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No Iêmen, homem com imagem de Assad nas costas protesta contra a intervenção na Síria | Khaled Abdullah/Reuters
No Iêmen, homem com imagem de Assad nas costas protesta contra a intervenção na Síria| Foto: Khaled Abdullah/Reuters

Parceria

Cameron liga para Obama e garante apoio para pressionar regime sírio

Folhapress

Forçado pelo Parlamento britânico a desistir de uma ação militar na Síria, o primeiro-ministro David Cameron prometeu ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que continuará a ajudá-lo a pressionar o ditador Bashar Assad.

O premiê do Reino Unido ligou para a Casa Branca ontem, um dia após ser derrotado em sua tentativa de participar da intervenção no país árabe.

"O primeiro-ministro deixou claro que acredita fortemente numa resposta dura para o terrível crime de guerra cometido pelo regime de Assad", afirmou o governo britânico, em nota.

Cameron disse a Obama que respeitará a decisão do Parlamento contra a participação militar do Reino Unido. A derrota política foi considerada mais grave desde que tomou posse, em 2010.

De acordo com Downing Street, o presidente americano disse que manterá sua "forte amizade" com o primeiro ministro e elogiou a "relação especial" entre os dois países, que chamou de "forte, duradoura e profunda".

Mais cedo, Cameron havia prometido que não pediria desculpas a Obama. "Não acho que seja uma questão de ter que se desculpar", disse, em entrevista.

Na madrugada de ontem, o líder da oposição britânica, Ed Miliband, disse que o veto ao envolvimento do país num ataque à Síria deveria sinalizar o fim do alinhamento automático com Washington.

Repercussão

Alemanha descarta a hipótese de entrar em coalizão contra Assad

Agência O Globo

Depois que a questão sobre um possível ataque à Síria aqueceu a campanha eleitoral alemã, até agora marcada mais por um clima de tédio, durante dias, o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, excluiu uma participação alemã na ofensiva militar americana. E destacou que não foi recebido um pedido de ajuda.

"Nós não consideramos a possibilidade de participação militar da Alemanha e não o fazemos também agora", disse Westerwelle ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung.

O porta-voz do governo, Steffen Seibert, excluiu a participação numa coalizão militar internacional pelo mesmo motivo — mas não deixou claro se a Alemanha estaria disposta a dar algum apoio político, financeiro ou logística à campanha. Segundo Seibert, se os inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) comprovarem que o ataque químico partiu do regime de Damasco, "o caso não pode deixar de ter consequências".

"Nós esperamos que ninguém no Conselho de Segurança feche os olhos diante de tal crime", disse.

Antes disso, o candidato da oposição social democrata, Peer Steinbrück, tinha lançado o tema da Síria ao topo de sua agenda de campanha eleitoral. Sem titubear, ele se declarou contra a intervenção militar americana mesmo que os inspetores da ONU sejam capazes de comprovar a culpa do regime sírio.

"É melhor cem horas de negociação do que um minuto de uso de armas", afirmou Steinbrück, ao sugerir que a reunião de cúpula do G20, na próxima semana, seja usada para uma negociação séria para um cessar-fogo.

1.429 pessoas morreram no ataque com armas químicas ocorrido no dia 21 de agosto em Ghouta, na região de Damasco, a capital síria. O número, que inclui 426 crianças, tem base em um levantamento dos EUA.

  • Kerry, secretário de Estado dos EUA, e o presidente Obama falaram ontem sobre crise síria
  • Soldados israelenses, nas Colinas de Golã, observam a fronteira com o terrirório sírio

Ao apresentar os argumentos para um ataque à Síria durante um discurso, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, deixou claro ontem que a ação militar que o governo americano prepara para os próximos dias tem por objetivo preservar a "credibilidade" do país junto a regimes como Irã e Coreia do Norte.

