Manifestações e medo de saque paralisam a economia
A maioria dos egípcios já sofre os efeitos da paralisação da atividade econômica desde o início da revolta. No Cairo, bancos, lojas e supermercados permanecem fechados desde a semana passada, por causa do temor de saques e da dificuldade de manter níveis normais de abastecimento.
Aumenta o caos no aeroporto do Cairo
O aeroporto internacional do Cairo foi tomado pelo caos, com milhares de turistas tentando deixar a capital do Egito ontem, oitavo dia de protestos contra o presidente do país, Hosni Mubarak.
Nova York - Horas antes de o presidente do Egito, Hosni Mubarak, ter anunciado que não concorrerá às próximas eleições presidenciais, jornais americanos afirmavam que o emissário especial de Barack Obama, Frank Wisner, teria enviado o recado de que os EUA não apoiavam um novo mandato para Mubarak. Wisner já serviu como embaixador no Egito e tem boas relações com o ditador.
Porém, ainda não está claro se os EUA queriam uma saída imediata, com a criação de um governo de transição, ou a continuidade de Mubarak até a eleição. Segundo o Los Angeles Times, o enviado americano disse a Mubarak que ele deveria deixar o poder imediatamente, mas que a proposta foi recusada. Porém, o recado enviado por Obama marcou uma mudança de atitude de Washington em relação a Mubarak.
Desde o início da crise egípcia, os EUA foram bastante cautelosos, buscando não melindrar o país aliado. As palavras mais fortes vieram no domingo, quando a secretária de Estado, Hillary Clinton, cobrou uma "transição ordenada" no país.
Para alguns analistas, porém, as críticas americanas vieram tarde demais, e Washington perdeu a força que poderia ter nas negociações com o possível futuro governo, ao não manifestar apoio mais claro. Por trás desse cuidado está a importância que o Egito tem para os EUA no Oriente Médio, com papel de mediador nas negociações de paz entre Israel e Palestina. O canal de Suez é utilizado para abastecer as tropas americanas no Iraque.
O Egito também teria sido um dos países usados pelo governo de George W. Bush na chamada "rendição extraordinária", em que suspeitos de terrorismo eram sequestrados e levados para serem interrogados em nações que praticam tortura.
Essa ajuda, porém, não é sem custo. Os EUA gastaram dezenas de bilhões de dólares nas últimas décadas para investimento nas Forças Armadas egípcias cerca de US$ 1,3 bilhão apenas no ano passado. O valor tem se mantido constante nos últimos anos. Vários outros bilhões foram para programas de saúde, educação e desenvolvimento econômico.
Dia da partida
O contestado presidente do Egito, Hosni Mubarak, deve deixar o poder até a sexta-feira, afirmou ontem Mohamed ElBaradei, que emerge como um líder dos protestos contra o regime, em entrevista ao canal por satélite Al-Arabiya.
"O que eu ouvi [dos manifestantes] é que eles querem que isso acabe, se não hoje [ontem] então até a sexta-feira no máximo", afirmou ElBaradei, acrescentando que os egípcios marcaram a sexta-feira como o "dia da partida".
Nobel da Paz, ElBaradei já chefiou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). "Eu espero que o presidente Mubarak vá antes disso e deixe o país após 30 anos de domínio... não acho que ele quer ver mais sangue", afirmou ElBaradei.
Enquanto ele falava, várias centenas de milhares de egípcios se reuniam no Cairo e em Alexandria para a maior manifestação pela saída de Mubarak já realizada no país.
Perguntado sobre a oferta de diálogo com a oposição feita pelo vice-presidente Omar Suleiman, ElBaradei disse que apoia um "diálogo nacional amplo", mas não antes da "partida do presidente Mubarak".
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