Raynéia Gabrielle Lima, a residente de medicina brasileira morta segunda-feira na repressão das forças governamentais nicaraguenses contra as manifestações que pedem a saída do presidente Daniel Ortega, tinha planos de voltar para o Brasil e exercer a sua profissão. Ela é uma das 351 pessoas mortas, segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos, na violenta repressão desencadeada desde 18 de abril.
“Minha filha já tinha tudo planejado para o seu retorno ao Brasil. Ela voltaria para o Recife, onde iria fazer a prova do Revalida, para poder exercer a profissão de médica por aqui e ajudar a salvar vidas”, disse a mãe, Maria José da Costa.
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Segundo ela, Raynéia Gabrielle não era de participar de manifestações políticas, nem passeatas. “Ela não gostava disso. Era uma filha dedicada que a toda hora falava que me amava. O que vai ser da minha vida agora, sem ela? Essa dor nunca vai passar. Quem tirou a vida dela vai ter de pagar por isso”, disse Maria José, ao cobrar ajuda das autoridades brasileiras.
As poucas informações que tem de sua filha foram dadas pelo sogro de Raynéia, que é quem pagava pelo curso de medicina da estudante na Nicarágua. “Ele não era de ligar para mim. Quando recebi a ligação pensei de imediato que algo de ruim havia acontecido com minha filha. Entrei em desespero”, disse a aposentada.
Últimos momentos
Segundo as informações repassadas à mãe da estudante, Raynéia havia saído do hospital onde fazia residência para se dirigir à casa de uma amiga. Foi ao longo desse percurso que ela foi assassinada, quando estava sozinha dirigindo seu carro.
Atrás dela e em outro carro, segundo o jornal nicaraguense La Prensa, estava seu namorado. Em um cruzamento, foram interceptados por homens encapuzados, que quiseram tomar o carro. Raynéia, ao ver as pessoas armadas, teria ficado nervosa e, sem querer, acelerou o veículo. Eles dispararam.
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Imediatamente, o namorado saiu do carro e reclamou, mas se deu conta dos ferimentos de sua parceira e a levou ao Hospital Militar. Familiares chegaram ao local do crime, horas mais tarde, mas o carro de Raynéia já tinha desaparecido.
Segundo nota divulgada pelo Instituto Médico Legal (IML) de Manágua, a residente morreu atingida por disparos no tórax e no abdome. Mas não precisou a quantidade de disparos, nem o tipo de arma usada no crime.
Liberação do corpo
A liberação do corpo da estudante está sendo acompanhada pelo Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. O Itamaraty se manifestou por meio de nota em que afirma que a pasta está em contato com parentes da estudante em Recife.
“A Embaixada do Brasil em Manágua está prestando todo o apoio cabível no sentido de obter a documentação necessária para a liberação do corpo e providenciando o levantamento dos custos pertinentes, informando-os à família. Os procedimentos médico-legais são de competência exclusiva das autoridades da Nicarágua, responsáveis pela liberação do corpo”, diz a nota divulgada pelo Itamaraty. A vinda do corpo da estudante será pago pelo governo de Pernambuco, segundo a secretaria de Justiça daquele estado.
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O traslado do corpo é a principal preocupação da mãe da universitária brasileira, segundo revelou à Rádio Nacional de Brasília. De acordo com a família de Rayneia, o sepultamento deverá ser realizado em um cemitério na região metropolitana do Recife, onde a família já tem jazigo.