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Entrevista

“Estamos condenados a conviver”

Crianças israelenses e palestinas participam de um jogo de futebol pela paz, nesta segunda-feira, em região próxima à Faixa de Gaza | REUTERS/Amir Cohen
Crianças israelenses e palestinas participam de um jogo de futebol pela paz, nesta segunda-feira, em região próxima à Faixa de Gaza (Foto: REUTERS/Amir Cohen)

O cônsul-geral de Israel em São Paulo, Yoel Barnea, veio a Curitiba na semana passada para visitar a comunidade israelense da cidade. Nos dias da visita e depois dela, ele conversou com a reportagem por e-mail, analisando saídas possíveis para o conflito no Oriente Médio. "Estamos condenados – israelenses e palestinos –, no sentido positivo da palavra, a conviver nessa região do Oriente Médio. Nenhuma das partes vai sumir, por isso a única solução é a pacífica", diz.

Nos últimos dias, os dois lados (israelenses e palestinos) disseram ter saído do conflito como "vencedores". Para o senhor, isso faz sentido? Porque parece que ambos os lados tiveram perdas consideráveis nos 50 dias da operação Margem Protetora.

Quando morrem mais de 2.500 palestinos e 70 israelenses , ninguém é vencedor. Israel lamenta a perda de vidas humanas, tanto do lado israelense como do lado palestino. A única razão dessa campanha militar israelense foi prevenir futuros lançamentos de mísseis contra nossa população civil e destruir os túneis pelos quais o terrorismo do Hamas queria penetrar em Israel, assassinando o maior número possível de israelenses.

A intenção do Hamas foi e continua sendo de matar com mísseis e túneis tantos israelenses quanto possível – se eles não tiveram sucesso é porque Israel investiu em construir refúgios e desenvolver a tecnologia para interceptar os mísseis.

O Hamas utiliza a população civil como escudo humano para proteger arsenais – por isso o número lamentavelmente alto de vítimas palestinas. Nosso alvo é o terrorismo palestino e os objetivos militares do terrorismo do Hamas. Nós não atacamos civis palestinos intencionalmente. Se o Hamas posiciona plataformas de lançamento de mísseis no coração da própria população civil, a responsabilidade pelas mortes é mesmo do Hamas, que não respeita as vidas humanas do próprio povo – muito menos dos israelenses.

Nós utilizamos mísseis defensivos para proteger a população civil [israelense], o Hamas utiliza a população civil [palestina] para proteger mísseis.

Na sua opinião, agora que um cessar-fogo foi estabelecido sem prazo para acabar, qual é o maior empecilho para a paz em Israel?

O empecilho maior é a visão do Hamas, que quer resolver o problema entre palestinos e israelenses com a destruição do Estado de Israel, pela via da violência, do terrorismo e dos ataques suicidas contra civis israelenses. A solução do conflito passa pela constituição de um estado palestino, ao lado de Israel e não no lugar de Israel, que viva em paz e cooperação com Israel e isso deve acontecer por intermédio de negociações com os palestinos que aceitam essa solução, que é a Autoridade Palestina, liderada pelo presidente Mahmoud Abbas.

Qual seria o melhor desfecho possível para o conflito que, aparentemente, foi encerrado agora?

Israel se retirou totalmente da Faixa de Gaza em 2005 para nunca mais voltar. Esse território é governado pelo Hamas desde 2007, depois de ter expulsado a Autoridade Palestina de uma maneira violenta. A região se transformou em um foco de terrorismo e violência contra Israel e nossa população civil.

Israel está disposto a fazer concessões à população de Gaza, para facilitar sua vida cotidiana, mas não vai aceitar a continuação de ataques de mísseis contra nosso território – nenhum país aceitaria essa situação.

Israel quer a desmilitarização de Gaza e não somos o único país da região que sugere essa solução e vê o Hamas como uma fonte de instabilidade e perigo na região. Basta ver os resultados nefastos do terrorismo extremista na região – Estado Islâmico no Iraque e na Síria; Hezbollah no Líbano; a guerra civil na Síria, com mais de 170 mil mortos e 3 milhões de refugiados – para entender que os grupos extremistas como o Hamas são um perigo para a região, mas também para a paz e a estabilidade mundial.

Numa das várias análises possíveis para o conflito na Faixa de Gaza, uma que me chamou atenção fala que o Hamas, aceitando a impossibilidade de vencer Israel militarmente, procurou ganhar politicamente, sacrificando civis e conquistando a opinião pública. O senhor acha que eles tiveram êxito de alguma forma?

Sacrificar à toa mais de 2 mil vidas humanas de civis palestinos, mulheres e crianças, mesmo se fosse para ganhar pontos com a opinião pública internacional, é um crime e uma violação do direito humanitário internacional. Ainda mais se os dirigentes do Hamas se refugiaram e estavam protegidos sob a terra, nos túneis, como Ismail Hanie, ou em hotéis de seis estrelas no Qatar, como Khaled Mashaal. Assim é fácil sacrificar a vida dos próprios cidadãos!

E não acho que o Hamas teve algum ganho político significativo, como resultado desse confronto com Israel. E nenhuma vantagem justificaria sacrificar a vida de mais de 2 mil palestinos e o futuro de centenas de milhares de irmãos, que vão sofrer, infelizmente, por muito tempo ainda, os resultados nefastos das decisões da liderança do Hamas e de uma política extremista, terrorista e intransigente.

Estamos condenados – israelenses e palestinos –, no sentido positivo da palavra, a conviver nessa região do Oriente Médio. Nenhuma das partes vai sumir, por isso a única solução é a pacífica: reconhecimento mútuo dos direitos dos dois lados, negociações de paz e concessões comuns.

Isso transformaria o Oriente Médio numa região de paz, estabilidade e cooperação entre os países, para a prosperidade e o progresso de todos os povos que vivem e se desenvolvem ali.

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