O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou nesta terça que os Estados Unidos revogou os vistos dos sauditas acusados de matar o jornalista Jamal Khashoggi, colaborador do Washington Post, no consulado saudita em Istambul. As medidas são as primeiras a serem tomadas pelo governo americano em relação à Arábia Saudita sobre aquilo que a Turquia qualifica como um assassinato planejado e brutal do jornalista, no dia 2.
A porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, anunciou, de acordo com a CNN, que “21 suspeitos sauditas na morte de Jamal Khashoggi terão seus vistos revogados ou serão considerados inelegíveis para obter um visto para entrar nos Estados Unidos.”
Segundo o Washington Post, Pompeo também estaria em conversas com o Departamento do Tesouro para que sejam impostas outras sanções contra os responsáveis pela morte do jornalista. O New York Times informou que os Estados Unidos poderão tomar medidas com base na Lei Magnitsky, que permite aos Estados Unidos congelar ativos e proibir as viagens de pessoas declaradas culpadas de abusos contra os direitos humanos.
Segundo a CNN, nos últimos dias, o presidente americano, Donald Trump disse a pessoas próximas que se sente traído pelos sauditas, que apresentaram diferentes versões sobre o que aconteceu ao jornalista após entrar no consulado para obter um documento que lhe permitiria casar com sua noiva turca.
O presidente, que conversou no domingo com o príncipe Mohammed bin Salman, está culpando privadamente os sauditas por prejudicar sua imagem. Segundo a rede de televisão, ele tem destacado o que tem feito pelos sauditas e se queixa de que eles o puseram em uma situação delicada.
A repórteres, no Salão Oval da Casa Branca, criticou a postura saudita: "O plano original foi muito ruim. Foi executado muito mal, e o encobrimento foi um dos piores da história", disse. "Foi um plano ruim, não deveria sequer ter sido pensado. Alguém realmente estragou tudo."
Mas, nem Pompeo nem Trump disseram se acreditam que Mohammed fosse o mandante do crime. Trump disse que guardaria sua posição até que os funcionários da CIA, incluindo a diretora Gina Haspel, retornem da Turquia nos próximos dias.
Nesta terça, a agência oficial de noticias da Arábia Saudita, a Saudi Press Agency, publicou foto do rei saudita Salman e do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, se encontrando com familiares de Khashoggi, incluindo seu filho. Em nota da agência, o rei e o príncipe expressaram suas condolências e ofereceram seu consolo à família do jornalista, sem mencionar o episódio do dia 2.
Reunião sobre investimentos não é afetada
Os desdobramentos das investigações sobre a morte do jornalista Jamal Khashoggi não atrapalharam o primeiro dia da conferência sobre investimentos na Arábia Saudita, também conhecida como “Davos no Deserto”.
Reunidos sob os grandes domos e candelabros de cristal para o luxuoso fórum de investimentos apelidado, líderes empresariais qualificaram a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi de terrível e triste, mas disseram que isso não deveria atrapalhar seus acordos ou o relacionamento entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita.
Eles sabiam que agentes sauditas mataram Khashoggi há três semanas no consulado saudita em Istambul. E eles sabiam que seu anfitrião, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, era amplamente suspeito de estar envolvido, apesar das veementes negações oficiais.
Executivos-chefes, incluindo Jamie Dimon, do JPMorgan Chase; Stephen Schwarzman, da Blackstone e Steve Case, fundador da AOL, não participaram do evento em protesto. O site da conferência foi alvo, na segunda-feira, de hackers furiosos com o assassinato de Khashoggi.
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Um executivo dos EUA, que assessora fundos soberanos, disse que, embora o caso Khashoggi seja "chocante", em última análise, seria apenas um "soluço" no mundo dos negócios. "Você apoia seus amigos nos bons e maus momentos", disse o executivo. "A trajetória [na Arábia Saudita] é para mais abertura e transparência, mas haverá obstáculos no caminho". Ele, como outros, falou sob condição de anonimato por causa da sensibilidade do sujeito.
O presidente americano, Donald Trump, disse que o assassinato de Khashoggi deve ser investigado, mas não chegou a criticar Mohammed, que tem laços próximos com Jared Kushner, assessor especial e genro de Trump. Trump disse que não quer que o incidente interfira em bilhões de dólares em vendas de armas dos EUA para a Arábia Saudita.
Refletindo a ambivalência de Trump, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, cancelou sua apresentação marcada na conferência, mas chegou a Riad e sentou-se para tirar fotos com Mohammed na segunda-feira.