Retomando uma das questões mais polêmicas do debate sobre o aborto, uma equipe de médicos concluiu que os fetos provavelmente não sentem dor durante os primeiros seis meses de gestação e, por isso, não precisam ser anestesiados durante o aborto. O estudo deles, que foi publicado nesta quarta-feira na revista "Associação Médica Americana", foi baseado na revisão de centenas de estudos científicos e diz que há poucas chances das conexões nervosas do cérebro terem se desenvolvido o suficiente para que o feto sinta dor antes das 29 semanas de gestação.
A descoberta representa um desafio para as leis estaduais e federais que compelem os médicos a dizer às mulheres que fazer aborto com 20 semanas ou mais de gestação causa dor no feto.
Os especialistas oferecem então uma anestesia para o bebê.Cerca de 1,3 milhões de abortos são realizados por ano nos Estados Unidos. Deste total, 1,4% ocorre com 21 semanas ou depois.
Leis que exigem que as mulheres sejam advertidas sobre a dor fetal foram apresentadas à Câmara dos Representantes e ao Senado e em 19 estados, e recentemente foi aprovada na Geórgia, Arkansas e Minnesota. As leis são apoiadas por vários grupos contra o aborto. Mas os defensores do direito ao aborto dizem que a real intenção da lei é desencorajar as mulheres a passar pelo procedimento. Ainda é muito cedo para saber qual será o efeito provocado pelas leis nas clínicas de aborto.
A descoberta foi considerada persuasiva por muitos cientistas, mas é pouco provável que cause controvérsia. A maioria dos cientistas concorda que os fetos provavelmente não sentem dor durante o primeiro trimestre de gestação, mas ainda há discordância sobre quando, no fim da gestação, o cérebro fetal está suficiente desenvolvido para que a dor seja registrada.
Alguns especialistas acreditam que, com o atual nível de conhecimento, é impossível saber ao certo. Na Grã-Bretanha, o Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas disse que os fetos provavelmente não sentem dor antes da 26ª semana de gestação, situada no terceiro trimestre.