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Veados-mula são pegos no Wyoming com a ajuda de um helicóptero, passam por exames, acima, e são liberados graças a um esforço para rastrear e proteger a rota migratória | fotografias de michael kirby smith para The New York Times
Veados-mula são pegos no Wyoming com a ajuda de um helicóptero, passam por exames, acima, e são liberados graças a um esforço para rastrear e proteger a rota migratória| Foto: fotografias de michael kirby smith para The New York Times

DESERTO VERMELHO, Wyoming — Os cientistas e voluntários aguardam na beira da estrada de cascalho enquanto um helicóptero trazendo dois veados de olhos vendados, em sacas, se aproxima. Para por um momento, os rotores cuspindo neve, para que a carga delicada seja retirada.

Membros da equipe levam os animais em macas de lona para outro local, onde serão pesados e passarão por exames. De cada um coletam sangue, retiram amostras de pelo, checam a coleira com GPS ou colocam uma nova, medem a temperatura e recolhem amostras de fezes, fazem ultrassom na região dos quadris, aplicam anestesia na boca e lhe arrancam um dente.

Dez minutos depois, é liberado e sai a galope.

Com isso, os cientistas fazem um acompanhamento da saúde do bicho e rastreiam seus movimentos baixando os dados de suas coleiras como parte de uma iniciativa para acompanhar seus movimentos e preservar sua rota migratória. Recentemente descobriram o caminho que tomam, tão longo quanto qualquer via terrestre conhecida em 48 estados norte-americanos, uma jornada de 240 km feita duas vezes por ano que motivou vários grupos a protegê-la do desenvolvimento.

As migrações sazonais por alimento são essenciais à sobrevivência de muitos animais: os bandos do Serengeti saem em busca de chuva; no oeste norte-americano, alces, veados, antílopes e outros animais de grande porte se mudam para as encostas das montanhas na primavera e verão e aguardam o inverno em elevações menores e mais quentes.

"A migração é o mecanismo básico que permite à área receber e manter as populações de veados", explica Hall Sawyer, biólogo da firma de consultoria Western EcoSystems Technology, que descobriu a rota.

Uma vez que as casas e estradas, cercas e poços de petróleo, rotas para picapes e veículos de neve podem representar obstáculos para os animais, há muitos os conservacionistas sabem que cuidar das rotas de migração é essencial para a preservação das espécies selvagens. Cerca de 500 veados viajam do reduto invernal no Deserto Vermelho para a base de primavera/verão na bacia do rio Hoback, perto de Jackson, no Wyoming. Cerca de cinco mil espécimes usam parte dessa trilha.

A iniciativa começou em 2011. Funcionário da Agência de Gerenciamento de Terras dos EUA, o Dr. Sawyer colocou coleiras com GPS em 40 animais no Deserto Vermelho. Ninguém sabe o que eles fazem na primavera e no verão, embora uma parte seja vista ali o ano todo. A maioria dos veados-mula migra, mas alguns permanecem por motivos ainda não bem compreendidos.

Capturar e pôr as coleiras parece mais um verdadeiro rodeio.

Os neozelandeses desenvolveram uma técnica para jogar as redes do helicóptero: o piloto isola o animal, voando baixo o bastante para o atirador lançar a rede que o envolverá. A seguir desce a aeronave para que o membro da equipe possa pular no chão, correr até onde está o bicho, rendê-lo em uma posição em que pode ter os olhos vendados e envolvê-lo na saca. O helicóptero então volta para que o voluntário prenda o acessório à parte externa antes de pular a bordo.

O processo é estressante para o veado. Kevin Monteith, biólogo de vida selvagem que trabalha com o Dr. Sawyer, conta que de um a três por cento dos animais morrem ou se ferem e têm que ser sacrificados. Uma vez que ganha a coleira, os pesquisadores o liberam e o recapturam a cada primavera e outono para baixar as informações ali contidas, que atualizam a localização do veado a cada três horas.

"Esses dados criam oportunidades para se fazer coisas que antes não eram possíveis", afirma Steve Sharkey, diretor da Knobloch Family Foundation, que apoia a pesquisa.

Todos os exames fornecem dados importantes: os dentes, para definir a idade; os pelos são a chave para o DNA; sangue e fezes revelam detalhes sobre a dieta e o metabolismo, e o ultrassom informa as porcentagens de gordura corporal. As migrações no Oeste seguem o que os biólogos chamam de "onda verde" na primavera – a florada da vegetação que começa em elevações baixas e vai subindo a cada dia. O veado que tiver melhores condições pode "surfá-la" melhor, usufruindo da vegetação da área no auge do frescor e das benesses nutricionais.

Quando os cientistas publicaram a rota Deserto Vermelho-a-Hoback, listaram também os dez maiores desafios que os animais enfrentam. Vários grupos de conservação do Wyoming então se reuniram para anular a maior ameaça à rota, ou seja, um estreitamento perto do Lago Fremont. O Fundo de Conservação está em meio ao processo de aquisição da área por cerca de US$2 milhões, para protegê-la das construtoras. A Fundação Knobloch colabora com metade do valor.

Os dados mais precisos fornecidos pela nova tecnologia e pelos veados estão facilitando as ações políticas e regulatórias, principalmente porque definem o terreno crucial para a preservação da rota.

"Não é nem a vastidão da área; ela é comparativamente pequena, mas extremamente importante", diz Peter Aengst, diretor da seção do Norte das Rochosas da Wilderness Society.

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