As negociações entre os Estados Unidos e a China para resolver o impasse comercial entre os dois países parecem estar em risco.
No domingo e na segunda-feira (6), o presidente americano Donald Trump ameaçou um aumento de tarifas para as importações chineses até o final desta semana. Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da China disse que as autoridades ainda planejam viajar para os EUA para a próxima rodada de negociações – embora não tenham confirmado quando isso ocorrerá, em meio a sinais de que um atraso está sendo considerado.
Enquanto isso, a ameaça de Trump deixou os investidores desconcertados: ações e o yuan caíram com o surgimento de rumores de que a guerra comercial está de volta.
"Estamos agora tentando obter mais informações sobre a situação relevante", disse o porta-voz do ministério, Geng Shuang, em Pequim. "O que eu posso dizer é que a equipe chinesa está se preparando para viajar para os EUA para negociações comerciais".
No domingo, Trump pressionou Pequim para fechar um acordo comercial, anunciando que aumentaria as tarifas de 10% para 25% sobre US$ 200 bilhões em importações chinesas até sexta-feira (10). Ele também sugeriu a possibilidade de estender um novo imposto de 25% sobre outros US$ 325 bilhões em importações ainda não cobertas.
Trump continuou tuitando sobre a situação do comércio com a China na segunda-feira. “Os Estados Unidos vêm perdendo, há muitos anos, de 600 a 800 bilhões de dólares por ano em comércio. Com a China, perdemos 500 bilhões de dólares. Desculpe, não vamos mais fazer isso!", escreveu.
Depois da ameaça de Trump, a China estava considerando adiar a viagem da delegação de assuntos comerciais, liderada pelo vice-primeiro-ministro Liu He, aos EUA, marcada para esta semana. Liu e cerca de outros 100 oficiais foram designados a ir ao país na quarta-feira, para o que seria a rodada final de negociações.
Não ficou claro se a ameaça reflete preocupações mais profundas de Trump ou é uma tática de negociação. Os EUA tinham como alvo o dia 10 de maio para anunciar um acordo, que seria finalizado e assinado por Trump e pelo presidente chinês Xi Jinping mais tarde em uma cúpula oficial, segundo afirmara pessoas familiarizadas com as negociações na semana passada.
Mudança abrupta
Os dois lados estão negociando um acordo desde o ano passado para tratar das preocupações dos Estados Unidos com o superávit comercial da China, alegações de roubo de propriedade intelectual e transferência forçada de tecnologia. Trump e Xi concordaram com uma trégua tarifária em 1º de dezembro para permitir que altos funcionários tivessem tempo para negociar.
A trégua ajudou a acalmar as preocupações dos investidores sobre uma nova escalada em uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, que resultou em tarifas sobre cerca de US$ 360 bilhões de produtos americanos e chineses no ano passado. Os últimos tuítes de Trump marcam uma reversão abrupta na posição da Casa Branca, já que os dois lados vinham dizendo há semanas que as negociações estavam indo bem.
Essa mudança reflete a crescente frustração dos EUA com o retrocesso da China em alguns de seus compromissos anteriores, incluindo a questão crucial da transferência de tecnologia, segundo duas pessoas familiarizadas com a situação. Isso encorajou os falcões do governo Trump a pressionar por uma linha mais dura, incluindo o aumento das tarifas.
O consultor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse na Fox News que o presidente estava "emitindo uma advertência". Embora "grandes progressos" tenham sido feitos durante as conversas, questões estruturais e de fiscalização permaneceram, disse ele.
Reação da China
Primeiro, Trump impôs tarifas de 25% sobre US$ 50 bilhões de produtos chineses. Depois, de 10% sobre outros US$ 200 bilhões em produtos. Essas tarifas de 10% deveriam ter subido para 25% em 1º de janeiro e depois novamente em 1º de março, mas Trump adiou a escalada à medida que as negociações continuavam. A China impôs tarifas de US$ 110 bilhões em exportações dos EUA em retaliação e alertou repetidamente que iria contrapor tarifas com ações próprias.
Isso significa que há um risco de a China reagir a novas tarifas impostas pelos EUA, embora o tamanho menor de suas importações possa restringir sua capacidade.
"A China não deve fazer concessões que os EUA querem se houver uma grande pressão", disse Zhou Xiaoming, ex-funcionário do Ministério do Comércio e diplomata. "Se as ameaças de Trump forem implementadas na sexta-feira, a China terá que responder".