Ouça este conteúdo
Enquanto o mundo ainda batalha para controlar os contágios de coronavírus quase dois anos depois do início da pandemia, um estudo indica que pode ser possível para as sociedades manter um número baixo de casos de Covid-19 e níveis controlados no longo prazo com o uso estratégico de testes diagnósticos, rastreamento de contatos e políticas para isolar os infectados.
Essas estratégias compensariam parcialmente os eventos de disseminação local do vírus, e apenas restrições moderadas seriam necessárias, propõem os autores. Nesse equilíbrio, os novos casos diários seriam estabilizados em cerca de dez infecções por milhão de pessoas ou menos.
Para referência, no Brasil, a média móvel de novos casos em sete dias registrada na quinta-feira passada foi de 71 casos por milhão de habitantes. Na mesma semana, o país teve média móvel de de 438 mortes por dia, a mais baixa em 11 meses.
A pesquisa usou modelagem matemática para simular os resultados de longo prazo dos números de Covid-19 com base em diferentes parâmetros. O estudo foi conduzido por uma equipe de pesquisadores do Instituto Max Planck para Dinâmicas e Auto-organização (Alemanha) e publicado no periódico Science Advances na sexta-feira (8).
A estabilidade do número de infecções pode ser prejudicada, no entanto, se as restrições forem reduzidas ou se os casos aumentarem muito. Quando as medidas de mitigação são insuficientes, os contágios podem ultrapassar o limite da capacidade local de testar, rastrear e isolar. Quando isso acontece, as autoridades de saúde não conseguem mais rastrear contatos e descobrir cadeias de infecção de forma eficiente, e portanto controlar a disseminação do vírus se torna mais difícil.
Nesse caso, os pesquisadores concluíram que um lockdown de quatro semanas pode restabelecer o controle do vírus, sem a necessidade de lockdowns repetidos.
“Em nosso cenário, um lockdown com duração de quatro semanas é suficiente para alcançar o regime estável. No entanto, se ele for suspenso muito cedo (antes de se completarem as quatro semanas), o número de casos vai subir novamente logo em seguida”.
A pesquisa indica ainda que lockdowns repetidos não são necessários para manter o controle sobre a disseminação do coronavírus se uma redução moderada dos contatos entre as pessoas for mantida enquanto os números estão dentro da capacidade de teste, rastreio e isolamento.
Os autores defendem que essa estratégia de controle, que tem o objetivo de manter os números da Covid-19 abaixo do limite da capacidade de teste, rastreio e isolamento, é melhor do que a estratégia que foca em manter os números abaixo do limite da capacidade de atendimento hospitalar. Segundo eles, o modelo que eles propõem exigiria menos restrições de contato (no longo prazo), teria uma duração menor de lockdown e custaria menos vidas.
Além disso, a estratégia de longo prazo para manter os níveis da Covid-19 baixos, sem impor tantas restrições ao contato entre as pessoas, traria benefícios para a saúde pública, bem-estar psicológico e a economia, afirmam os autores.
“Essa estratégia reduz os casos (e fatalidades) cumulativos quatro vezes mais do que as estratégias que apenas evitam colapso hospitalar. A longo prazo, a imunização, os testes em grande escala e a coordenação internacional facilitarão ainda mais o controle”, diz o artigo.
A pesquisa foi concluída em dezembro de 2020, quando as campanhas de vacinação contra o coronavírus pelo mundo estavam ainda no início. Os pesquisadores dizem que a estratégia proposta é independente da disponibilidade de vacinas ou de uma cura. Ainda assim, segundo eles, as campanhas de vacinação devem facilitar o sucesso dessa estratégia para conter novas ondas de contágio.
Modelo
Para explorar as estratégias de longo prazo que as sociedades podem usar para manter as infecções por coronavírus em níveis baixos, os pesquisadores modelaram a disseminação do vírus em diferentes cenários. Ele usaram um modelo epidêmico chamado SEIR que divide a população em quatro compartimentos: suscetíveis, expostos, infecciosos e recuperados.
O modelo levou em conta tanto os indivíduos infectados que entraram em quarentena quanto os que não se isolaram, e seguiu uma estrutura em que os indivíduos com sintomas têm preferência para se testar, os seus contatos próximos também são testados, e uma triagem aleatória de assintomáticos é feita na população em geral.
Quando os pesquisadores simularam cenários de vacinação para a União Europeia, eles descobriram que o declínio no número de casos da doença pode ser atingido com várias semanas de antecedência se os novos casos diários forem mantidos abaixo do limite da capacidade de teste, rastreamento e isolamento.
Teste – Rastreamento – Isolamento
Na estratégia proposta, as pessoas são testadas – e entram em quarentena se o teste for positivo – por meio de três mecanismos: primeiro, pessoas com sintomas de Covid-19 relatariam seu caso ou seriam identificadas por meio de vigilância, tendo preferência para um teste.
Em segundo lugar, seriam feitos testes aleatórios em pessoas assintomáticas na população em geral. Em terceiro, todos os contatos próximos das pessoas que testarem positivo nesses dois mecanismos também seriam testadas.
O rastreamento de contatos de pessoas que tiveram teste positivo para coronavírus tem o objetivo de quebrar a cadeia de transmissão, porque as pessoas eventualmente infectadas podem rapidamente começar o auto-isolamento.
Nos países em que o rastreamento de contatos é feito, equipes de saúde entram em contato com os indivíduos diagnosticados com Covid-19 e fazem perguntas sobre os locais onde a pessoa esteve e com quem ela teve contato. Em seguida, as equipes ligam para esses contatos para orientá-los sobre sintomas da doença, onde fazer um teste e outras medidas para evitar a transmissão do vírus.
Testes rápidos para o combate à pandemia
Vários países apostam na ampla diponibilidade de testes diagnósticos e usam sistemas de rastreamento de contatos dos infectados para controlar os contágios pelo Sars-CoV-2.
Testes rápidos de antígeno ajudaram a reduzir a disseminação do coronavírus pela Europa. Reino Unido, França e Alemanha são alguns dos países onde esses testes são facilmente encontrados, em muitos casos, de forma gratuita.
Na Alemanha, desde março deste ano, testes rápidos estavam disponíveis para a população gratuitamente, financiados por dinheiro dos contribuintes. As pessoas que não estão vacinadas podiam encontrar os testes em diversos pontos das cidades para usá-los como comprovação de que não estão com a doença e assim acessar diversos estabelecimentos, como cinemas, academias, escolas, eventos culturais e áreas internas de restaurantes.
Porém, a partir desta segunda-feira (11), a maioria dos alemães terá que pagar pelos testes. A decisão, do governo alemão e dos governos dos 16 estados do país, tem o objetivo de incentivar a vacinação. Os testes rápidos ainda serão gratuitos para crianças com menos de 12 anos, que ainda não podem receber a vacina, e para pessoas que não podem ser vacinadas por motivos médicos. Testes do tipo PCR, quando solicitados por médicos, permanecerão gratuitos a todos.