A Rússia e os Estados Unidos realizaram hoje, em um aeroporto de Viena, na Áustria, a maior troca de espiões entre os países desde o fim da Guerra Fria. Dez agentes deportados por autoridades norte-americanas e quatro pessoas anteriormente condenadas na Rússia por espionagem fariam parte dessa troca.
Voos especiais da Rússia e dos EUA levaram os espiões para a capital austríaca. Os aviões decolaram em seguida, logo após a troca de prisioneiros. Em comunicado, uma fonte do serviço de inteligência russo afirmou: "Os cidadãos russos antes presos nos Estados Unidos decolaram em um avião russo de Viena para sua terra natal."
Um jato norte-americano levando dez membros de uma rede russa de espiões detidos nos EUA chegaram vindos de Nova York. A aeronave parou próxima de um jato do Ministério de Situações de Emergência da Rússia que estaria com quatro russos condenados por trabalhar para nações ocidentais. As portas principais dos dois jatos foram escondidas da mídia reunida em Viena, que aguardava um sinal de Anna Chapman e de um especialista em armamentos russo, que estariam no grupo.
Anna estava entre os espiões russos detidos em 27 de junho. As fotos em que estava seminua e a revelação de alguns de seus romances transformaram a ruiva em uma sensação nos tabloides pelo mundo.
A capital austríaca, próxima da antiga fronteira da Cortina de Ferro, não vivenciava um episódio desse calibre desde o fim da Guerra Fria. Na época, a cidade era geralmente um ponto de passagem para espiões das duas superpotências.
Deportação
A Rússia confirmou que o acordo foi fechado com os EUA para encerrar um escândalo de espionagem. O Ministério as Relações Exteriores russo informou que a troca envolveu "o retorno para a Rússia de dez cidadãos russos acusados nos Estados Unidos, junto com a transferência simultânea para os Estados Unidos de quatro indivíduos anteriormente condenados na Rússia".
Os EUA deportaram no fim da noite de ontem dez agentes do Kremlin, após eles comparecerem a uma corte de Nova York e confessarem ser culpados pela acusação de atuar como agentes ilegais de Moscou. Eles foram imediatamente deportados.
Entre os quatro libertados na Rússia estava Igor Sutyagin, condenado em 2004 por enviar informações confidenciais para uma companhia britânica que, segundo Moscou, era um braço da CIA. Ele cumpria pena de 15 anos de prisão. O presidente russo, Dmitry Medvedev, perdoou ontem os quatro, após eles assinarem documentos admitindo que haviam espionado.
Relações
O caso ameaçava atrapalhar o avanço nas relações entre Rússia e EUA, mas o Ministério das Relações Exteriores afirmou que seu resultado mostra que o "relançamento" das relações, pregado por Medvedev e pelo presidente dos EUA, Barack Obama, estava funcionando.
Apesar da tensão diplomática causada pela rede de espionagem, esse grupo aparentemente agia de modo amador e teve pouco impacto na década em que atuou. Entre os suspeitos estava a jornalista Vicky Peláez, com cidadania peruana e norte-americana conhecida por suas opiniões duras no jornal de língua espanhola "El Diario", editado em Nova York. Além de Sutyagin, os quatro libertados pela Rússia incluem Sergei Skripal, um ex-coronel da inteligência militar russa, o ex-agente da inteligência estrangeira russa Alexander Zaporozhsky e Gennady Vasilenko.
A última importante troca de espiões entre os países ocorreu em 1984, quando o jornalista norte-americano Nicholas Daniloff foi expulso da Rússia um dia antes de Gennady Zakharov, um funcionário soviético nas Nações Unidas, também ser solto, após comparecer durante menos de cinco minutos a uma corte de Nova York.