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Polêmica

Estátua de Colombo vira saga

Estátua em bronze do navegador Cristóvão Colombo, descobridor da América, tem 92 metros e pesa 544 toneladas | Expedição Colombo
Estátua em bronze do navegador Cristóvão Colombo, descobridor da América, tem 92 metros e pesa 544 toneladas (Foto: Expedição Colombo)
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San Juan, Porto Rico - A estátua do navegador genovês Cristóvão Colombo (1451-1506) será a estrutura mais alta do Ca­­ribe e estará entre as mais altas do mundo quando for instalada nu­­ma região em que ele não tem sido muito lembrado nos últimos anos. Mas até agora, porém, a escultura de bronze de 92 metros do descobridor das Américas tem representado uma confusão monumental ou talvez uma piada colossal.

Originalmente projetada para uma grande cidade dos Estados Unidos, a estátua tem sido enviada de um local para outro e está desmontada enquanto empresários e o prefeito da pequena cidade porto-riquenha de Arecibo tentam finalmente erguê-la, com vista para o Oceano Atlântico, na costa norte da ilha.

Mas este pode não ser o capítulo final da saga que já dura 20 anos. O local de instalação da estátua está longe de ser definido: os que defendem que ela seja co­­locada em Arecibo precisam reunir uma longa lista de permissões, dentre elas uma autorização da Administração Federal de Aviação (FAA), para instalar o monumento, que é tão alto que poderia interferir no tráfego aéreo.

E agora, autoridades porto-riquenhas competem para levá-la para diferentes partes da ilha, como um chamariz para os tu­­ristas. E há também o fato de que a estátua de quase 544 toneladas, como muitas obras públicas de lar­­ga escala, inspira mais críticas do que admiração, principalmente desde que Colombo passou a ser visto mais como o precursor do genocídio no continente americano do que o descobridor do Novo Mundo.

"Para ser honesta, é uma mon­­s­­truosidade", diz Cristina Ri­­vera, antiga ativista contra a cria­­ção de praias particulares em Are­­cibo e que explicita sua oposição à instalação da gigantesca estátua de Colombo em sua cidade. "Por que temos de trazer essa pe­­ça exageradamente grande para cá?" Este é o tipo de reação que o projeto costuma atrair.

O artista russo Zurab Tsereteli, de 77 anos, concluiu a estátua em 1991 para comemorar o 500º. aniversário da chegada de Colombo ao Hemisfério Ocidental, em 1492.

O artista é internacionalmente reconhecido por seus trabalhos gigantescos, caros e algumas ve­­zes não desejados. Mas sua arte já en­­controu abrigo nos Estados Uni­­dos antes. Uma de suas peças está na fren­­te da sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York.

Em entrevista por e-mail à Associated Press, Tsereteli disse que até mesmo a Estátua da Li­­berdade e a Torre Eiffel foram al­­vo de críticas e desafios.

"Agora, elas são símbolos", disse ele. "Sem esses símbolos, os lugares onde estão instaladas se­­riam inconcebíveis."

Durante uma visita à Rússia em 1990, o então presidente dos EUA George H. W. Bush passou pelo ateliê de Tsereteli em Moscou e escolheu um exemplar em miniatura de uma estátua de Co­­lombo dentre as três opções apresentadas a ele.

Em setembro de 1994, Tsere­­teli viajou para os Estados Unidos com o então presidente russo Bo­­ris Yeltsin e presenteou o mo­­delo escolhido por H. W. Bush ao presidente Bill Clinton.

O sul da Flórida foi um dos primeiros locais propostos para a instalação da estátua. Uma autoridade de um condado brincou di­­zendo que a estátua seria um bom recife artificial e outro sugeriu que apenas a cabeça fosse ex­­posta, sem se importar com o res­­tante da estátua.

Outras pessoas não gostaram a ideia de erguer algo que homenageia uma pessoa que séculos após sua morte foi associada por al­guns historiadores ao tráfico de escravos indígenas e à colonização violenta. A estátua fez então uma ronda por Nova York, Ohio e Ma­­ry­­land, sem conseguir um local para ser erguida.

"Várias organizações privadas disseram que a instalariam", disse Emily Madoff, porta-voz de Tsereteli. "Mas aí elas se dão conta de que trata-se de algo tão grande.Não é algo que simplesmente se coloca em cima da terra."

Em 1998, o governador de Por­­to Rico, Pedro Rosello, aceitou a es­­tá­­tua como um presente e gastou US$ 2,4 milhões em recursos pú­­blicos para levá-la para a ilha. En­­tão, o prefeito de Catano, um su­­búrbio de San Juan que atrai mi­­lhares de turistas para sua destilaria de rum Bacardi, pediu a escultura. Mas o projeto se complicou quando autoridades de aviação disseram que o local onde a estátua seria colocada interferiria nas rotas aéreas.

Em seguida, o prefeito de Are­­cibo, Lemuel Soto, disse que a estátua seria um atrativo para a cidade, que atrai turistas com suas cavernas de calcário e um dos maiores telescópios do mundo.

Mas agora que o processo de permissão está em andamento, surge uma nova ameaça. O deputado porto-riquenho David Bo­­nilla começou a faze lobby para colocar a estátua no oeste do território norte-americano, provavelmente na ilha de Desecheo, que é inabitada, exceto por errantes imigrantes dominicanos que tentam escapar da polícia de fronteira norte-americana.

O prefeito de San Juan, Jorge Santini, figura influente na ilha, também entrou na briga e diz querer que a estátua de Colombo vá para a capital. Santini a imagina perto de uma lagoa ou até mesmo no topo de um aterro.

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