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A América de Biden-Harris

Estratégia de Biden para a Coreia do Norte deve focar em coalizão internacional

O candidato democrata à presidência dos EUA nas eleições de 2020, Joe Biden. (Foto: AFP)

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No dia 22 de outubro, durante o último debate realizado antes das eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos, marcada para 3 de novembro, o democrata Joe Biden não poupou ataques a Donald Trump sobre sua aproximação com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

“Ele [Trump] fala sobre seu bom amigo [Kim], que é um bandido. Ele fala sobre como estamos melhor agora, quando a Coreia do Norte é muito mais capaz de disparar um míssil que pode atingir o território dos Estados Unidos. Tínhamos um bom relacionamento com Hitler antes de ele invadir a Europa, por favor!”, disse Biden, ao passo em que Trump se defendeu e afirmou que um bom relacionamento com os norte-coreanos fez com que não houvesse uma guerra entre as duas nações nos últimos anos.

Do outro lado, a Coreia do Norte também não se mostra nada receptiva a Biden. No ano passado, a agência de notícias estatal do país, a KCNA, divulgou um texto chamando Biden de “cão raivoso que deve ser espancado até a morte”. O veículo também insinuou que o vice-presidente da gestão Barack Obama se encontra em estágio avançado de demência.

“Cães raivosos como Baiden (sic) podem machucar muitas pessoas se forem permitidos concorrer [à presidência]. Eles devem ser espancados até a morte com um pau”, escreveu a agência, complementando que o democrata “teve a audácia de difamar a dignidade da suprema liderança da RPDC [República Popular Democrática da Coreia]”.

Trump se encontrou com Kim Jong-un em três ocasiões, sendo a primeira em Cingapura, em 2018. Em 2019, a segunda cúpula entre os líderes, realizada em Hanói, no Vietnã, não vingou, dada a insistência de Kim Jong-un para que as sanções dos EUA contra o país fossem anuladas em troca de medidas gradativas de desnuclearização.

Já o terceiro encontro também ocorreu no ano passado, quando o republicano se tornou o primeiro presidente norte-americano a pisar na Coreia do Norte. Depois disso, os líderes trocaram “bonitas cartas”, conforme definiu Trump, mas não houve avanço acerca do impasse sobre as armas nucleares norte-coreanas. Durante a campanha, Trump havia dito que, se reeleito, sua intenção era fechar acordos “muito rapidamente” com a Coreia do Norte.

A estratégia de Biden

Biden, por outro lado, afirmou que não se reuniria com Kim, a não ser que pré-condições fossem atendidas – ele não especificou, porém, quais seriam essas condições. Ao New York Times, o democrata afirmou que não pretende seguir com a diplomacia pessoal com Kim, afirmando que reuniões como as realizadas por Trump são um “projeto de vaidade”.

“A abordagem do governo Trump para a Coreia do Norte tem se baseado na busca por fotos com Kim Jong-un, reduzindo a pressão econômica, suspendendo exercícios militares e ignorando direitos humanos. Mas a América recebeu muito pouco em troca. Na verdade, Pyongyang continuou a produzir combustível para armas nucleares, melhorou essas armas e a capacidade dos mísseis (...). As armas da Coreia do Norte são agora mais poderosas, mais móveis, mais precisas e mais perigosas – e Kim está mais desafiador e encorajado”, afirmou o democrata ao jornal.

Quando questionado se daria início à retirada das tropas norte-americanas da península coreana, Biden alegou que não faria isso. Segundo o democrata, seu objetivo é fortalecer as alianças dos EUA com Japão e Coreia do Sul – e uma abordagem junto à China para pressionar Pyongyang não estaria descartada. O democrata disse não descartar totalmente um encontro com o líder norte-coreano, mas apenas se a reunião estivesse associada a uma “estratégia real que avance na desnuclearização”.

Em outubro, Evans J.R. Revere, ex-diplomata norte-americano e especialista em assuntos relacionados ao Leste Asiático, pontuou ao jornal South Morning China Post que Biden, caso fosse eleito presidente, deve realizar um trabalho de construção de uma coalizão internacional com o objetivo de pressionar Pyongyang conjuntamente.

“O presidente Trump deixou claro que está preparado para tolerar a expansão das armas nucleares e programas de mísseis da Coreia do Norte, desde que Pyongyang não teste armas nucleares e mísseis de longo alcance. Um presidente Biden não será tolerante, especialmente porque a Coreia do Norte demonstrou que usou os quatro anos da presidência de Trump para expandir sua capacidade de atacar os EUA com armas nucleares”, opinou o especialista.

No mesmo sentido, Daniel Russel, que trabalhou com Biden na gestão Obama, quando era o principal diplomata norte-americano no Leste Asiático, comentou que a abordagem de Biden deve se diferenciar do estilo “impulsivo” de Trump. “[A abordagem] será, em parte, sistemática, porque Biden entende perfeitamente como utilizar de modo efetivo o aparato de segurança nacional do governo dos EUA”, comentou Russel.

Ao que tudo indica, portanto, a estratégia junto à Coreia do Norte na gestão de Biden deve seguir pelo caminho da diplomacia mais tradicional e da coordenação com aliados norte-americanos já conhecidos – como o próprio Japão e a Coreia do Sul, citados pelo democrata.

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