A história da jovem Shamsea Alizada, hoje com 17 anos, é das mais inspiradoras. Há dois anos, um atentado atingiu o local onde ela estudava, em Cabul, e matou dezenas de colegas. Ela, que é filha de um mineiro, escapou por sorte. O episódio não foi suficiente para fazer a adolescente desistir dos estudos e, na última quinta-feira (24), foi anunciado que ela teve a nota mais alta entre aproximadamente 200 mil alunos que prestaram o exame nacional afegão de ingresso à universidade, similar ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) brasileiro.
Quem deu a boa notícia para Shamsea foi sua mãe, que soube da conquista da filha pela televisão. “Achei que ela estava brincando. Mas quando entrei na sala, vi o sorriso mais brilhante no rosto de minha mãe. Eu já tinha visto ela sorrindo, mas esse sorriso foi outra coisa. Seu sorriso foi um presente e fez meu dia; foi melhor do que obter a pontuação mais alta do país”, disse a menina, segundo o New York Times.
Em 2018, Shamsea frequentava uma espécie de cursinho pré-vestibular voltado a jovens carentes quando um homem-bomba invadiu uma sala de aula onde estavam mais de 200 alunos e detonou seu colete explosivo. Metade dos estudantes foram mortos ou feridos e a adolescente perdeu diversos amigos. O atentado foi reivindicado por uma ramificação do Estado Islâmico.
Se fosse um pouco mais velha, Shamsea talvez não tivesse a oportunidade que está tendo. Isso porque até o governo do Talibã ser destituído, em 2001, a educação de meninas era proibida no país e as mulheres precisavam ficar confinadas em casa. Atualmente, cerca de 100 mil mulheres estão matriculadas em cursos superiores no Afeganistão e mais de 3 milhões de meninas frequentam a escola.
Agora, o temor de jovens como Shamsea é que as negociações de paz entre o governo do país e o Talibã, consequência de acordo anterior firmado com os Estados Unidos, retrocedam as conquistas femininas no Afeganistão, vez que, até o momento, os negociadores que representam o movimento não deixaram claro seu exato posicionamento sobre a educação de mulheres. “Espero que ninguém mais morra no Afeganistão”, disse a jovem.
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