Jovens egípcias pedem para o presidente Mubarak ir embora, durante mais um dia de protestos no Cairo| Foto: Patrick Baz / AFP

Manifestações e medo de saque paralisam a economia

A maioria dos egípcios já sofre os efeitos da paralisação da atividade econômica desde o início da revolta. No Cairo, bancos, lo­­jas e supermercados permanecem fechados desde a semana passada, por causa do temor de saques e da dificuldade de manter níveis normais de abastecimento.

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O aeroporto internacional do Cairo foi tomado pelo caos, com milhares de turistas tentando deixar a capital do Egito ontem, oitavo dia de protestos contra o presidente do país, Hosni Mu­­barak.

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Nova York - Horas antes de o presidente do Egito, Hosni Mubarak, ter anunciado que não concorrerá às próximas eleições presidenciais, jor­­nais americanos afirmavam que o emissário especial de Ba­­rack Obama, Frank Wisner, teria en­­viado o recado de que os EUA não apoiavam um novo mandato pa­­ra Mubarak. Wisner já serviu co­­mo embaixador no Egito e tem boas relações com o ditador.

Porém, ainda não está claro se os EUA queriam uma saída imediata, com a criação de um governo de transição, ou a continuidade de Mubarak até a eleição. Se­­gundo o Los Angeles Times, o en­­­­viado americano disse a Mu­­barak que ele deveria deixar o poder imediatamente, mas que a proposta foi recusada. Porém, o re­­ca­­do enviado por Obama marcou uma mudança de atitude de Wa­­shington em relação a Mubarak.

Desde o início da crise egípcia, os EUA foram bastante cautelosos, buscando não melindrar o país aliado. As palavras mais fortes vieram no domingo, quando a secretária de Estado, Hillary Clinton, cobrou uma "transição or­­denada" no país.

Para alguns analistas, porém, as críticas americanas vieram tarde demais, e Washington perdeu a força que poderia ter nas negociações com o possível futuro governo, ao não manifestar apoio mais claro. Por trás desse cuidado está a importância que o Egi­­to tem para os EUA no Oriente Mé­­dio, com papel de mediador nas negociações de paz entre Is­­rael e Palestina. O canal de Suez é utilizado para abastecer as tropas americanas no Iraque.

O Egito também teria sido um dos países usados pelo governo de George W. Bush na chamada "ren­­dição extraordinária", em que suspeitos de terrorismo eram sequestrados e levados para se­­rem interrogados em nações que praticam tortura.

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Essa ajuda, porém, não é sem custo. Os EUA gastaram dezenas de bilhões de dólares nas últimas décadas para investimento nas Forças Armadas egípcias – cerca de US$ 1,3 bilhão apenas no ano passado. O valor tem se mantido constante nos últimos anos. Vá­­rios outros bilhões foram para programas de saúde, educação e desenvolvimento econômico.

Dia da partida

O contestado presidente do Egito, Hosni Mubarak, deve deixar o poder até a sexta-feira, afirmou ontem Mohamed ElBaradei, que emerge como um líder dos protestos contra o regime, em entrevista ao canal por satélite Al-Arabiya.

"O que eu ouvi [dos manifestantes] é que eles querem que is­­so acabe, se não hoje [ontem] então até a sexta-feira no máximo", afirmou ElBaradei, acrescentando que os egípcios marcaram a sexta-feira como o "dia da partida".

Nobel da Paz, ElBaradei já chefiou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). "Eu es­­pero que o presidente Mubarak vá antes disso e deixe o país após 30 anos de domínio... não acho que ele quer ver mais sangue", afirmou ElBaradei.

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Enquanto ele falava, várias centenas de milhares de egípcios se reuniam no Cairo e em Ale­­xandria para a maior manifestação pela saída de Mubarak já realizada no país.

Perguntado sobre a oferta de diálogo com a oposição feita pelo vice-presidente Omar Suleiman, ElBaradei disse que apoia um "diálogo nacional amplo", mas não antes da "partida do presidente Mubarak".