Kadafi contra-ataca
Enquanto resiste ao cerco cada vez mais fechado a Trípoli, um dos últimos redutos do regime, o ditador Muamar Kadafi contra-ataca.
Um caça da Força Aérea da Líbia fez disparos ontem contra Ajdabiya, uma das cidades tomadas pelos rebeldes no leste da Líbia, visando depósitos de armas e um reservatório de água. Ambos os ataques erraram o alvo.
"Estava saindo de casa para orar na mesquita quando ouvi o estrondo, contou o pintor Idris Kadiki, 38 anos, pouco após os disparos. Ele correu de volta para casa, onde a mulher, grávida de três meses, estava com os quatro filhos do casal.
Como a maioria no leste do país, Kadiki está convicto de que o número crescente de deserções está deixando Kadafi cada vez mais isolado. "Este é segundo ataque deste tipo a Ajdabiya em uma semana. Parece que os pilotos estão errando de propósito os alvos para não matar civis inocentes, disse.
Na semana passada, um caça caiu perto de Ajdabiya depois que o piloto se ejetou da aeronave, recusando-se a bombardear rebeldes. Ferido, mas considerado herói, foi internado num hospital de Benghazi, que se tornou a capital da Líbia "libertada.
Enquanto falava com a reportagem, o pintor recebeu o telefonema de um primo de Al Zawiya, 50 km a oeste de Trípoli. Relatava confrontos entre opositores e forças de Kadafi, outro sinal de contra-ataque do ditador.
Com o leste do país praticamente tomado pelos rebeldes e indícios de que o controle sobre o cinturão em torno de Trípoli também escapa cada vez mais ao controle de Kadafi, militares desertores planejam com a oposição uma estratégia para o golpe de misericórdia no ditador.
Grande parte das instalações petrolíferas já está nas mãos dos rebeldes. Ao longo da estrada em Ajdabiya, os carros passam por várias barreiras de controle com jovens vestidos com fardas e à paisana e armados de fuzis e pistolas, mas também de facas e até pedaços de paus.
Folhapress
Washington - O Pentágono está reposicionando seus navios de guerra e aviões militares nas águas ao largo da costa da Líbia, para estar pronto a impor uma zona de restrição aérea aos pilotos leais ao ditador líbio Muamar Kadafi, ou então executar outras funções, como entregar ajuda humanitária.
Ao aumentar as forças navais e aéreas no Mediterrâneo, os Estados Unidos preparam o terreno para uma possível intervenção na guerra civil na qual mergulhou a Líbia. Nos últimos dias, a liderança militar norte-americana tem planejado uma série de opções, para o caso da Casa Branca ordenar uma escalada na resposta dos EUA, segundo o jornal Wall Street Journal.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que os EUA exploram "todas as opções para ação". No momento, os EUA não têm nenhum porta-aviões no Mediterrâneo. Mas aeronaves podem partir do porta-aviões Enterprise, que está no Mar Vermelho, para auxiliar na criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, enquanto os egípcios derem permissão para os caças atravessarem seu espaço aéreo, revelou um militar.
A pressão sobre Kadafi também aumentou ontem por parte do Reino Unido. O primeiro-ministro David Cameron disse que seu país não descarta o uso de "ativos militares" para confrontar o governante da Líbia. Cameron também afirmou ao Parlamento que pediu ao ministro da Defesa que trabalhe "com nossos aliados" no plano de criar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia.
Ao lado da França, o Reino Unido é o único país europeu com capacidade militar de usar a força imediata na Líbia. Durante o final de semana passado, forças especiais foram usadas para retirar civis britânicos da Líbia, enquanto uma fragata da Marinha Real retirou britânicos do porto de Benghazi na semana passada.
Sanções econômicas
Os EUA e a União Europeia vão suspender a compra de petróleo de Kadafi para secar sua principal fonte de renda, além de estabelecerem apoio aos rebeldes para acelerar a possível queda do regime de Trípoli. Norte-americanos e europeus também advertiram aos demais ditadores da região: não vão tolerar a repetição do cenário ocorrido na Líbia.
A proposta de congelar a importação de petróleo veio ontem do governo alemão, em reuniões realizadas em Genebra. "Temos de fazer tudo para garantir que o dinheiro não vá para as mãos do ditador e que ele não tenha nem como pagar por mercenários", afirmou Guido Westerwelle, ministro de Relações Exteriores da Alemanha.
A proposta prevê um isolamento econômico por dois meses. Nesse período, nenhum fluxo de dinheiro poderá chegar a Kadafi.