Uma droga barata promete reduzir mortes causadas pela Covid-19, anunciaram pesquisadores da Universidade de Oxford nesta terça-feira (16). Um grande estudo realizado com o esteroide dexametasona mostrou que baixas doses do medicamento melhoraram as chances de sobrevivência dos pacientes mais graves em um terço. A notícia foi comemorada, mas especialistas alertaram que nem todos os dados da pesquisa foram disponibilizados e que ela não passou pelo processo de revisão por pares.
A dexametasona é uma droga bastante conhecida, usada no tratamento de doenças que apresentam processos inflamatórios, como artrite reumatoide, asma e alguns tipos de câncer. Os cientistas britânicos afirmaram que se ela tivesse sido usada no tratamento de pacientes graves desde o início da pandemia no Reino Unido, até 5 mil vidas poderiam ter sido salvas. No país, mais de 41,8 mil pessoas morreram por causa da doença.
O estudo foi feito com mais de 2 mil pacientes que receberam seis miligramas do medicamento, uma vez por dia. O grupo foi comparado a outro, com 4.300 pacientes que não tomaram a droga e receberam os cuidados de praxe. Os pesquisadores constataram que a o risco de morte entre pacientes que estavam respirando com auxílio de ventiladores caiu de 40% para 28% - uma redução de 35%. Para os pacientes que estavam recebendo oxigênio, o risco de morte caiu de 25% para 20%. A medicação não teve efeito sobre pacientes com quadro mais leve de Covid-19, que não precisaram de oxigênio.
Peter Horby, um dos líderes do estudo, comemorou os resultados. "Este é o único medicamento até agora demonstrado que reduz a mortalidade - e a reduz significativamente. É um grande avanço", disse. Outro líder da pesquisa, Martin Landray, disse que o custo do tratamento é de 5 libras por paciente, cerca de R$ 30.
Especialistas que não participaram da pesquisa também se mostraram otimistas. Patrick Vallance, principal consultor científico do governo do Reino Unido, afirmou em nota que os resultados são "um desenvolvimento inovador em nossa luta contra a doença". Scott Gottlieb, ex-comissário da agência FDA dos EUA (equivalente à Anvisa no Brasil), disse em entrevista à CNBC que esta é "uma descoberta muito positiva" e que pode ter um "impacto imediato" na luta em como os médicos tratam os casos mais severos da Covid-19. "Acho que precisa ser validado, mas certamente sugere que isso pode ser benéfico nesse cenário".
Outros, porém, se mostraram cautelosos pelo fato de ser um estudo preliminar. "Será uma ótima notícia se a dexametasona, um esteroide barato, realmente reduzir as mortes em 1/3 em pacientes graves de Covid-19, mas depois de todas as retrações e retrocessos, é inaceitável divulgar os resultados do estudo por meio do comunicado de imprensa sem liberar o artigo", tuitou o médico e pesquisador Atul Gawande.