Responsável por uma grande missão humanitária na Geórgia, o chefe do Pentágono, Robert Gates, disse nesta quinta-feira que a incursão militar da Rússia na Geórgia "põe em dúvida o diálogo" com os Estados Unidos, e advertiu para as "conseqüências adversas" que causará a longo prazo nas relações entre Washington e Moscou. Amenizando o tom, no entanto, ele disse que seu país não quer um retorno da guerra fria em suas relações com a Rússia . As declarações do secretário de Defesa foram feitas no dia em que o presidente russo, Dmitry Medvedev, disse que seu país vai apoiar a posição das regiões separatistas georgianas da Ossétia do Sul e Abcásia em conversas sobre o status futuro dessas áreas, numa demonstração de que a luta pelo controle da região não será superada com a trégua aceita na terça pelos dois lados. Já a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, que chega nesta sexta-feira a Tbilisi (capital georgiana), afirmou na quarta-feira, que a Rússia enfrentará um profundo isolamento se violar o cessar-fogo acertado com a Geórgia.
- Se a Rússia não retroceder em sua postura agressiva e suas ações na Geórgia, as relações EUA-Rússia podem ser danificadas durante anos - disse Gates, em entrevista coletiva.
O chefe do Pentágono declarou que ele mesmo e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, tinham iniciado "um diálogo estratégico de longo alcance com a Rússia", mas indicou que "a conduta deste país põe em questão toda a premissa" do mesmo.
- Os russos estavam preparados para aproveitar qualquer oportunidade, e avançaram agressivamente sobre a Ossétia do Sul - disse ele.
- A mensagem de Moscou a todas as partes da ex-União Soviética foi uma advertência acerca dos esforços para se integrar ao Ocidente e sair da tradicional esfera de influência russa - acrescentou.
Gates assinalou que os Estados Unidos não têm nem desejo nem intenção de retomar um confronto com Moscou, como o que marcou a Guerra Fria.
- Por 45 anos, fizemos grandes esforços para evitar um confronto militar com a Rússia. Não vejo que haja razões para mudar agora esse enfoque. No entanto, tem que haver conseqüências para as ações empreendidas pela Rússia contra uma nação soberana - acrescentou.
Segundo ele, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, tem interesse em reafirmar o status da Rússia como grande potência, em reafirmar sua tradicional esfera de influência, e em corrigir o que eles vêem como concessões impostas depois do colapso da União Soviética na década de 1990.
- Infelizmente, a Rússia escolheu fazê-lo de maneira negativa - afirmou, após considerar que "todas as nações passarão agora a olhar a Rússia de maneira diferente".
Gates estimou que é pouco provável que os Estados Unidos participem com suas próprias tropas em uma força de pacificação na Ossétia do Sul e na Abcásia, caso as Nações Unidas enviem uma.
- Estamos um pouco ocupados - acrescentou. Os Estados Unidos têm atualmente quase 150 mil soldados no Iraque e outros 36 mil no Afeganistão.
A porta-voz do governo americano, Dana Perino, confirmou a declaração de Gates.
Bush conversa com líderes da Ucrânia e da Lituânia a respeito da crise
- Não estamos lá para defender os portos. Estamos lá para fornecer ajuda humanitária - disse ela.
Segundo a porta-voz, os EUA não tiveram nenhum problema com os russos sobre o envio de suprimentos médicos e humanitários para a Geórgia.
Na manhã desta quinta-feira, o presidente George W. Bush conversou com os líderes da Ucrânia e da Lituânia a respeito da crise no território georgiano, disse Perino.
- O presidente sublinhou a solidariedade dos EUA com a Geórgia e falou sobre nossos esforços diplomáticos e humanitários - afirmou a porta-voz.
- Todos os líderes chamaram atenção para a importância de dar apoio a uma Geórgia livre e soberana e de defender a integridade territorial dela. E concordaram sobre a necessidade de a Rússia colocar fim à violência, observar o cessar-fogo e retirar suas forças - disse Perino.