Antes de perder território para combatentes curdos no Noroeste da Síria, o Estado Islâmico concentrava um esquema sofisticado de passagem pela fronteira na Turquia, segundo documentos obtidos pelo “Guardian”. Pelo menos entre 2014 e 2015, os jihadistas controlavam a movimentação de novos combatentes e famílias com registros e selos de aprovação por parte de departamentos próprios de imigração e transporte.
Assim como outras evidências dos esforços do EI para controlar seus territórios como um Estado, o grupo fazia as operações em Tel Abyad, retomada por forças curdas. Ali, facilitavam a entrada pela fronteira, controlando quem entrava. Entre os documentos obtidos pelo “Guardian”, recuperados por combatentes curdos, estavam várias crianças, listadas para entrada com suas famílias.
Grande parte dos que circulavam na região são tunisianos. Um arquivo mostra um grupo de vários homens e mulheres da cidade de Kairouan, onde o radicalismo tem força, adentrando o território do EI. Da cidade, veio o atirador que matou 30 pessoas numa praia do resort de Sousse. Mais de 6 mil tunisianos foram ao Iraque e à Síria para se juntar a grupos terroristas.
Muitos dos ônibus que saíam da área fronteiriça iam para a cidade de Raqqa. Acredita-se que, lá, as famílias se juntassem para que combatessem junto ao EI. A formalização dos documentos de movimentação e permanência nos territórios indicava agências em Mossul (Iraque) e Raqqa, as capitais do EI.
A Turquia é acusada por vários países de não conseguir fechar a fronteira com a Síria, facilitando a entrada de novos combatentes. No meio da briga diplomática pela derrubada de um caça russo, o presidente Vladimir Putin afirmou que o governo local se beneficiava do comércio de petróleo pertencente ao EI.
“Não conseguimos simplesmente selar a fronteira com soldados em cada canto. De qualquer forma, não há qualquer Estado do outro lado da fronteira”, disse o premiê turco, Ahmet Davutoglu, ao “Independent”.
Mais de 200 mil pessoas foram presas pelas forças turcas por cruzar ilegalmente a fronteira sírio-turca. Acadêmico da universidade de Columbia, David Phillips investiga laços entre Turquia e EI e acredita que a realidade é diferente.
“O país sabe os movimentos de todas as pessoas na região, e pode controlar se quiser. É possível ver veículos, pessoas, armas, petróleo, tudo isso indo e vindo. Não é com ose fosse uma viagem tão árdua para entrar na Síria”, contou ao “Guardian”.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”