Freqüentemente, o curso evolutivo latino-americano rumo ao desenvolvimento não encontra suporte nas estruturas políticas que administram as sociedades. Excluídos os rompantes emergenciais e os planos guindados à condição de objetivos públicos, os Estados contribuem e contribuíram pouco para a mudança de status das nações subdesenvolvidas. A existência de certos empreendedores individuais ou coletivos garantiu, quando não melindrado pelos aparelhos burocráticos, mais progresso do que os Estados poderiam imaginar construir.

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Muito aquém de uma justificação de natureza liberal, sobre a desregulamentação dos mercados, sobre a limitação da interferência pública nos objetivos econômicos privados ou sobre a incompetência do Estado para gerir a coisa pública, a descrição anterior reafirma a inaptidão que têm os governos para administrar os interesses coletivos. Os espaços públicos, colonizados pelas estruturas demagógico-sindicais, garantem vantagens imediatas para os integrados e migalhas para aqueles que, sufragando certos intervalos, legitimam certas estruturas funcionais-caudilhistas no poder.

As estruturas de organizações privadas e espontâneas têm assegurado uma melhor capacidade de gestão do interesse coletivo que a ação partidarizada dos que concorrem pela elaboração de normas gerais e ditas de interesse superior. Como conseqüência, o inverno desenvolvimentista latino-americano tem tentáculos longos e subjacentes à própria estrutura política, que insiste em reafirmar seus desejos populistas, estatistas, demagógicos e anti-democráticos.

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A incompetência generalizada dos governos para promover o desenvolvimento é decorrente de um conjunto de entalhes políticos como os listados. Ou seja, a retórica populista, estatista, demagógica e antidemocrática tem se fortalecido em função da sua própria incompetência para a gestão dos interesses que buscam romper com os grilhões do subdesenvolvimento. O cenário retroalimentado, em que as incompetências produzem estigmas que solicitam medidas enérgicas, e a qualidade duvidosa dos representantes políticos são, possivelmente, motivadores de um processo de fragmentação de certas nações divididas pelo discurso opressor da doxa, das instituições e da religião de Estado.

O pior cenário é o da retórica populista em nações-subúrbio onde os déficits democráticos já existem e o discernimento republicano é vazio. Ou seja, o revigoramento das políticas demagógicas traz consigo um ideal desenvolvimentista superado e baseado no isolacionismo desqualificante do privado. O retorno de certos caudilhismos é o resultado da própria incompetência política da gestão dos interesses verdadeiramente coletivos. A praga dos governos demagógicos não é exclusividade latino-americana, mas aqui a capacidade de se reinventar do populismo é notável.