Paris O analista político Stéphane Sirot, autor de A greve na França, livro que traça um perfil de dois séculos de movimentos grevistas no país, afirma que o grande perigo para o governo do presidente Nicolas Sarkozy não vem dos sindicatos, mas sim dos estudantes. Segundo ele, os sindicatos, que paralisaram o país semana passada, numa greve de transportes em protesto contra a reforma do sistema de aposentadorias, sabem que não têm fôlego para manter o movimento por muito tempo. Já o protesto dos estudantes está ganhando força: historicamente, afirma Sirot, foram eles que mais fizeram governos recuarem na história da França.
Qual a diferença entre esta greve e a grande greve de 1995, que derrubou os planos de reforma do então presidente Jacques Chirac?Metade dos grevistas de 1995 está hoje aposentada. Uma nova leva, mais jovem, integra o atual movimento. Em 1995, a maior parte dos sindicatos, inclusive a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), queria rejeitar o projeto proposto à época por Alain Juppé (então primeiro-ministro da França). Não queriam negociar, mas sim anular as reformas. A greve não parou até a anulação. Mas hoje os sindicatos estão prontos e até pedem para negociar. Isso é novo.
Até porque Sarkozy anunciou que faria esta reforma antes mesmo se se eleger...Exatamente. Sarkozy dá a impressão, com esta reforma, de estar respeitando os compromissos de campanha, que tiveram apoio da maioria dos franceses. Já em 1995, Jacques Chirac foi totalmente no sentido inverso ao dos compromissos de sua campanha. A opinião pública apoiou a greve de 1995. Hoje (os grevistas) não contam com o mesmo apoio da opinião pública. Sarkozy está numa posição mais forte do que Chirac.
Mesmo menos numerosos, os grevistas continuam determinados. O governo não abre mão da reforma. E se a queda-de-braço entre os dois persistir?O governo não parece pronto a fazer concessões. O ministro do Trabalho quer o fim da greve antes de começar as negociações. Isso mostra uma posição dura do governo, porque freqüentemente se começa uma negociação antes de a greve acabar. Eles apostam na falta de fôlego do movimento, o que é possível e provável. O número de grevistas tende a diminuir. Os sindicatos não têm o mesmo impacto sobre suas bases que tinham em 1995, quando havia mais sindicalizados do que hoje. Será difícil para os grevistas combater a opinião pública, o governo e a direção sindical, que não quer um conflito que se arraste por muito tempo.
Muito por causa da opinião pública?É difícil para os sindicatos ir contra a opinião pública. Muitos simpatizantes dos sindicatos votaram por candidatos do centro ou da direita. Esta é outra constatação: os sindicalistas e seus simpatizantes são cada vez menos de esquerda.
Vários governantes cederam com a pressão das ruas. Sarkozy, com longo caminho de reformas pela frente, pode resistir?O principal perigo para ele é que os vários movimentos que se mobilizam hoje se unam num grande movimento social. Além da greve dos transportes, a greve dos estudantes está se desenvolvendo com força. E esta semana há um dia de mobilização dos funcionários públicos. O risco de que se unam não está descartado. Todo mundo, políticos e direção sindical, inclusive a CGT, quer evitar isso. O risco hoje para o presidente é um eventual crescimento da contestação dos estudantes. Ao longo dos anos, a única contestação na França bem sucedida foi a dos estudantes. Foi o medo da reação dos jovens que fez governos recuarem. É o grande perigo.
Por que há tanta greve na França?Há algumas décadas que o número de greves na França é inferior ao da média européia. Temos a impressão de que na França há mais greve porque ela atinge setores que paralisam o país. Outra particularidade da França é sua capacidade de desenvolver grandes movimentos sociais em intervalos regulares, ondas de greve, como os movimentos de 1968, 2003, ou de 2005.
Os sindicatos na França são fracos?São muito fracos hoje. A taxa de sindicalização é hoje de 7% (5% no setor privado). Eles não conseguem mais recrutar.