante que não podemos continuar a sussurrar sobre a realidade de como as coisas estão ruins".

Além de repatriar membros de famílias, a comunidade internacional deve abordar como manter presos os combatentes extremistas e criar um sistema prisional que não dependa apenas das FDS. Os Estados Unidos devem aumentar imediatamente a segurança nas prisões e nos campos. Deve haver algum esforço para desradicalizar as crianças que podem ser salvas. Se tudo isso não for feito logo, toda a estratégia dos EUA para garantir a derrota duradoura do Estado Islâmico ficará sem sentido.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, 65% dos moradores de al-Hol têm menos de 12 anos e 20 mil têm menos de 5 anos, o que significa que eles nasceram no primeiro califado. Se permitirmos que essas crianças cresçam no Califado 2.0, serão os nossos filhos que teremos que enviar de volta para lutar contra eles algum dia.