"Isso importa além das fronteiras da Síria. É sobre se o Irã se sentirá confiante, na ausência de ação, para obter armas nucleares. É sobre Hezbollah, Coreia do Norte e todos os grupos terroristas ou ditadores que podem contemplar o uso de armas de destruição em massa", disse Kerry.

A declaração mostra que a motivação humanitária não é a única para o ataque contra o ditador Bashar Assad, após o uso de armas químicas na semana passada.

Momentos após a fala de Kerry, o presidente Barack Obama também se pronunciou. Disse que a decisão sobre a iminente intervenção ainda não foi tomada e reiterou que a ação planejada será limitada e não envolve tropas terrestres.

A ideia é um ataque a alvos militares de Assad, como punição pelo uso das armas químicas, mas sem necessariamente tomar parte na guerra civil do país.

Tanto Kerry (que foi mais incisivo) quanto Obama deixaram claro que o ataque com armas químicas não ficará sem resposta.

Ontem, foram divulgados vídeos na internet que mostrariam mais um ataque com arma química na Síria. Dessa vez, pessoas teriam sido queimadas na cidade de Aleppo.

Iraque

Kerry tentou afastar a memória dos erros cometidos no Iraque, em 2003, quando a falsa existências de armas de destruição em massa foi usada como pretexto para o ataque. Ele se preocupou em enfatizar que o trabalho da equipe de inteligência da ONU foi minucioso.

"Não vamos repetir aquele momento", disse. Ele anunciou relatório divulgado pelo governo que trouxe, entre outros dados, o cálculo de 1.429 mortos no ataque do dia 21, incluindo 426 crianças.

Esforçando-se em fundamentar a posição, Kerry enumerou conclusões tomadas pela investigação, como o registro de que, antes do ataque, equipes do regime prepararam a área e se preveniram com máscaras.

O governo dos EUA também diz ter descoberto o horário e o local de onde partiram os ataques, em áreas sob controle do regime. Apenas destinos mantidos pela oposição teriam sido atingidos, sempre segundo a investigação americana.

Ele dedicou parte do discurso para dizer que não espera autorização da Organização das Nações Unidas para o ataque, por causa da obstrução russa.

Elencou países que poderão ajudar numa ação militar, como França, Austrália e Turquia.

Hollande muda discurso sobre uso de força Paris

Agência O Globo

Contrariamente às intervenções militares na Líbia, em 2011, e no Mali, em janeiro deste ano, a participação da França numa eventual operação internacional na Síria não colhe unanimidade entre a opinião pública e a classe política no país.

O próprio presidente François Hollande sentiu a ameaça dos riscos internos e, no intervalo de dois dias, alterou seu discurso: de uma incisiva defesa da ação militar contra o regime de Bashar Assad, passou a ressaltar a opção por uma "solução política" para o impasse. Ontem, em uma conversa telefônica com o presidente Barack Obama, ele reiterou a determinação da França de reagir por meio da força.

No plano doméstico, a intenção do governo de participar de um ataque contra Damasco foi aprovada pelo governista Partido Socialista (PS), mas rechaçada pelos grupos políticos de centro, como o Movimento Democrático (MoDem), de François Bayrou, e dos extremos, tanto à direita — a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen — como à esquerda — a Frente de Esquerda (FG, na sigla em francês), de Jean-Luc Mélenchon.

O principal partido de oposição, a União por um Movimento Popular (UMP), de centro-direita, se mostrou dividido. Seu presidente, Jean-François Copé, manifestou seu acordo "na forma e no conteúdo" com as proposições do chefe do Executivo, mas vários integrantes do partido rejeitaram o recurso à força para punir Assad.

Os argumentos, pronunciados em diferentes gradações, passam pela exigência de provas concretas de que os gases mortíferos foram lançados pelas Forças Armadas da Síria e o temor de que a ingerência ocidental possa aumentar as graves tensões já existentes no Oriente Médio. Também tem-se que a ofensiva possa incentivar atentados terroristas contra a França e represálias aos cerca de 900 militares do país posicionados no Líbano, na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil).

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